Resenha: A Bruxa Margaret, de Jim Broadbent e Dix

Você deve conhecer Jim Broadbent por seu papel de professor Horácio Slughorn, de Harry Potter. Mas dificilmente saberia que ele é um dos autores deste quadrinho, não é? O ator britânico se uniu ao cartunista e ilustrador Dix para compor um quadrinho inspirado em um quadro do pintor belga Pieter Bruegel, o Velho, de 1563.

Parceria Momentum Saga e editora DarkSide

O quadrinho
Existe no folclore flamengo a figura de Magriet (ou Margaret e até apenas Meg), uma mulher asssociada à feitiçaria e aos demônios. A obra inspirou pintores como Pieter Bruegel, o Velho que, por sua vez, inspirou o Jim Broadbent e o ilustrador Dix. Tanto na pintura quando no quadrinho temos mulheres corajosas e destemidas. Enquanto que no quadro de Bruegel a mulher lidera um saque ao inferno, no quadrinho a bruxa Margaret invoca um demônio pra pedir amor e riqueza.

Resenha: A Bruxa Margaret, de Jim Broadbent e Dix

Margaret é solitária, amarga, leva uma vida dura e pobre, pescando enguias. Não é exatamente seu trabalho dos sonhos. Um dia ela decide que merece um pouco de diversão, quem sabe até atenção, mas acaba sendo roubada e humilhada pelos outros. Irada com a forma como a tratam, Margaret decide dar um basta. Ela se mune de ingredientes bizarros, e até macabros, para preparar um feitiço de forma a ir ao inferno para fazer o pedido que sempre quis.

As pessoas são horríveis demais e tá molhado e frio e tá difícil demais mas sou a Margaret. Eu sou a Margaret. Eu sou a Margaret!

Página 34

O quadrinho segue bem de perto o humor e a personalidade de sua protagonista. É lúgubre, sombrio, bizarro, com um ar de decadência que pincela os quadros e os personagens. Este não é um mundo fácil, onde bem e mal estão em combate, mas sim um lugar bem mais complicado, onde cada pessoa pode ser boa, má ou indiferente de acordo com o momento.

Ao contrário das bruxas super poderosas e dotadas de muita magia, Margaret é uma mulher simples, mortal, marginalizada, uma pessoa que apenas está tentando sobreviver. Ainda que não seja uma mulher culta ou muito versada nas normas sociais, Margaret sabe analisar a realidade e seu mundo. Por vezes pode parecer ingênua, em outras muito poderosa.

O quadrinho se vale das longas exposições de seus ambientes para contar a história que acaba sendo ambígua e aberta a várias explicações. Pessoalmente acho que um enredo que precisa de múltiplas leituras para ser compreendido é um enredo incompleto, mas entendo aqueles que curtem esse tipo de narrativa. Sinto que ele necessita de uma maior compreensão da lenda e do quadro de Bruegel que o quadrinho em si não fornece.

É um quadrinho sobre perda, sobre sacrifício, sobre absolvição e solidão. Porém não consegui me conectar em nenhum momento com Margaret. Fosse pelos diálogos quase vazios ou a arte em si, eu li e achei OK, quase um tédio. Na verdade, a reprodução da pintura de Bruegel no final me chamou bem mais a atenção do que o quadrinho em si.

Dulle Griet, de Bruegel
Dulle Griet, de Bruegel


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Obra e realidade
A figura da Dulle Griet, Mad Meg ou da Mulher Louca, nem é uma exclusividade de Bruegel, pois outros artistas pintaram a personagem do folclore flamengo. Originalmente, ela é uma mulher que lidera um exército de mulheres ao inferno e que, possivelmente, tem ligação com Gret Sauermal, uma mulher que brigou com o marido e pode entrar e sair do inferno intocada por ser uma mulher desagradável.

Mulheres que se comportam de maneiras que destoem do esperado sempre são consideradas perigosas. "Meg" era um termo também usado para se referir a mulheres briguentas, megeras, dominadoras e talvez Bruegel apenas estivesse observando certos comportamentos femininos em sua época. No século XVI também havia mulheres poderosas no trono de vários países, posição que causava discórdia entre os conservadores.

E há também a interpretação da pintura que mais me agrada que é bem simples: Meg e as outras mulheres estão indo ao inferno para recuperar os tesouros roubados da humanidade. Afinal só elas teriam a coragem e a força de entrar no inferno e sair.

Jim Broadbent e Dix


Jim Broadbent é um ator britânico, vencedor do Oscar. Atuou em Harry Potter e na série de TV Game Of Thrones, além de ser bastante reconhecido por seu talento no teatro, encenando peças de Shakespeare. A Bruxa Margaret é sua primeira história em quadrinhos.

Dix é um quadrinista, chargista e pintor do Reino Unido, que publica sua série Roll Up! Roll Up! no jornal The Guardian. Na década de 1990, foi um dos fundadores da revista alternativa inglesa Purr. Em 2015, lançou Klaxon, em parceria com Si Spencer. A Bruxa Margaret é sua segunda graphic novel.

PONTOS POSITIVOS
Inspiração em Bruegel
Bruxaria
Universo bem construído
PONTOS NEGATIVOS
Meio lento
Meio confuso


Título: A Bruxa Margaret
Título original em inglês: Dull Margaret
Autor: Jim Broadbent
Ilustrador: Mariana C. Dias
Tradutora: Dix
Editora: DarkSide (selo Graphic Novel)
Páginas: 144
Ano de lançamento: 2020
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Avaliação do MS?
É um bom quadrinho. Denso, sombrio, com uma arte perturbadora, mas que não conseguiu me cativar muito. O fato de ser obra de um ator e de ser inspirada em uma obra de arte certamente chamam a atenção. Três aliens para A Bruxa Margaret.


Até mais!

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