Cheguei ao final desse quadrinho em lágrimas. Com uma sensibilidade precisa e doses de bom humor, Brian encontrou nos quadrinhos uma forma de lidar com o câncer da mãe, fumante por décadas e que descobriu um câncer de pulmão em metástase, com tumores no cérebro. Em um momento de pandemia em que pacientes estão assustados, muitas vezes sozinhos e com dificuldades de conseguir tratamentos, o quadrinho cumpre uma importante tarefa: a de acalentar e dizer que ninguém está sozinho.
O quadrinho
A mãe de Brian começou a ter uns sintomas esquisitos em uma noite de filmes com a filha caçula. Como havia uma enfermeira na família, ela logo foi acionada e todo mundo pareceu mais tranquilo quando ela explicou que se tratava de algo que não era grave. Na tentativa de investigar o problema, ela descobre um tumor no cérebro, mas ele não se originou ali. Conversa vai, contatos vem, e a filha-enfermeira consegue que a mãe se trate em um ótimo hospital universitário.Fumante por longos anos, ela para de fumar e parece decidida a mudar de comportamento e de vida. Quer fazer exercícios, já que eles podem ajudar e se sente energizada. Brian não sabe se é uma tentativa de fugir do problema ou se a ficha ainda não caiu. Quanto mais explicam para ela que seu câncer está em estágio quatro e que isso não é bom, menos ela parece entender. É de propósito? É o tumor no cérebro atrapalhando seus pensamentos? Eles não sabem. A incerteza de toda a situação é o que mais incomoda Brian.
A família foi muito unida no tratamento da mãe. Com a evolução em medicamentos e tratamentos, falar que um câncer está em metástase não é mais uma sentença de morte. E apesar de não ser fácil, a família está junta e a mãe está se tratando com o que há de melhor. Brian desenha os quadrinhos, que publicou anonimamente na internet como forma de processar o que estava acontecendo, mas também como uma maneira de conversar com as pessoas lá fora, que talvez estivessem passando pelo mesmo processo.
Os quadrinhos chegaram nas pessoas que também passavam por câncer ou que tinham um parente com a doença. Uma das piores coisas quando se está doente é a sensação de impotência, de solidão, de que você é a última pessoa do mundo. As tirinhas de Brian contando o dia a dia da mãe, a impressão que ele tinha dos tratamentos, o próprio emocional da família conforme as semanas passavam, foram uma inspiração para muita gente em situações parecidas. Médicos pediram permissão para usar as tirinhas com seus pacientes e em oficinas. Brian não esperava por isso.
Brian foi bastante sutil na forma de lidar com a doença da mãe. Você não se choca com longos termos técnicos, com estatísticas e porcentagens. Ao mesmo tempo ele foi sensível na forma de retratá-la e se preocupou em não esconder que a situação era grave e como sua mãe se sentia. Quimioterapia e radioterapia são debilitantes em vários aspectos e muitas vezes os sintomas só aparecem quando a fase do tratamento já acabou.
A morte vai levar nós todos... Mas não é uma vergonha dar um pouco de trabalho para ela.
Página 99
O quadrinho vem em capa dura e papel encorpado branco e os quadrinhos são em geral em preto e branco, mas em alguns momentos específicos o autor adotou as cores como um reforço na narrativa. As páginas são numeradas e a edição ainda conta com alguns textos extras de apoio que contam um pouco a história do quadrinho em si e de Brian. A tradução foi de Laura Zuñiga e está muito boa. Quando cheguei no posfácio foi difícil segurar as lágrimas, confesso. Depois me diz se você também chorou!
Obra e realidade
O câncer é o principal problema de saúde pública no mundo e já está entre as quatro principais causas de morte prematura (antes dos 70 anos de idade) na maioria dos países. Dados de 2018 apontam que ocorreram no mundo cerca de 18 milhões de casos novos de câncer com 9,6 milhões de óbitos. O câncer de pulmão é o de maior incidência (2,1 milhões), seguido pelo de mama (2,1 milhões), cólon e reto (1,8 milhão) e próstata (1,3 milhão). Os homens representam 53% dos casos novos (9,5 milhões) enquando as mulheres são 47% dos casos novos (8,6 milhões).No Brasil, a estimativa para cada ano do triênio 2020-2022 aponta que ocorrerão 625 mil casos novos de câncer (450 mil, excluindo os casos de câncer de pele não melanoma). O câncer de pele não melanoma será o mais incidente (177 mil), seguido pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil). Para maiores informações sobre o câncer, acesse o site do Instituto Nacional do Câncer.
Brian Fies é um escritor e quadrinista norte-americano. Sua primeira graphic novel, Mamãe Está com Câncer, venceu o prêmio Eisner de 2005 na categoria de Quadrinho Digital, o Lulu Blooker Prize de melhor quadrinho em 2007, bem como o prêmio Harvey de novo talento, no mesmo ano.
PONTOS POSITIVOS
Sensível
Bem humorado
Bem escrito e ilustrado
PONTOS NEGATIVOS
Nenhum!
Sensível
Bem humorado
Bem escrito e ilustrado
PONTOS NEGATIVOS
Nenhum!
Avaliação do MS?
Foi com muita leveza, muita sensibilidade que Brian tratou de um tema tão delicado, tão importante e pessoal. Ele dividiu com o público suas angústias, a dor da mãe, de forma a lidar com o evento e, quem sabe, ajudar outras pessoas que estivessem passando pela mesma situação. A vida nunca nos prepara para passar por problemas de saúde, mas ao menos podemos contar com a arte e com os ensinamentos de outras pessoas. Uma leitura essencial!Até mais!
Comentários
Postar um comentário
ANTES DE COMENTAR:
Comentários anônimos, com Desconhecido ou Unknown no lugar do nome, em caixa alta, incompreensíveis ou com ofensas serão excluídos.
O mesmo vale para comentários:
- ofensivos e com ameaças;
- preconceituosos;
- misóginos;
- homo/lesbo/bi/transfóbicos;
- com palavrões e palavras de baixo calão;
- reaças.
A área de comentários não é a casa da mãe Joana, então tenha respeito, especialmente se for discordar do coleguinha. A autora não se responsabiliza por opiniões emitidas nos comentários. Essas opiniões não refletem necessariamente as da autoria do blog.