Resenha: Codinome Verity, de Elizabeth Wein

Codinome Verity ganhou uma nova edição no Brasil pela caprichosa editora Morro Branco. O enredo se passa na Segunda Guerra Mundial, mas não é uma história sobre a guerra. É uma história de amizade, companheirismo e, principalmente, luta pela sobrevivência quando não existem esperanças para isso. Eleito um dos 100 melhores livros de todos os tempos pela Time, Codinome Verity é uma leitura difícil e ao mesmo tempo impossível de se parar.

O livro
No auge da Segunda Guerra, um avião espião britânico caiu na França ocupada pelos nazistas. Dentro dele estão duas grandes amigas, a pilota e a passageira. A narrativa é contada primeiro pela passageira, seguindo da versão dos eventos da pilota. Enquanto uma delas tem chances de sobreviver ao caos causado pelo conflito, a outra está certa de que perdeu o jogo e que não tem muito tempo.

Resenha: Codinome Verity, de Elizabeth Wein

Verity é o codinome da espiã, capturada e torturada cruelmente pelos nazistas. Não temos descrições das cenas, mas os relatos de Verity já nos dão uma boa ideia do quanto os nazistas eram cruéis com os inimigos. São relatos bem emocionantes, porque esta mulher está no limite e assim ela acaba cooperando com os nazistas, de maneira a não mais ser torturada, nem enfrentar uma execução horrenda. O carrasco, Von Linden, da Gestapo, lhe dá então pilhas improvisadas de papéis e ordena que ela conte todos os detalhes de sua missão.

É horrível contar a minha história assim, não é? Como se não soubéssemos o fim? Como se pudesse haver outro fim.

Nestes papéis, Verity decide contar não apenas fatos de sua missão, mas também sobre sua vida. Fala com orgulho de suas origens escocesas (e de como se sente uma covarde, alguém que não honra seu passado heroico como descendente de William Wallace) e de como conheceu sua melhor amiga, a pilota Maddie. Misturando detalhes de sua família com lembranças de seus tempos antes da guerra, Verity parece envergonhada, lutando com as palavras, mas também admite que está enrolando o máximo que pode, afinal, assim que ela acabar de confessar, não há mais motivos para ser mantida viva.

Tenho que admitir que o livro não me fisgou logo de cara. Achei o começo um tanto confuso, mas acreditava que a autora desenrolaria mais perto do final. A maneira caótica de Verity contar sua história me incomodou em vários momentos, mas também entendo que o recurso foi usado desta forma por ela ser uma prisioneira, uma espiã torturada que tenta ao máximo estender seu relato e sua vida. É até natural imaginar que a maneira de narrar seja diferente. Verity não é nenhuma escritora, ela não tem que se ater a uma estrutura narrativa. Apenas tem que contar sua história e fornecer informações sobre sua missão.

Essa estrutura segue até mais ou menos metade do livro. Ia lendo e pensando "onde que isso vai dar?" porque Verity narra eventos, descreve pessoas e situações ao mesmo tempo em que tira sarro de seus algozes, canta e declama poemas. A autora faz várias referências ao longo do texto que precisaram de notas de rodapé constantemente, coisas típicas da Escócia como canções e autores. O relato de Verity é como uma colagem, um copia e cola de eventos que ela não quer esquecer. Mas ela também tem plena consciência que, mesmo após entregar seus segredos, não há esperanças de voltar para casa.

A primeira metade do livro deu uma cansada, porém eu queria tanto saber o que aconteceria com Verity que persisti e foi a melhor coisa que fiz. Na segunda metade do livro, temos o relato de Maddie após a queda do avião. Vamos percebendo o quanto o laço de amizade entre as duas é intenso e como estão preocupadas uma com a outra. Maddie e outros membros da missão se pegam pensando o tempo todo em Verity, se ela está bem, se sobreviveu, onde está, mas muitos dias se passam se notícias e Maddie tenta se preparar para o pior.

A partir dessa segunda metade o livro se transforma e começamos a perceber a perspicácia de Verity em seu relato. Se passar disso, entregarei spoilers, mas se você sentir que o livro está demorando a entregar o conteúdo, se prepare para esta segunda metade. A autora revira nossa memória ao voltar para pontos iniciais do enredo e você pega grata e surpresa pelas revelações que acontecem ao longo da leitura.

As personagens são descritas e trabalhadas de maneira tão vívida que temos a impressão de que foram pessoas de verdade, que aquela missão foi verídica, ainda que a pesquisa histórica da autora seja bem precisa em relação a eventos, divisões e operações. Quase conseguia sentir o cheiro do querosene de aviação e o trepidar dos motores. Gostei também de uma nota da própria autora, sobre as licenças que tomou no enredo, além das questões de discussão, ótimas para um clube do livro.

Existe glória e honra em ser escolhida. Mas não há muito espaço para o livre-arbítrio.

Dividi a leitura entre o livro físico e o ebook. O livro está bem diagramado, com uma capa muito bonita e um belo trabalho gráfico interno. Tem algumas questões sobre a revisão, pois há termos que foram traduzidos e outros não. Mas a tradução de Natalie Gerhardt está ótima.

Obra e realidade
Mulheres voando em território inimigo e bombardeando alvos estratégicos na Segunda Guerra Mundial de fato existiram e eram soviéticas. Cerca de 800 mil mulheres serviram como voluntárias (não foram convocadas não!) e algumas pilotaram aviões, ficando conhecidas como As Bruxas da Noite devido a seus voos ousados na escuridão, quando desligavam os motores de seus aviões e mergulhavam rumo aos alvos.

Mas muitas mulheres serviram como partisans, agentes da resistência e espiãs no Reino Unido, na França, ainda que a Wein tenha tomado várias licenças poéticas para criar seu enredo. Por exemplo, o voo de Maddie para a França só teria acontecido na vida real depois da invasão dos aliados na Normandia e não antes.

Elizabeth Wein

Elizabeth Wein é uma escritora norte-americana e pilota recreativa nas horas vagas.

PONTOS POSITIVOS
Maddie e Verity
Força feminina
Amizade e superação
PONTOS NEGATIVOS

Começa devagar


Título: Codinome Verity
Título original em inglês: Code Name Verity
Autora: Elizabeth Wein
Tradutora: Natalie Gerhardt
Editora: Morro Branco
Páginas: 384
Ano de lançamento: 2023
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
A Morro Branco está de parabéns pela curadoria de seus livros. São sempre obras excêntricas, diferentes, pontos fora da curva da maioria das produções do gênero. Ainda que tenha seus problemas, Codinome Verity é um baita livro, que exalta a força feminina, a amizade e o companheirismo em momentos tão desesperados. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!

MUITO BOM!

Até mais! 🛩

Já que você chegou aqui...

Comentários

Form for Contact Page (Do not remove)