Resenha: Invasores de Corpos, de Jack Finney

Nem todo mundo sabe que um dos grandes clássicos do cinema é inspirado em um livro. Invasores de Corpos ganhou uma edição luxuosa da DarkSide e da Macabra, do jeitinho que este livro merece. Existem diferenças básicas entre livro e filmes inspirados nele, mas a paranoia, o medo do outro, esses sentimentos estão todos nas páginas de Invasores de corpos, de Jack Finney!

O livro
A narrativa é feita pelo doutor Miles Bennell, médico da família e generalista que mora em uma pequena cidade da Califórnia. Miles ainda avisa que a história que estamos prestes a ler está cheia de pontas soltas e perguntas sem respostas, afinal ele não tem como precisar o que exatamente aconteceu e terá que deixar a história assim mesmo. Era uma tarde tranquila em seu consultório, ele estava prestes a ir para sua casa, onde morava sozinho desde o divórcio complicado, quando uma paciente, uma conhecida de longa data, entra exasperada. Depois de muito relutar, ela diz qual é o problema: sua prima Wilma diz que seu tio não é mais seu tio.

Resenha: Invasores de Corpos, de Jack Finney

Miles acha que aquilo é um caso para o psiquiatra e não para um médico da família como ele. Mas em consideração a Becky, sua paixão de adolescência, ele concorda em visitar a casa onde Wilma mora com os tios. E ao conversar com ele, Miles não vê nada de diferente, nada alarmante, ainda que Wilma insista que aquele homem não é seu tio. Falta algo nele, falta alguma coisa nele, falta uma paixão pela vida que parece ter sumido.

Miles então recebe outras pessoas em seu consultório, alegando as mesmas coisas. Pai, mãe, marido, esposa, vizinho, filho, sogra, não importa. As reclamações são as mesmas. Se antes Miles achasse que não passava de um delírio coletivo, logo nota que pode estar errado. Até enviou seus pacientes para um psiquiatra amigo seu, pois achava que estavam todos com problemas. Logo a paranoia toma conta do grupo de amigos de Miles. Não sabem mais em quem confiar.

Detestamos encarar novos fatos ou evidências, porque pode ser preciso repensar nossa concepção do que é possível, e isso é sempre um incômodo.

Página 81

O livro não é muito longo, mas você apenas não consegue parar de ler. A forma como Finney constrói a narrativa e a paranoia em seus personagens te prende até o fim. Você vai virando as páginas, pensando em quem pode acabar sendo a próxima vítima, tentando entender se há algum padrão ou se é tudo aleatório. Não é difícil compreender porque o livro inspirou tantos filmes, já que serve como metáfora para o comunismo, o Macarthismo e até para a Guerra Fria. Publicado pela primeira vez em 1955, todos eles estavam em alta e havia uma "caça às bruxas" por comunistas.

Adorei a forma como o autor nos leva pelas ruas da pequena Santa Mira e como as pessoas começam a demonstrar os comportamentos bizarros que logo denunciam quem elas são. Ainda que existam diferenças entre os filmes, principalmente o mais recente, Invasores, com Nicole Kidman e Daniel Craig, a paranoia que o autor trabalhou nas páginas segue sendo sua principal característica.

A explicação para as substituições e para os eventos coube bem no enredo, ainda que os personagens relutem em acreditar nela. Parece fantástico demais, mas o que está acontecendo na cidade também é fantástico, então eles não podem descartar imediatamente. É fácil compreender porque o enredo é cativante, já que lida com sentimentos tão básicos da humanidade, como o medo do desconhecido. E aqui ele funciona perfeitamente bem.

Eu esperava por uma finalização mais amarrada, mas é preciso lembrar que Miles nos avisa sobre as pontas soltas, sobre as perguntas que ficaram sem respostas e precisamos aceitar sua palavra. Como ele é o narrador, precisamos confiar em suas percepções sabendo que nem tudo será respondido. Mas ainda assim curti a forma como ele finalizou, com aquela sensação de que nem tudo acabou. Nem mesmo Miles sabe exatamente o que viu e viveu naqueles dias loucos.

A edição da DarkSide está perfeita, em capa dura e papel amarelo, com um lindo trabalho gráfico na parte interna. Não encontrei grandes problemas de revisão ou diagramação e a tradução foi de Camila Fernandes, estando perfeita.

Damos nomes às coisas, mas não as entendemos de verdade. Só o que sabemos, com certeza, é que acontecem.

Página 70

Obra e realidade
É muito interessante a forma como o livro foi filmado e como o sentido dado ao filme muda conforme a década. A primeira adaptação foi ainda nos anos 1950, mas a versão mais famosa é de 1978, que recicla alguns temas do filme de 1956, mas acrescenta suas próprias camadas. O contexto político e social é diferente, portanto o filme acaba sendo um reflexo dessa mudança, com uma crescente violência urbana e segregação em guetos e periferias.

Já a adaptação de 1993, aposta no body horror, com violência física mais aparente e com um mundo onde o medo não é mais dos comunistas ou do holocausto nuclear, mas sim de que a ordem social seja quebrada quando aqueles que juraram defender a nação sucumbem aos invasores: os militares. Já o último filme, Os Invasores, de 2007, foi um filme com vários problemas do começo ao fim em sua produção, mas que aborda um tom mais esperançoso em seu final.

Invasores de Corpos foi, inicialmente, serializado na Collier´s Magazine, em 1954 e depois a série foi lançada na forma de livro. O tema foi utilizado tantas vezes, por tantos filmes diferentes, reciclado e ressignificado que pode parecer um livro clichê, mas na verdade ele é representa o início de todo um legado.

Jack Finney

Walter Braden "Jack" Finney foi um escritor norte-americano. É conhecido por seus thrillers de ficção científica The Body Snatchers, que inspirou o filme Invasion of the Body Snatchers e seus remakes.

Pontos positivos
Miles e Becky
Cenário de paranoia
Personagens bem trabalhados
Pontos negativos

Acaba logo!


Título: Invasores de Corpos
Título original em inglês: The Body Snatchers
Autor: Jack Finney
Tradutor: Camila Fernandes
Editora: DarkSide
Páginas: 224
Onde comprar: na Amazon ou na loja da DarkSide com brinde exclusivo!

Avaliação do MS?
Se você é fã de qualquer um dos filmes e fã de uma boa história de ficção científica, pode se jogar em Invasores de Corpos! O livro passa muito rápido na mão, mas ao mesmo tempo você não quer terminar e virar a última página, temendo quem mais pode ter sido substituído e o que será de nossos protagonistas. Quatro aliens para ele e uma forte indicação para você ler também.


Até mais!

Creio que é possível perder o juízo por um instante, e que talvez eu tenha chegado muito perto disso.

Página 58

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