Resenha: Pancadaria: por dentro do épico conflito Marvel vs DC, de Reed Tucker

Marvel ou DC?? Você nerd já deve ter se deparado com essa pergunta, não é mesmo? Não tem briga mais notável, exceto talvez pelo biscoito ou bolacha, na atualidade do que a rivalidade entre as gigantes dos quadrinhos. Seus heróis são parte do imaginário ocidental e seus filmes rendem crítica, amor, ódio e bilhões de dólares em bilheteria e produtos licenciados. Reed Tucker resolveu estudar a rivalidade a fundo e nos trouxe Pancadaria!



Parceria Momentum Saga e
editora Rocco


O livro
Este é daqueles livros para fãs de quadrinhos, que gostam de saber todos os pormenores da criação de seus heróis favoritos. Ou para aqueles que, como eu, não entendem tanto de Marvel e DC, mas gostam de uma leitura bacana. O livro é bem escrito e nota-se que o próprio autor é muito apaixonado por quadrinhos ou jamais se disporia a escrever a respeito com tanto ardor. Apesar de achar que ele tende a gostar mais de Marvel do que DC, entendo o porque da inclinação.


Apesar de a Mulher-Maravilha ser uma das minhas personagens favoritas, ainda mais depois do filme, concordo com todas as críticas feitas ao universo cinematográfico da DC. É escuro, sombrio demais, enquanto a Marvel aposta em algo muito mais cômico e leve, iluminado, ainda que não deixe a história da própria marca e de seus heróis para trás. Esse conservadorismo da DC, que ainda marca as ações da empresa, não é de hoje. Reed basicamente começa seu livro tratando disso.

Achei bem bizarro que uma editora dedicada a publicar quadrinhos de super-heróis tivesse um escritório que mais parecia uma corretora de seguros. O autor conta com certa ironia que os donos da DC nos primórdios e quando ela dominava o mercado, se vestiam de terno de tweed, gravata, fumavam cachimbos, trabalhavam em baias de madeira com vidros... Não se parece com algo que levou às publicações de alguns dos maiores heróis da atualidade, como Batman, Superman e Mulher-Maravilha, parece?

A improvável empresa que viria a se tornar a Marvel começou a abocanhar o mercado, deixando a DC estarrecida. Tá certo que o mercado de quadrinhos vinha sofrendo ataques de organizações conservadoras com medo que eles fossem violentos e sensuais demais para crianças e adolescentes, a ponto de executivos serem interrogados por comissões do Congresso. Então como que a Marvel começou a passar na frente na corrida pelo mercado? O que Stan Lee e Jack Kirby poderiam fazer para competir e até superar a grande adversária?

Outra ironia da história é o fato de a Marvel ter copiado descaradamente quase tudo o que a DC fazia na tentativa de chegar ao topo e no fim a DC começou a imitar a Marvel quando percebeu que estava com edições encalhadas nas bancas. Parece inimaginável hoje quando vemos o domínio da Marvel nos cinemas, abocanhando público e crítica de uma vez só.

Do auge da DC, ao auge da Marvel, à competição acirrada aos terríveis anos 1980, chegando nas gibiterias e a entrada no universo cinematográfico, Reed abordou com leveza os temas, trazendo várias informações que, mesmo que os fãs já tenham lido em outros lugares, foram condensadas em um único volume. Para mim foi muito instrutivo ver que esse "bolacha vs. biscoito" não era só uma questão de disputa de fãs, que havia algo muito mais duradouro e profundo envolvendo até espionagem e troca de ofensas na sessão de correspondências das revistas.

Desde o início, a indústria dos quadrinhos se conduzia através de uma série de fracassos, como um jogados de vinte-e-um bêbado em um cassino em Las Vegas durante uma farra noturna. Um período de ganhos extraordinariamente fortes é muitas vezes seguido por uma desaceleração tão grave que ameaça sua existência.

Página 176

O livro está bem diagramado, traduzido e revisado. A capa lembra uma edição velha de quadrinhos, com marca de grampos e de manuseio contínuo. A tradução ficou na mão de Guilherme Kroll e está ótima. Não há imagens no livro, apesar da abundância de dados e fatos relacionados à indústria. Há também um índice e uma seção de notas, com citações usadas nos capítulos.


Ficção e realidade
Uma coisa bacana do autor foi ressaltar a importância dos quadrinhos. Enquanto ainda tem muita gente considere quadrinhos, ficção científica, fantasia, terror, super-heróis meros escapismos bobos (e tudo bem ser só escapismo), essa foi e é uma literatura que vem acalentando gerações, levando diversão, críticas, visões de mundo e pessoas diferentes para milhões de fãs. Guerra Civil, da Marvel, foi uma reação à política norte-americana após o 11 de Setembro. Nada existe no vácuo, até o entretenimento que você acha que não é "politizado".

Superman - e a inundação de heróis impressos em quatro cores que logo se sucedeu - acumulou grandes vendas ao entregar entretenimento escapista barato em um momento sombrio, quando a nação estava abalada pela Grande Depressão, abalada pelo fenômeno climático de tempestade de areia que assolou o país, o Dust Bowl, e à beira da guerra. Eles forneceram fantasias de poder para muitos americanos que se sentiam impotentes.

Página 7


Reed Tucker é um escritor e jornalista norte-americano. Escreveu para vários portais como New York Post, Esquire, USA Today, the New York Times e a revista da Oprah.

Pontos positivos
Marvel vs. DC
Bem escrito
Bem pesquisado
Pontos negativos
Não tem imagens
Pode ser básico demais para leitores experientes


Título: Pancadaria: por dentro do épico conflito Marvel vs DC
Título original em inglês: Slugfest: Inside the Epic, 50-year Battle between Marvel and DC
Autor: Reed Tucker
Tradutor: Guilherme Kroll
Editora: Fábrica 231 (Rocco)
Ano: 2018
Páginas: 336
Onde comprar: Amazon


Avaliação do MS?
Foi uma jornada muito gostosa de acompanhar. O autor escreve bem, a leitura flui sem que você perceba e de repente acabou mais um capítulo. Fãs de quadrinhos, dos mais aos menos experientes, vão curtir essa leitura que vai desde os primórdios das gigantes dos quadrinhos, até as atuais trocas de farpas de atores e diretores na imprensa. Em alguns momentos ele pode parecer distante da nossa realidade, já que tem muito a ver com a história e o momento norte-americano, mas consumimos tanto material de lá que dá para passar por essa parte tranquilamente. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!

MUITO BOM!

Até mais! 🦹‍♀️


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