Estando eu tomada por uma ressaca literária, resolvi pegar um livro não muito extenso, que tivesse uma viagem espacial e que pudesse me distrair um pouco da fossa. Já estava de olho nesse livro desde o lançamento na gringa, então achei que era uma boa pedida para este momento. Aqui temos uma garota completamente sozinha numa nave rumo a um novo sistema estelar.
O livro
Romy Silvers é uma adolescente e a única sobrevivente à bordo da nave interestelar Infinity. A NASA despachou a nave rumo a Terra II, um planeta habitável, junto de uma tripulação e milhares de embriões congelados. Romy preenche seus dias com leituras, escrita, a rotina de manutenção da nave e os áudios que sua psiquiatra na Terra, Molly, lhe envia. Há um atraso considerável no envio das mensagens, mas a comunicação se estabelece de alguma forma. Ainda assim acho que faltou um cadinho mais de explicação sobre como Romy conseguiu se virar na nave desde a morte dos pais. Isso não é explicado muito bem e por um bom tempo na leitura os capítulos iniciais parecem apenas um prefácio.A Infinity já está tendo seus problemas devido à idade e sua aceleração constante rumo a Terra II. Então Romy volta e meia está consertando alguma coisa ou investigando no banco de dados da nave. A rotina é meio chata e nem teria como não ser, mas para alguém que está completamente sozinha, Romy precisa se agarrar à rotina para não enlouquecer. Nem consigo imaginar como seria viver desta forma, entretanto a autora descreve essa adolescente de 17 anos como uma criança e isso me confundiu por uma boa parte da leitura, pois ela não fala como uma garota de 17 anos. Vou voltar nisso mais pra frente.
As coisas ficam bem apavorantes para Romy quando a comunicação com a Terra para subitamente. Molly diz que uma guerra mundial na Terra está ameaçando o funcionamento das três antenas do espaço profundo que possibilitam a comunicação com ela e que pode demorar para que elas voltem a se comunicar. Se antes Romy se sentia sozinha, como fazer agora, sem essa comunicação com a Terra?
Um pouco antes disso acontecer ela foi informada sobre o envio de uma segunda nave, pouco tempo depois que a Infinity foi lançada. A Eternity era maior, mais moderna e estava lentamente acelerando rumo à Infinity. Logo elas poderiam se comunicar e emparelhar uma com a outra. Quando as comunicações com a Terra cessam, ela começa a receber as mensagens do comandante da Eternity, que se identifica como J. As trocas de mensagens, inicialmente formais de um comandante para outro, logo se tornam pessoais e Romy cai perdidamente por esse sujeito de quem ela nunca nem viu a fuça.
Comentei mais acima sobre o fato de Romy não parecer ter 17 anos. Entendo que essa garota cresceu praticamente sozinha, educada por uma voz no computador. Entendo tudo isso. E justamente por isso eu acredito que Romy deveria soar mais madura. A mim ela pareceu completamente unidimensional e sem personalidade alguma. Ela parece aflorar apenas quando conhece o tal do J., com quem ela sonha o tempo todo com beijos, chupões e pegação. Amiga, não força! Essa personagem achatada é prejudicada pelo fato de termos uma narrativa em primeira pessoa, ou seja, não temos uma visão externa que teria ajudado e muito na sua construção.
Agora, sei que existem coisas tão terríveis que você não pode se permitir chorar, porque, se começar, nunca mais para.
Por boa parte do livro temos essa garota tendo sonhos molhados com J. que parece um príncipe encantando e até fanfics com ele Romy escreve. Essas fanfics são enviadas para a Terra, quando ainda tinha comunicação, baseadas num programa de TV que Romy adora. Sinto que de novo a narrativa em primeira pessoa prejudicou a visão que a Terra deve ter sobre essa garota solitária. Seria uma adição interessante e enriqueceria Romy e sua trajetória, mas não temos. O que temos é uma reviravolta que me pareceu apressada e que demorou muito para acontecer. Os motivos também foram sem graça e quando o verdadeiro J. aparece ele também é unidimensional.
Tinha muita discussão para se fazer no livro, mas aparentemente astronautas jovens no espaço só pensam em pegação. Sério, que coisa chata. Quem procura uma ficção científica vai se decepcionar e, acredite, quem procura um romance adolescente também vai se decepcionar quando a reviravolta chegar. Fiquei com a impressão que a autora precisava colocar uma reviravolta de qualquer jeito e inventou essa, colocou lá, e é isso aí. Se colar, colou. Um livro mais extenso, com mais espaço de desenvolvimento teria funcionado melhor do que o que foi entregue aqui.
Se a parte da ciência e tecnologia da nave compensassem essa falta de dinamismo dos personagens, o livro teria sido bem mais interessante, mas também não acontece. A autora admite que passou por cima de certos aspectos técnicos e OK, não tem problema algum mesmo passar por eles. Isso é uma obra de ficção, afinal de contas. Mas senti que faltaram momentos em que a Romy age, de fato, como a comandante da Infinity. E ela não faz isso. Era de se esperar um pouco mais de seriedade do que o que foi apresentado aqui.
O livro está bem diagramado e não encontrei problemas de revisão. A tradução está boa e foi de Santiago Nazarian.
Obra e realidade
O confinamento de uma missão espacial é um problema sério e investigado pelas agências espaciais. Experimentos feitos com astronautas numa imitação de uma missão a Marte mostrou que os tripulantes ficaram irritadiços, impacientes, tiveram problemas com seus colegas e começaram a ter problemas de concentração conforme o tempo passava desde o começo da missão hipotética.Talvez o experimento mais famoso a respeito, a Biosfera 2, seja um bom exemplo do que pode acontecer com os humanos em um espaço confinado. O projeto construiu uma instalação que imitava vários biomas terrestres, inclusive com terras aráveis e confinou duas equipes lá dentro, entre 1991 e 1993. A ideia era mostrar a viabilidade de uma possível colônia na Lua ou em Marte, autossuficiente e autossustentável, capaz de produzir seu próprio oxigênio, comida e reciclar sua água.
A Biosfera 2 foi um grande fracasso. Não apenas não conseguia produzir oxigênio suficiente, como os biomas começaram a morrer. A riqueza do solo lá dentro levou à proliferação de microorganismos, cuja respiração consumia muito oxigênio. Pragas atacaram as plantações e não entrava luz solar suficiente para as plantas fazerem fotossíntese. A pressão sobre os tripulantes era imensa, e problemas de relacionamento começaram a surgir entre eles. Amigos de longa data se tornaram inimigos e houve até mesmo casos de assédio sexual contra as tripulantes mulheres. Das 25 espécies originais de animais utilizadas no projeto, somente 6 sobreviveram. E uma infestação imensa de baratas ocorreu lá dentro.
Lauren James é uma escritora britânica de livros para jovens adultos.
Pontos positivos
InfinityViagem pelo espaço
Pontos negativos
PersonagensO resto
Avaliação do MS?
Não é um livro ruim, mas seus personagens não funcionaram comigo. É um elenco chato e desinteressante. Havia muito potencial aqui para se escrever uma grande história, mas tudo foi muito raso para que eu me apegasse a algum personagem. Não entendo porque livros para jovens adultos acabam com personagens rasos mal desenvolvidos. Foi só um livro OK que vou esquecer rápido. Três aliens para o livro.Até mais!
Eu acho engraçado que eu amei esse livro e todas as pessoas que eu recomendei não gostaram tanto assim, mas eu sinto que o que eu de fato gostei foi a experiência do audiobook mas não consigo mudar minha nota pq esse livro me deu um sentimento tão legal. E eu só li pq na sinopse falava: ELA MORA NUMA NAVE.
ResponderExcluirÉ provável que a experiência do audiolivro tenha levado você a gostar mais do que quem apenas leu. A interpretação de quem narra faz bastante diferença.
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