Eu não sabia o que esperar (sem ironia) quando comecei a ler esse quadrinho emocionante sobre um pai e um misto de sentimentos que sentiu quando sua segunda filha nasceu. É um relato sincero, direto e sensível sobre os desafios de pais que se veem diante de uma situação nova e como podem ajudar outros pais em situações semelhantes.
A graphic novel
Toulmé começa sua jornada na periferia de Orleans, na França, nos anos 1980, quando ainda era criança. E uma criança como tantas outras, já com seus preconceitos e comportamentos reprováveis. As cenas mostram as crianças, incluindo o jovem Toulmé, encontrando uma criança com Síndrome de Down em um parque. É possível ver a criança trissômica triste com o tratamento que recebeu de outras crianças sem ter feito nada para receber tanto ódio.Toulmé acabou levando esse preconceito para a vida adulta e quando se tornou pai pela primeira vez, o sentimento aflorou com força. Ele não sabia como poderia amar e cuidar de uma criança com deficiência. A cada novo exame no pré-natal da segunda filha, o medo o assolava. Como sua primeira filha tinha nascido sem qualquer problema de saúde, todo mundo o tranquilizava de que a segunda viria com saúde, que era o que importava.
Casado com uma brasileira, a família retorna para a França e todos os exames apontam para um bebê saudável. Quando Julia nasce, porém, Toulmé percebe alguns traços físicos preocupantes na bebê. A confirmação do diagnóstico de Síndrome de Down caiu como uma bomba sobre sua cabeça. Toulmé entra em uma espiral de pensamentos negativos, lágrimas e um sentimento de derrota, pois acredita que nunca poderá amar uma bebê trissômica.
Incapaz de criar um laço com a filha, ele não lhe dá banho, não dá de mamar, não pega no colo, não brinca... Fica tudo nas mãos da esposa. Como contar para a irmã mais velha de Julia sobre as características da bebê? Tudo isso tira o sono de Toulmé. Ele fica surpreso ao ver que sua filha, uma criança, tão mais nova que ele, não tem preconceitos nem enxerga nada de diferente na irmã. Então como que ele, um adulto, ainda não conseguira superar os preconceitos?
Com muito didatismo, Toulmé abre o coração para mostrar que a mudança sempre é possível. Com lindas ilustrações coloridas, podemos até ficar com raiva dele no começo, mas é também uma ferramenta útil para avaliar os preconceitos que existem em cada um de nós. É fácil dizer que você jamais faria isso, é fácil dizer que nunca agiria assim, mas nós fomos criadas em uma sociedade excludente, desigual e preconceituosa. O trabalho de desconstruir tanta coisa é árduo e Toulmé mostra nestas páginas que é possível fazer isso, que é possível mudar de pensamento, que é possível aprender. Quem aprende a odiar, aprende a amar também.
Traduzido do francês por Fernando Scheibe, o quadrinho vem em capa comum, impressão colorida e papel branco. Não há problemas de revisão ou de diagramação nele.
Obra e realidade
Quem está esperando um bebê com certeza já disse: "o que importa é que venha com saúde", mas deve ter passado na cabeça de poucos o que eles realmente fariam se seu bebê viesse com alguma deficiência ou algum problema sério de saúde. Durante os casos de Zika vimos muitas mulheres sendo abandonadas por seus maridos, deixadas à própria sorte para cuidar de bebês como microcefalia. Homens que culpavam suas companheiras pela situação das crianças e que ainda se abstinham de ter qualquer contato ou responsabilidade.Toulmé foi brutalmente sincero na esperança de tocar os corações daqueles que, como ele, se viram furiosos com a vida, com o destino, com a própria trissomia. Foi uma maneira de mostrar que eles não estavam sozinhos ao terem tantos sentimentos conflitantes, mas que seria possível amar, cuidar e ser pai de uma criança trissômica. É uma conversa sincera sobre paternidade em um mundo onde tantos homens abrem mão dela.
Fabien Toulmé é um engenheiro e cartunista francês.
PONTOS POSITIVOS
Lindamente ilustrado
Família Toulmé
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS
Acaba rápido!
Lindamente ilustrado
Família Toulmé
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS
Acaba rápido!
Avaliação do MS?
Foi uma leitura gostosa, didática, daqueles que aquecem o coração. Toulmé abriu o coração de marido, de pai, para mostrar que uma jornada de amor é possível para quem está disposto a aprender. Cinco aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!Até mais! 🩵
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