Resenha: Daisy Jones & The Six, de Taylor Jenkins Reid

Esse livro ficou parado na minha estante por um bom tempo e nunca surgia uma oportunidade pra ler. Aí quando estreou a série do Amazon Prime, achei que seria um ótimo momento para ler a história da banda de rock mais famosa do mundo!

O livro
Daisy Jones & The Six foi a maior banda de rock do mundo nos anos 1970, mas a formação acabou abruptamente. O livro é uma coleção de entrevistas com ex-membros da banda, empresários, familiares e amigos dos integrantes, na esperança de recompor o clima da época e como a banda se formou. Para quem curte uma estrutura mais convencional de livro, este aqui pode acabar incomodando, já que não é uma narrativa corrida e sim várias entrevistas, com os membros da banda contando sobre suas histórias.

Resenha: Daisy Jones and The Six, de Taylor Jenkins Reid

Inicialmente, temos duas histórias paralelas: primeiro a da formação da banda The Six e a história da vida de Daisy Jones e como ela entrou no mundo da música. Achei até que a história deles começava junto, mas foi bem interessante acompanhar como eles acabam se encontrando. Alguns personagens acabam com maior visibilidade ao longo da leitura. Por exemplo, Billy Dunne, vocalista do The Six, que monopoliza a banda e se torna o responsável pelas letras, pelos arranjos, pela mixagem, o que não agradava a seus colegas de banda.

Os homens parecem achar que merecem um prêmio quando tratam as mulheres como seres humanos.

Daisy também uma personagem com grande presença, afinal é o nome dela no título. De sua infância em uma casa privilegiada, mas sem afeto ao mundo das drogas nos clubes da cidade, Daisy é de longe a personagem com quem menos me conectei ao longo da leitura. Ela é insuportável, mimada, beirando ao ridículo em alguns momentos. Não consegui shipar o casal e ficava pensando no que Reid tinha na cabeça quando fez tal sugestão. Karen é uma personagem muito melhor e teve bem menos tempo nas páginas do que Daisy. Até a melhor amiga de Daisy, a cantora da era disco, Simone, é alguém mais agradável. Porém, acredito que Reid construiu a personagem tão bem que acabou tornando-a alguém que sempre vai levar a emoções intensas; amor ou ódio.

Não vou dizer que a trajetória da Daisy não me tocou em algum momento, porque tocou sim. Quando ela reclama de como o mundo a trata, dos abusos, de como só a viam como um rostinho bonito, como ela reclama de uma indústria engessada que não valoriza o artista. Tem várias críticas vindas de Daisy que são brutalmente atuais e que acabam tocando quem está lendo. Seja nos anos 1970 ou nos dias de hoje, algumas coisas em nada mudaram, então é bem fácil se conectar com ela nesse sentido. Mas Daisy me fez desgostar dela com muita facilidade e esses momentos de empatia acabavam evaporando na próxima burrada que ela fazia na página seguinte.

Mesmo com uma narrativa baseada em entrevistas, Reid conseguiu inserir a gente no mundo do rock, das gravações, das turnês e nas confusões que os artistas armavam com muita habilidade. Esse tipo de estrutura não consegue me agradar, mas aqui o livro me fisgou logo do início. Consegui sentir o clima da banda, as tensões entre os integrantes, principalmente na figura de Eddie, que vivia batendo de frente com Billy por absolutamente qualquer coisa. Billy também é um personagem complexo, cheio de emoções e problemas, mas acabei simpatizando mais com ele e na forma como algumas vezes ele cede e ouve e tenta ceder um pouco o controle para os colegas. Daisy praticamente não fazia isso e ficava batendo cabeça com todo mundo.

Sua vida se define por quem segura sua mão. Ou pela mão de quem você decide segurar.

Há muita droga e bebidas no meio das entrevistas, além de algumas menções a abusos sexuais, então é bom ficar sabendo que elas podem servir de gatilho. Existem passagens muito engraçadas, mas no geral senti que este é um livro de drama (às vezes até demais). Uma história sobre pessoas que tentaram fazer o melhor que podiam e ainda assim conseguiram estragar tudo. É sobre pessoas que poderiam ter tido tudo, inclusive tiveram o gostinho de como era isso, mas sendo complicados como apenas as pessoas são, estragaram tudo. É um livro muito humano nesse sentido.

Dividi a leitura entre livro físico e ebook, principalmente nas noites de calor em que preferia ler no Kindle. A tradução de Alexandre Boide está muito boa e nem livro, nem ebook têm problemas de revisão.

Obra e realidade
Se existe um grande estereótipo relacionado ao mundo do rock é sobre sexo e drogas. Qualquer fã conhece as histórias das bandas que chapavam nos anos 1970 e 1980 sabe das coisas doidas que eles faziam. Aqui neste livro não é diferente. Drogas, grandes cagadas, reabilitação, a sobriedade, tudo isso está também nas entrevistas dadas pelos integrantes da banda. Alguns passaram por poucas e boas e depois lutaram para se manterem nos trilhos.

Uma leitura que podemos fazer sobre Daisy Jones & The Six é sobre dar a volta por cima, de ter alguém acreditando em você, não deixando cair, sempre torcendo pelo seu melhor, mesmo que esteja no seu pior. Mas é bem interessante apontar que quando uma das mulheres do enredo precisou de ajudar, como Daisy e Karen, foi outra mulher que as apoiou e as ajudou. Os homens as abandonaram nessa hora. Gostei muito da maneira como as mulheres se expressam e se apoiam neste livro, mesmo que retratando de maneira fictícia uma banda de rock, um mundo predominantemente masculino.

Taylor Jenkins Reid

Taylor Jenkins Reid é uma escritora norte-americana.

PONTOS POSITIVOS
The Six
Enredo
Glamour vs realidade
PONTOS NEGATIVOS

Estrutura narrativa pode incomodar

Título: Daisy Jones & The Six
Título original em inglês: Daisy Jones & The Six
Autora: Taylor Jenkins Reid
Tradutor: Alexandre Boide
Editora: Paralela
Páginas: 360
Ano de lançamento: 2019
Onde comprar: na Amazon, em capa comum!

Acho que a gente precisa mostrar que tem fé nas pessoas mesmo quando elas não merecem. Caso contrário não seria fé, certo?

Avaliação do MS?
Achei inicialmente que não gostaria da leitura. Mas a forma como a autora constrói o enredo e seus personagens, como os tornou insuportáveis e adoráveis, instigantes e interessantes me segurou até o fim da leitura. Ainda não sei se vou assistir à série tão cedo, mas foi uma leitura muito gostosa. É possível acreditar que estamos de fato lendo sobre uma banda real. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!

MUITO BOM!

Até mais! 🎸

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