Resenha: Rainhas Geek, de Jen Wilde

Quando você curte nerdices e cultura pop e é mulher seus gostos sempre precisam ser justificados. Não só você tem que saber de tudo, quanto precisa ter um motivo pra gostar de alguma coisa. Toda mina nerd já passou por isso, de gente duvidando que você realmente goste/saiba, até gente dizendo que você só gosta por causa do namorado. Pois Rainhas Geek chegou pra avisar que SIM, você pode e deve gostar de qualquer coisa que quiser e ninguém tem o direito de te julgar por isso.

Parceria Momentum Saga e editora Planeta

O livro
Quem já participou de eventos literários/nerds/geeks deve ter sentido uma animação sem igual, uma ansiedade insuperável de estar entre os seus. De estar entre pessoas que entendem seus gostos e que sabem o quanto eles são importantes para você. Se um parente nos pergunta "mas por que você acha Tal Coisa tão importante assim?", ficamos indignados, mas também não conseguimos responder, porque a pessoa não vai entender. É ou não é? Já cansei de tentar explicar pra outras pessoas porque Star Trek é tão importante pra mim, então deixo quieto mesmo.

Resenha: Rainhas Geek, de Jen Wilde

Rainhas Geek parte desta premissa quando começamos a leitura. Acompanhamos a jornada de duas amigas australianas que vão para a SupaCon, nos Estados Unidos. Elas vão junto de um amigo de longa data e o trio entra na convenção semelhante à ComicCon, muito animados pelos dias que virão. E quem não estaria, é o sonho de qualquer pessoa!

Charlie é uma famosa Youtuber australiana que estreou um filme de baixo orçamento que acabou virando um sucesso. Ela namorava seu par romântico no longa, mas que descobriu ser um completo babaca depois. E Taylor, grande amiga e confidente de Taylor, realiza o sonho de ir à uma SupaCon, já que ela terá a oportunidade de conhecer sua escritora favorita, tanto que ela faz cosplay da personagem principal da série. As duas estão na companhia de Jamie, amigão pra todas as horas, que é apaixonado por Taylor desde sempre.

Interessante apontar que um livro de pouco mais de 250 páginas tenha tanto conteúdo. Tanto que às vezes os assuntos foram tratados apressadamente. Aqui temos amor, reconhecimento, relacionamentos abusivos, autismo, fandom, amizades, sexualidade. Charlie, por exemplo, é bissexual e seu ex-namorado não consegue lidar muito bem com a informação, o machista otário que é. O problema é que os fãs do canal e do filme ainda shipam os dois, mesmo com o término e o escândalo que ele causou na imprensa e Charlie é obrigada, por motivos de contrato e publicidade, em ter que aparecer ao lado dele o tempo todo.

Foi bem revigorante ler os temas tratados pela autora, como crises de pânico e ansiedade que Taylor tem alguns momentos. E é a vida geek, as nossas nerdices que tantos acham coisa boba, as personagens que amamos, que muitas vezes nos dão a força necessária para levantar da cama e encarar o dia. É aí que entra a importância de eventos especialmente voltados para os apaixonados por livros, quadrinhos, games, filmes. Preciso ressaltar que esses eventos devem ser lugares seguros pras pessoas. Um evento que não chame mulheres pras suas mesas, que seja homofóbico e racista não entendeu o que a cultura pop/nerd/geek significa para todas nós.

(...) não tem jeito certo de ser uma garota, Tay. Não precisa se enquadrar em como a sociedade diz que uma garota deve ser. As mulheres podem ser quem quiserem ser.

Página 175

Em alguns momentos, a narrativa de Jen me incomodou. São diálogos pobres e mal construídos em alguns momentos e por vezes ela criou situações que me pareceram forçadas. Não sei se tenho a idade do público alvo, mas senti que ela poderia ter elaborado melhor algumas passagens que pareceram superficiais. Tirando isso, foi uma leitura muito proveitosa. Houve momentos em que me identifiquei muito com a Taylor, pois ela não se encaixa no padrão feminino que vemos na mídia e ela acha que ninguém gostará dela assim. Quantas vezes ouvi a mesma coisa...

A edição da Planeta segue o padrão da capa gringa, com os cabelos rosa de Taylor na frente e atrás. A capa, porém, não tem as usuais orelhas que muitos livros têm, então ela acaba deformando, ficando meio aberta, conforme você vai lendo. O corte da brochura é arrendondado e a edição não tem grandes problemas de revisão ou tradução, que ficou na mão de Débora Isidoro.

Obra e realidade
Por muito tempo eu tive que ocultar meus gostos nerds dos meus amigos e colegas de trabalho. Desde o colégio, eu era marcada como a nerd (na época em que era uma ofensa) e tinha que evitar me sobressair pra não passar por esquisita, arrogante ou ambos. Em geral, essas pessoas acham que seus gostos são apenas escapismo, ou pior, acham que é coisa boba, coisa de criança e que adulto não deveria gostar disso. Elas não entendem a importância de Mulder e Scully, do capitão Sisko ou da capitã Janeway, de Sam e Dean, da coronel Samantha Carter, pra você. Por isso livros como Rainhas Geek e eventos de fãs são tão importantes, pois são espaços onde os fãs encontram fãs. Além é claro do poder agregador da internet.

Jen Wilde

Jen Wilde é escritora, geek e fangirl com viciada em café, livros e pugs. Escreve histórias de zumbis, bruxas e nerds. Jen adora assistir Netflix, comer pizza, viajar para lugares distantes e ir à convenções fazendo cosplay de Marty McFly.

Aprendi cedo que preferia ser diferente a ser parte de uma multidão sem graça.

Página 165

PONTOS POSITIVOS
Charlie, Taylor e Jamie
Cultura Nerd
SupaCon
PONTOS NEGATIVOS
Apressado em alguns momentos
Capas entortam

Título: Rainhas Geek
Título original em inglês: Queens of Geek
Autora: Jen Wilde
Tradutora: Débora Isidoro
Editora: Planeta (selo Minotauro)
Páginas: 256
Ano de lançamento: 2018
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Rainhas Geek é uma celebração ao orgulho; orgulho de ser quem você é, orgulho de seus gostos e orgulho de estar entre aqueles que a compreendem e respeitam. Queria que todo o meio nerd fosse assim, acolhedor e respeitoso, porém sabemos que não é assim. Por isso, mais do que nunca, precisamos de obras e eventos que nos representem. E Rainhas Geek é um deles. Quatro aliens para o livro e uma forte indicação para você ler também!

MUITO BOM!

Até mais! 🍭

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