Este é um livro de divulgação científica gostosinho e rápido de ler, mas recheado de conteúdo sobre nós. Dentre todos os animais deste planeta antigo e imenso, apenas os humanos se destacaram da árvore evolutiva e se tornaram seres conscientes e inteligentes. Deve ter algo de muito especial em nós então, certo? Nem tanto.
O livro
A vida na Terra percorreu um longo caminho. Nos 4,5 bilhões de anos no planeta, a vida complexa surgiu há apenas 540 milhões de anos. Os dinossauros foram a espécie dominante por 100 milhões de anos. Se uma nave alienígena resolvesse dar uma espiadinha no nosso planeta nessa época veria um monte de dinos passeando por aí. Nossos ancestrais mamíferos começaram a ganhar espaço com a extinção há 66 m.a., mas ainda assim não são a espécie mais numerosa, ainda que seja uma das mais complexas. Cerca de 3 milhões de anos atrás, um hominídeo começou a usar ferramentas e há 300 mil anos os seres humanos começaram uma jornada épica que nos trouxe aos dias de hoje.O que pode existir na essência humana que nos torna tão diferentes dos outros animais? Será que somos de fato tão diferentes assim? São essas as perguntas básicas de O livro dos humanos, que Adam deseja responder. Temos muitas qualidades únicas, como o fato de sermos acumuladores culturais, o fato de passarmos nossa cultura para indivíduos com os quais não temos relação de parentesco, mas nem tudo é exatamente único de nossa espécie. Existem características singulares em outros animais.
Um exemplo: os seres humanos se valem do uso do fogo de forma a limpar terrenos e grandes extensões de terra, para cozinhar comida, para a indústria. Essa era considerada uma característica puramente humana, já que a descoberta do fogo pela nossa espécie foi um daqueles eventos transformadores na nossa jornada. O fogo tornou a comida mais maleável, mais nutritiva, mais acessível e a lenda grega diz que o fogo era sagrado até Prometeu roubá-lo e nos entregar. Pois não somos a única espécie a usar o fogo. O falcão australiano propositalmente ateia fogo em áreas secas utilizando-se de gravetos em chamas a fim de desentocar animais e caçá-los.
(...) muitas das coisas que outrora pensávamos ser exclusivamente humanas, na verdade, não são. Estendemos nosso alcance para além do nosso domínio utilizando a natureza e inventando tecnologias. Mas muitos animais também usam ferramentas. Dissociamos o sexo da reprodução, e quase sempre fazemos sexo por diversão. Os cientistas têm relutância em admitir a possibilidade de prazer nos animais, mas, ainda assim, uma grande proporção dessa atividade sexual não resulta e não pode resultar em reprodução. Somos, muitas vezes, uma espécie homossexual. Houve uma época — e em muitos lugares isso não acabou — em que a homossexualidade era condenada como contra naturam, um crime contra a natureza. Na realidade, atos sexuais entre membros do mesmo sexo abundam na natureza, em milhares de animais, e podem muito bem, por exemplo, dominar os encontros sexuais entre girafas machos.
Com uma narrativa divertida, leve e abundantes notas de rodapé informativas, o livro passa muito rápido na mão. Ele abrange vários aspectos como a produção de ferramentas, o sexo, até a constituição de nossos corpos, as emoções, os arrependimentos. Os capítulos são curtinhos, o que é uma pena, por isso Adam precisou ser bastante sintético em algumas passagens.
Isso de modo algum quer dizer que é um livro raso, ao contrário, ele é recheado de conteúdo, dados e apontamentos contundentes sobre uma série de coisas que consideramos tipicamente humanas, como o arrependimento, mas que na verdade estão presentes em outros animais. Sabia que os ratos sentem arrependimento? A linguagem, algo tão característico dos seres humanos não é exclusividade nossa. Sexo sem fim reprodutivo? Oi, bonobos! O gene da linguagem aparece em outros animais, como os ratos e as aves. Usar adornos em nossos corpos? Os golfinhos fazem isso!
Não li o livro físico, li o ebook, mas foi uma leitura deliciosa e me diverti horrores com as tiradas bem sacadas de Adam em vários momentos, principalmente nas notas de rodapé. Ele foi muito lúcido e direto em suas colocações, em especial quando aborda a homossexualidade e o horror da perseguição que existe até hoje por algo que não só é natural como é praticado por várias outras espécies. Em alguns capítulos existem ilustrações simples em preto e branco sobre o tema exposto e não encontrei problemas de revisão ou tradução, que ficou por conta de Catharina Pinheiro.
Obra e realidade
Acredito que o principal mérito do livro de Adam é o fato de indicar que sim, existem características peculiares a nosso respeito e que hoje somos bem-sucedidos em uma série de coisas, mas que estamos intrinsecamente ligados aos outros animais e à longa linha evolutiva que nos trouxe até aqui. Se antes fomos considerados o ápice da evolução, o crème de la crème de 4,5 bilhões de anos de uma longa linha evoltuvia, hoje somos meros sobreviventes de eventos que nos conduziram até aqui e que, sob vários aspectos, somos meros animais.Adam David Rutherford é um geneticista, escritor e radialista britânico. Doutor em genética, formado em biologia evolutiva e pesquisador honorário da University College London, foi editor de conteúdo audiovisual da revista Nature por uma década e é colaborador frequente do jornal The Guardian.
PONTOS POSITIVOS
Narrativa amigável e divertida
Pesquisa
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS
Bem básico
Curtinho!
Narrativa amigável e divertida
Pesquisa
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS
Bem básico
Curtinho!
Avaliação do MS?
Foi uma leitura muito gostosa, muito rápida e espero poder ler o outro livro do autor, Criação: A origem da vida / O futuro da vida em breve. Adam mostra que a comunicação científica pode ser direta, eficiente e fácil de ser compreendida. Um ótimo livro introdutório em um assunto que nunca se esgota. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!Até mais!
Gostei muito da sua resenha! Quanto mais lemos sobre a nossa espécie, quanto mais conhecemos sobre as incríveis capacidades dos outros animais, mais me convenço que somos apenas outra espécie e o que é pior, a mais estúpida, pois destrói o único meio que lhe permite viver bem. Vou seguir explorando o blog! :)
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