Arlindo é um dos melhores quadrinhos do ano! Com cores intensas, personagens cativantes e uma história sobre aceitação e tolerância, amor e amizade, Arlindo conquista corações onde passa. Inicialmente produzido como uma webcomic, o projeto foi muito bem-sucedido no Catarse e ganhou uma edição apaixonante para se ter na estante.
O quadrinho
Arlindo é um garoto com todas as dúvidas e desejos de um adolescente comum, que mora com a família em uma cidadezinha do interior do Rio Grande do Norte. Aliás, adorei o fato de se passar neste estado, pois minha mãe é de lá. O maior desejo de Arlindo é o de encontrar seu lugar no mundo, de ser aceito por quem é. Aos sábados, ele vai à locadora de filmes com as amigas, canta muito Pitty e Sandy & Júnior no chuveiro, ajuda a mãe a fazer doces para vender, além de ajudar a cuidar da irmãzinha mais nova. E também sente as pernas bambas com suas primeiras paqueras. Quem nunca, não é mesmo?Arlindo também está descobrindo sua sexualidade e para algumas pessoas, como seu pai, isso é mais importante do que o caráter e a bondade de seu filho. Alguns vizinhos de Arlindo na cidadezinha pequena e tacanha não o aceita como é e o garoto passa a ter problemas na escola, sem contar os que já tem com o pai. São suas músicas e seus amigos que o ajudam a passar pelos momentos mais difíceis. Às vezes, são só o que a gente tem em momentos complicados.
O quadrinho se passa nos anos 2000. Como eu não fui adolescente nessa época, não conheço nenhuma das músicas cantadas pelos personagens. Quem viveu essa época vai reconhecer as tecnologias como o MSN (saudades), um tipo de WhatsApp para o computador, sabe? #ironia Mas essa adolescência de Arlindo não é muito diferente da adolescência de tanta gente. Quantas vezes eu fui com as minhas amigas para a locadora ou saíamos para passear na praça Benedito Calisto, perto do colégio. Quantas vezes cantávamos nossas músicas favoritas totalmente desafinadas? Admito que lendo Arlindo até bateu uma saudades dessa época com as mochilas nas costas e o walkman na mão.
Além das amizades, o tema da aceitação é muito bem trabalho no quadrinho. Arlindo sofre com a pressão do pai, uma figura autoritária, machista e homofóbica que não se importa com o sofrimento que causa diariamente nos outros. Ele grita para Arlindo que ele deve “virar homem” e deixar de ser “um fresco”, que não deve ajudar a mãe na cozinha a fazer docinho porque "não é coisa de homem". Quantos jovens LGBTs tiveram que ouvir essas merdas em casa? Ou ainda ouvem? Arlindo, além de uma obra de arte em forma de quadrinho, é também um cobertor quentinho para todos aqueles que lutam para serem amados e aceitos como são.
O traço, as cores vibrantes, as expressões dos personagens, a forma como os quadros foram feitos, usando as músicas para compor o cenário, tudo é tão lindo e perfeito, que você até para de ler a história para admirar as composições. Toda a galeria de personagens, não apenas Arlindo, é muito bem feita e tem seus papéis na história. Até aqueles irritantes. A mãe de Arlindo, dona Nalva, é um amor de pessoa, uma mulher devota e arretada por quem eu torci muito durante toda a leitura.
Conforme você avança na leitura, tudo o que quer é abraçar Arlindo e impedir que o mundo e as pessoas ignorantes o maltrataem mais, pois ele é muito precioso e você não aguenta mais vê-lo chorando, carregando uma tristeza apenas por ser quem é. A cidadezinha retratada na história tem aquele clima opressor e acolhedor ao mesmo tempo, algo que depende da forma como as pessoas pensam e agem. E há mais pessoas que amam Arlindo do que aquelas que o odeiam.
A edição que recebi foi aquela apoiada no Catarse, com vários brindes, como cartela de adesivo e postais. Nas lojas online, você encontra apenas o quadrinho, sem os brindes. A edição vem em capa dura e papel encorpado com cores vibrantes que saltam das páginas. Não há problemas nos balões de texto que, aliás, são deliciosos de ler, com todos os regionalismos presentes.
Obra e realidade
Em uma entrevista para as minas do Delirium Nerd, Luiza de Souza, ou Ilustralu como a conhecemos na internet, comentou que algumas tirinhas feitas durante a campanha eleitoral sobre os danos do discurso de ódio as crianças e adolescentes acabaram se tornando um estudo de personagem para Arlindo. O resultado desastroso das eleições de 2018 elevou os crimes de ódio, principalmente contra a comunidade LGBTQI+ e Arlindo é um alento nesses tempos bizarros que vivemos, de pós-verdade e fake news.Sucesso absoluto no Catarse, a publicação da Seguinte, selo jovem do Grupo Companhia das Letras, também chegará a instituições que acolhem pessoas LGBTQIA+ e bibliotecas pelo Brasil através da doação de 350 exemplares físicos graças às metas estendidas. Não tem quadrinho mais ARLINDO do que esse!
Luiza de Souza, ou Ilustralu, nasceu em Currais Novos (RN), em 1992. Graduada em publicidade pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, trabalha como ilustradora e faz quadrinhos.
Pontos positivos
Arlindo e suas amigasSe passa no RN
Traço e cores
Pontos negativos
Nenhum!
Avaliação do MS?
Foi uma leitura deliciosa, melancólica e feliz ao mesmo tempo. Uma história sobre descobrir quem a gente é em meio ao caos da adolescência, sobre encontrar força em nós mesmos e nas pessoas que a gente ama. Sobre se permitir existir — mesmo quando isso dá tanto medo. Sobre lutar pelo seu lugar no mundo e bater o pé mesmo quando alguém está tentando tão desesperadamente te derrubar. Leitura mais que essencial e uma forte recomendação para você ler também!Até mais 🌈!
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