Resenha: Sombras do Sol, de N.K. Jemisin

Já falei o quanto adoro a escrita de N. K. Jemisin, né? Pois bem! A Morro Branco, que nunca decepciona, trouxe a finalização da duologia Dreamblood este ano. Retornaremos a este universo após os eventos alucinantes do primeiro livro, querendo saber o que mudou e o que este mundo pode nos trazer de novo.

Esta resenha pode conter alguns spoilers do livro anterior!

Parceria Momentum Saga e Editora Morro Branco

O livro
Sombras do Sol se passa 10 anos após os eventos do final de Lua de Sangue. A grande cidade-estado de Gujaareh caiu sob o domínio do protetorado Kisuati e agora conhece a opressão e a miséria. O templo Hetawa, coração religioso de Gujaareh, expurgou os corruptos de suas fileiras e ainda detém algum poder, mas a perda do Príncipe de Gujaareh deixou um vácuo de liderança. A revolta está fermentando não só entre o povo, mas também a partir de cima, e os sacerdotes do templo Hetawa estão prontos para derrubar o novo governo, desde que o façam em nome da paz definitiva.

Resenha: Sombras do Sol, de N.K. Jemisin

- Talvez nunca possamos eliminar a corrupção de dentro de nós mesmos, não completamente. Mas é importante continuarmos tentando.

É então que chega a notícia de que Wanahomen, o filho do Príncipe caído, não apenas está vivo, mas também reunindo aliados para retomar sua cidade. Os Hetawa estão mais do que prontos para negociar os termos de sua revolução. No entanto, o Príncipe odiava os Hetawa desde que os Coletores mataram seu pai e então o Coletor Nijiri envia Hanani, sacerdotisa da Deusa dos Sonhos, uma Compartilhadora poderosa com o dom de cura, para se tornar sua refém até que a cidade seja tomada. Peraí que tem mais!

Se antes a cidade de Gujaareh era uma grande utopia dos sonhos (ou ao menos pretendia se passar por uma), sob o domínio Kisuati ela se tornou um interminável pesadelo. Pesadelos parecem estar tomando a mente daqueles que deveriam domá-los, pois uma estranha doença dos sonhos está se espalhando entre os Coletores e ninguém parece saber como parar esse mal. Uma guerra civil parece um cenário inevitável agora.

Tão rico e detalhado quanto o livro anterior, ele flui suavemente de múltiplas introduções por meio de um enredo que é denso e complexo, mas nunca parece emaranhado, até uma conclusão satisfatória que caminha na linha entre felizes para sempre e a realidade brutal, sem comprometer personagens ou enredo. Mas advirto que ele demora a engatar, tal como o primeiro. Como estamos dez anos longe dos eventos de Lua de Sangue, a autora precisou recomeçar a história, trabalhando personagens e cenários novos e precisou levar um tempo até isso acontecer.

As formas como os eventos do primeiro livro afetam os eventos do segundo são variadas e frequentemente inesperadas. A maneira como o passado de fato se apresenta no mundo real e como os personagens aqui navegam nessas águas traiçoeiras conseguem criar cenas e passagens surpreendentes, onde você se vê na expectativa, ansiosa por virar as páginas. E assim como em seus livros anteriores, a jornada dos personagens sempre se destaca aqui. Você consegue amar e odiar um personagem com a mesma intensidade, tamanha a força da construção de Jemisin.

Interessante apontar que, apesar de ser uma duologia, você pode ler os livros de maneira independente, porque eles se sustentam. Porém, pra quem gosta de eventos mais longos, melhor explicados, para quem gosta de descobrir particularidades do enredo, vai gostar de ler o primeiro também, até porque é ótimo. O livro discute e subverte muitas coisas que vimos no primeiro livro, como a questão dos papéis de gênero, mas também vai trazer cenas de abuso e torturas, escritos com muito cuidado pela autora, mas fica aí o aviso caso você decida ler este livro.

O livro está muito bonito, mais uma vez, com um excelente trabalho gráfico da Morro Branco. A tradução de Aline Storto Pereira está ótima e não encontrei problemas de revisão e/ou diagramação. Mais uma vez senti falta de um mapa.

Obra e realidade
Este é um daqueles livros que revela a ambivalência de seus sistemas e organizações. Se Guajareeh era considerada pacífica, praticamente perfeita, protetorado Kisuati agora conhece a opressão e a miséria, subvertendo as premissas iniciais da autora e nos forçando a enxergar aquilo que ficava oculto sob o mando da utopia do primeiro livro.

A autora subverte as convenções mais uma vez ao colocar as mulheres em um papel de maior importância nesse livro. Hanani, por exemplo, tem um crescimento complexo e surpreendente. Seu arco aborda temas de identidade feminina, de poder, de pertencimento, de família, de formas de adoração e formas de sobreviver e lidar com traumas.

N.K. Jemisin

N.K. Jemisin mora no Brooklyn, é psicóloga e conselheira educacional de formação e hoje é escritora em tempo integral. Foi resenhista do The New York Times por três anos e é também autora da Trilogia da Terra Partida, pela Morro Branco e a Trilogia Legado, lançada no Brasil pela Galera Record. Mora com seu gato, Ozzy.

PONTOS POSITIVOS
Bem escrito
Hanani
Discussão sobre política e corrupção
PONTOS NEGATIVOS
Não tem mapa
Começa devagar

Título: Sombras do Sol
Título original em inglês: The Shadowed Sun
Série Dreamblood
1. Lua de sangue
2. Sombras do Sol
Autora: N.K. Jemisin
Tradutora: Aline Storto Pereira
Editora: Morro Branco
Páginas: 512
Ano de lançamento: 2023
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Se você procura uma obra de fantasia inovadora, baseada no Antigo Egito, com personagens complexos e um enredo com reviravoltas, então encontrou! Se o começo parecer difícil e meio embolado, não desista, pois seu enredo supera essa dificuldade inicial e muito. Personagens perfeitamente irritantes e imperfeitos, muita discussão sobre desigualdades e corrupção em um livro imperdível. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais! 🌙

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