Resenha: Virginia Woolf & Vita Sackville-West: cartas de amor

Antes do email, existia uma coisa chamada carta. Nós redigíamos um texto, muitas vezes a mão, colocávamos em um envelope e mandávamos pelo correio para outra pessoa. Levava dias e a expectativa por receber uma carta nova era imensa. Principalmente quando você se correspondia com seu amor, como é o caso das cartas trocadas por Virginia Woolf e Vita Sackville-West, em uma edição inédita e caprichada pela editora Morro Branco.

Parceria Momentum Saga e Editora Morro Branco

O livro

Quem escreveria as melhores cartas de amor do que duas artíficies das palavras? O trabalho de Virginia Woolf é amado e estudado por leitoras e acadêmicas, mas seu relacionamento íntimo com a colega escritora Vita Sackville-West raramente passa de uma nota de rodapé. No entanto, esta relação foi formativa para ambas as mulheres. Após seu primeiro encontro em um jantar bastante desastroso em 1922, Virginia e Vita trocaram cartas fascinantes, sedutoras e líricas durante toda a Segunda Guerra Mundial até o suicídio de Virginia, quase 20 anos depois. E o que poderia ser mais revelador do que uma carta?

Estou reduzida a uma coisa que deseja Virginia. Elaborei uma linda carta para você nas horas insones de pesadelo da madrugada, e ela se desvaneceu por completo: Apenas sinto sua falta, de um jeito humano e desesperado bastante simples.

Com uma introdução da criadora do ‘Teste de Bechdel’ Alison Bechdel, as Cartas de Amor revelam novas perspectivas sobre a vida e o trabalho de duas mulheres extraordinárias. Ambas eram casadas na época. Virginia com Leonard Woolf, um escritor e reformador social com quem dirigia a Hogarth Printing Press (ele também agia frequentemente como motorista para levar Virginia até a casa de Vita…). O relacionamento de Virginia e Leonard era de muita devoção mútua, embora não, ao que parece, de muita consumação conjugal. Vita foi provavelmente o primeiro relacionamento extraconjugal de Virginia; Vita, por outro lado, teve muitos casos com homens e mulheres, antes, depois e durante seu tempo com Virginia. Seu relacionamento com seu marido, Harold Nicolson, era aberto e ambos tiveram vários casos ao longo da rleação.

Para além de qualquer atração sexual, as duas se admiravam. Havia uma conexão intelectual entre elas. Alison Bechdel na introdução diz que "Virginia ama o corpo de Vita, e Vita ama a mente de Virginia”. Enquanto Vita via em Virginia uma escritora que ela nunca poderia ser, Virginia via em Vita a mulher e mãe que nunca poderia ser. Como se pudessem se complementar, as duas se admiravam e conversavam sobre tudo, trocando cartas que iam desde a simples saudade uma da outra a troca de ideias e opiniões, bem como inspirações para romances e textos.

Há também muita sinceridade nas cartas, qualidade admirável de ambas, como quando Vita comenta sobre uma segunda namorada que tinha na época ou quando fala do marido. São cartas íntimas, cruas, pessoais ao extremo. Vocêm tem a impressão de ter invadido o quarto de qualquer uma delas, encontrado uma gaveta cheia de cartas de onde tira papel após o outro conforme lê seus escritos.

Não sei se fico abatida ou encorajada quando leio as obras de Virginia Woolf. Abatida porque nunca serei capaz de escrever dessa maneira, ou encorajada por uma outra pessoa é capaz?

Também há muita amizade entre elas. Em um mundo que nos ensina sempre a ser rival de outras mulheres, de sempre desconfiar, de odiar o feminino, de desqualificar tudo o que se relaciona ao mundo das mulheres, ver que duas grandes escritoras podiam contar tão abertamente uma com a outra é mais que bem-vindo. Havia dez anos de diferença entre uma e outra, cada uma com suas vidas e demandas próprias, mas nunca deixavam de se comunicar e de se embalar pelas palavras e ideias uma da outra, de maneira a manter a admiração e o respeito. Quantas de nós temos amizades assim nos dias de hoje, em que o contato é imediato através dos smartphones e da internet?

Ambas usavam tanto a máquina de escrever como a escrita a mão e uma variedade de papéis para se corresponder. Mesmo quando Vita viajou pela Pérsia com o marido, naõ deixou de escreer para Virginia, descrevendo tudo o que via e visitava. É uma dinâmica de ternura e a necessidade de ser cuidada que é o verdadeiro cerne da ligação entre Vita e Virginia. Ambas sabem manter uma distância calibrada e calculada quando mais elas se aproximam de um ponto em que a relação se torna física.

Com uma bela tradução de Camila von Holdefer, o projeto gráfico está muito bonito em capa dura e papel pólen natural. Não há problemas de revisão ou diagramação no texto.

Obra e realidade

Quando Vita e Virginia se conheceram no final de 1922, Vita tinha 30 anos e já era uma escritora famosa. Virginia tinha 40 anos e estava apenas começando a ser reconhecida por seus romances e ensaios. Vita era uma aristocrata e socialite, Virginia era uma pobre habitante de Bloomsbury – aquele antro de socialistas, homossexuais, artistas e objetores de consciência. Vita é mais conhecida agora, é claro, por seus amantes e seu jardim do que por seus livros, enquanto Virginia entrou para o cânone. Mas, na época, Virginia ficou emocionada ao saber que Vita já tinha ouvido falar dela. À medida que as duas mulheres progridem de “Sra. Nicolson” e “Sra. Woolf” para “querida” e “querida”, e daí para uma coleção de apelidos e avatares, um dos grandes casos de amor literários se desenrola.

Virginia Woolf foi uma das maiores escritoras modernistas da história, conhecida por sua prosa lírica e seu profundo mergulho na psicologia humana.

Vita Sackville-West, uma aristocrata britânica e poeta, destacou-se por sua personalidade exuberante e seu talento para os versos.

PONTOS POSITIVOS
Cartas
Relacionamento de Virginia e Vita
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS

Acaba rápido!

Título: Virginia Woolf & Vita Sackville-West: cartas de amor
Título original em francês: Le Monde de Sophie - La Philo de Socrate à Galilée - tome 1
Autoras: Jostein Gaarder
Tradutora: Camila von Holdefer
Editora: Morro Branco
Páginas: 320
Ano de lançamento: 2023
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?

Uma edição obrigatória para todo fã de Virginia e Vita. Um compilado de cartas que mostra que as relações entre duas mulheres atravessam eras e podem continuar sempre as mesmas. Há respeito, há delicadeza, mas nem sempre; há amizade e cuidado. São cartas sinceras e fluídas em uma edição imperdível. Cinco aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!

Até mais! 🌹

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