Estar na internet

É difícil encarar a passagem de um novo ano sem ter aqueles pensamentos de renovação, sem analisar o ano que passou. Sei lá, me parece um costume daqueles que a gente não consegue mais largar. Você também se sente assim? Em 2023 pensei muito sobre minha relação com o blog e como quero que ele seja daqui em diante.

Estar na internet

O blog é um portal muito especial pra mim. Através dele conheci pessoas maravilhosas, outras nem tanto, mas pude trabalhar e interagir com gente incrível, pessoas que fazem mais parte da minha vida do que colegas de faculdade, com quem perdi todo o contato, mesmo tentando manter. Aqui eu posso falar dos assuntos que gosto sem que me vejam como a colega esquisita do rolê, sem que riam da minha cara, como tantas vezes aconteceu. Aqui é um espaço seguro e prezo pela segurança de quem lê também, impedindo comentários de ódio e paraquedistas nas postagens.

Gostaria muito de poder fazer mais pelo blog, mas faço o que posso. O apoio que recebo dos leitores serve pra manter ele funcionando, ainda que as luzes pisquem de vez em quando. E não quero deixar o espaço parado, mas ano passado passei dias afastada devido ao cansaço, principalmente mental. A dor crônica é extremamente debilitante e mesmo trabalhando ao lado de casa, ela me deixa tão esgotada que mal conseguia ligar o computador e pensar em alguma coisa para escrever por aqui. Aí eu ficava frustrada, pensando que péssima blogueira sou eu por deixar o espaço parado.

Ao mesmo tempo que eu gostaria de ter uma audiência maior, também tenho uma imensa preguiça de ir atrás disso. Não tenho condições de ficar fazendo vídeos para YouTube ou TikTok, não tenho tempo de editar, colocar efeitos, fazer pauta ou aprender a fazer essas coisas. Não quero seguir os dez passos do influencer para conseguir 1 milhão de views, mas quero ser notada, quero ser lida, quero interagir com as pessoas. Este post aqui da Rê Vitrola é precisamente sobre isso e concordo demais com as palavras.

Já fui criticada por simplesmente entregar um conteúdo cru, do jeito que dava pra fazer, pois minha forma relapsa não alcançaria muitos seguidores. Eu só queria compartilhar algo sem artimanhas influencer e descobri que hoje em dia, isso é inaceitável. E eu entendo.

Rê Vitrola

Jogando a real, o blog é minha principal forma de interação com as pessoas hoje em dia. Em 2023, por exemplo, não vi ninguém, não saí com ninguém, nem fui pra lugar nenhum. Casa-trabalho, trabalho-casa. E juntando isso com o período da pandemia, essa situação se arrasta desde 2020. Ler meus livros, ouvir músicas, ver minhas séries favoritas, foram o que me mantiveram de pé no último ano. E o blog. Aqui eu me sinto bem, me sinto no controle, mesmo sendo muito solitário algumas vezes. E eu entendo que as pessoas também estão cansadas, mas fico triste com a falta de comentários, de interação, de gente mandando aquele alô.

Quando comecei na internet, o mundo virtual era um ponto de encontro, onde encontrávamos nossa tribo e podíamos curtir nossos gostos em paz e sem encheção de saco em casa. Hoje o mundo real não compartilhado nas redes se tornou um lugar mais seguro e sem o ruído dos algoritmos, sem os milhares de influencers gritando na sua cara, querendo interação e monetização em seus canais. As plataformas estão nos consumindo e vão nos engolir se não nos resguardarmos. Acho que é por isso que não abandono esse espaço, porque aqui eu ainda tenho domínio.

Tenho me sentido inadequada e sobrando em lugares que não tem mais espaço para quem só quer compartilhar por simplesmente achar bonito e gosta daquilo, entende?

Julie

Essa frase do texto da Julie (que, aliás, inspirou o título deste texto) conseguiu colocar em palavras muitas coisas que eu estava sentindo. Parece que não há mais espaço para mim e meu blog na internet. Quero escrever naturalmente, sobre coisas que gosto, independente de ser sobre ficção científica ou não, que era o foco desde o início. Não quero mais me restringir, pensando "ahh, isso não cabe no blog", "ahh, isso não engaja", porque há muita coisa boa e bonita para se falar e quero ter esse espaço aqui pra fazer justamente isso, sem ter essa dependência do engajamento.

Viver engajada cansa. Cansa filmar tudo, tirar foto de tudo, documentar cada passo do seu dia. Eu só quero sentar e escrever sobre aquele livro bacana, sobre o filme que eu vi outro dia, sobre os pensamentos que passam pela minha cabeça porque não tenho mais ninguém com quem falar ou interagir que goste das mesmas coisas, a não ser você que está aqui lendo agora. Então se esse trabalho aqui importa pra você, se ainda faz parte do seu dia a dia, só tenho a agradecer por mais este ano e por ainda estar por aqui. E não quero que você vá embora.

Enfim... precisava esvaziar a cabeça, sei que o texto ficou longo. Mas é isso. Mais um ano de vida para o blog, que agora completa 14 anos.

Feliz Ano Novo!

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Você é naturalmente sintética Sybylla, mesmo que você tenha a impressão do texto ter ficado longo. Me identifiquei muito você nesse ponto: "Ao mesmo tempo que eu gostaria de ter uma audiência maior, também tenho uma imensa preguiça de ir atrás disso.". Queria vê mais interação nos comentários, mas tenho tanta preguiça que até o instagram deletei e não sinto falta... ainda gosto do twitter, mas é por conta de minha paixão por kpop... enfim, gosto muito do seu trabalho e faz tempo, que 2024 te traga coisas boas.

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  2. Nossa, Sybylla, me identifiquei tanto com seu texto!
    Tenho me sentido da mesma forma ultimamente. Não quero ser escritora influencer, ter de usar mil e uma plataformas, quero simplesmente escrever porque gosto, assim como você. Me identifiquei também com o comentário da Pandora acima.
    Criei Instagram há alguns anos com a intenção de ajudar a promover o blog, mas assim como você, Pandora e outras pessoas que já vi comentando no Twitter, dá preguiça de ir atrás. Por isso digo, te entendo completamente!
    Espero que essa saturação que a imposição de viver online tenha um lado bom, a volta da procura por textos no lugar de vídeos ostentosos, a procura por coisas mais simples.. sonhar ainda não é proibido, né?
    Desejo um 2024 mais leve, com mais saúde e notícias boas!

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  3. Olá!

    Feliz ano novo!

    Entendo completamente, e essa "depressão da(o) artista moderna" tem assolado muitas pessoas, em áreas diferentes.

    Poderia citar exemplos disso entre músicos, entre escritores, entre artistas gráficos (esses mais atingidos ainda pela Inteligência Artificial).

    O Instagram, Tit Tok e outras redes sociais criaram uma série de regras, privilegiando a produção de conteúdos em massa e rápidos, que tem prejudicado todo mundo que preza pelo detalhe.
    Preferem vídeos de até X segundos, no formado vertical, que tenha rosto humano, que usem a música da moda, priveligiando contas que publiquem todo dia, etc etc etc.

    Nossa sociedade, de modo geral, está adoecendo.

    O seu blog, dentre outros, é, na verdade, uma resistência.
    Eu não consigo acompanhar o lançamento das editoras, e muito menos acompanhar "instabookers" ou "booktubers".
    Uma das minhas primeiras e principais fontes de consulta para compor minhas listas de leitura, é justamente o seu blog.

    Vou até contar uma coisa muito doida.
    Até os dojos, estão esvaziando.
    Menos pessoas buscam fazer artes marciais. Não há mais paciência para o aprendizado lento, sofrido. rsrs

    Qual será o futuro da arte?




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  4. O blog ainda é meu lugar seguro, mesmo que pouquíssimas pessoas me acompanhem. Ele pertence à uma internet fora do tempo dos meus alunos e das pessoas com as quais convivo, então é quase como um diário mesmo. Também posso documentar meu processo criativo nele e sistematizar minhas artes sem a pressão do algoritmo. O blog é meu respiro, mesmo que não poste com frequência, acredito que ele é uma das coisas mais bonitas que já criei e que mais me dão orgulho. Não sei se blogo ainda porque estou envelhecendo, porque sou nostálgica, ou apegada. Mas como o comentário acima, os blogs são espaços de resistência, nos quais é preciso pausar a loucura dos vídeos para ler, contemplar, fruir...

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  5. Eu tenho seu blog como modelo para o meu que é bem mais simples. A sensação de solidão é real. Não suporto essa coisa do algoritmo. Mas é isso, a gente continua, porque gosta. Que 2024 seja generoso com você!! Seu trabalho é lindo, sempre recomendo quando posso.

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  6. Capitã, por algum motivo não reparei que você postou esse texto, me desculpe estar lendo só agora... (a culpa foi minha mesmo, pois esperei você divulgar no twitter. E tá aí, a gente não pode contar com essas redes, tem que ir na fonte, né?)

    E bem, entendo tudo o que você quis dizer, claro, pois estamos nos sentindo igual com relação a nossos blogs. Mas te admiro muito, você ainda escreve bastante e posta por aqui bem mais frequentemente que eu no meu blog. Contudo ainda não desisti dele, não; só criei outro espaço pra escrever - minha newsletter - pois penso que preciso de um outro lugar com vibe um pouco diferente, mas como disse, não vou desistir do meu blog. E espero que você não desista do seu! Mesmo que diminua a frequência em algum momento, continue aqui, pois tem pessoas legais que são entusiastas de blog e escrita, acredito que elas estejam por aqui ainda.

    Te desejo um 2024 mais esperançoso, com mais coisas boas e leveza <3

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