Um dos principais erros que alguém pode cometer ao começar a ler a Saga da Conquistadora, é achar que é "só mais uma trilogia pra adolescentes". Os personagens até podem ser jovens, mas não tem nada aqui que você nunca tenha lido em qualquer romance histórico de autores consagrados. Toda a trilogia é uma saga brutal de sangue e conquista da parte de Lada Dracul, filha de Vlad, o Empalador, que toma o lugar do pai nesta versão da história e se torna o próprio Dragão da Valáquia.
O livro
Primeiro eu li este livro em inglês e depois de resenhar descobri que Plataforma 21 estava trazendo a saga para o Brasil. Aí esperei os lançamentos dos livros em português para ler, ainda que em ebook, para completar minha jornada com Lada, Rady e Mehmed. E que jornada! Nós começamos com o nascimento de Ladislav, ou apenas Lada, primogênita de Vlad, o Empalador. A licença poética da autora começa aqui, pois essa filha nunca existiu, mas ficção é essa imensa pergunta "E SE?". Por ser uma menina, seu pai, cruel e brutal, presta pouca atenção nela. E quando vem um menino, o belo Radu, o menino também não chama sua atenção, pois vive chorando, agarrado às saias da ama, Oana, que praticamente cria as crianças.Enquanto Lada era como a grama resistente que crescia em meio às frestas de uma superfície seca e rochosa, Radu era como uma flor delicada que só desabrochava em condições absolutamente perfeitas.
Uma das coisas que Oana ora quando toma Lada no colo é que ela seja uma menina feia, pois ela sabe o que acontece com belas moças da nobreza, sempre usadas como moeda de troca em negociações de seus pais. Lada não é uma sumidade de beleza e isso não foi usado nenhuma vez pela autora para desmerecer a personagem. Lada é forte, inteligente, corajosa, brutal na forma como expressa seu amor pelo irmão, mas que luta por ser reconhecida como digna por seu pai.
E ela não é reconhecida, tanto que Vlad, para se manter no trono como voivoda (príncipe) da Valáquia, envia seus filhos para a corte otomana para servirem de reféns do sultão Mehmed I, uma garantia de sua lealdade. Essas duas crianças são enviadas sozinhas para um lugar exótico e estranho e é claro que Lada é a primeira a reagir com ferocidade. Felizmente eles fazem um amigo, Mehmed, filho do sultão com uma concubina de seu harém.
Eu admito que até essa parte da história, estava com medo de que se tornasse um romance água com açúcar, que Lada perdesse metade do cérebro e se apaixonasse por Mehmed. Isso é muito comum em várias sagas distópicas ou de fantasia onde a protagonista conhece um rapaz e morre de amores por ele sem que ele sequer abra a boca. Lada acaba nutrindo sim sentimentos por Mehmed, mas odeia esse sentimento. Lada sabe que por ela ser mulher, a sociedade lhe impõe papéis que ela não quer. Tanto que quando sua primeira menstruação vem, ela queima as roupas na lareira do quarto para ninguém saber, pois é o sinal de sua maioridade e que, assim, já pode ser casada com um nobre qualquer.
Esse ímpeto de Lada é o que faz você se encantar pela protagonista. Acredite, ela ficará ainda mais brutal daqui por diante, mas o fato de ela ser fora de qualquer estereótipo conhecido a transforma em uma pessoa muito real, muito próxima. Lada acaba entrando para os janízaros, guarda de honra do sultão e treina ao lado dos homens que vieram de vários cantos do império, inclusive da Valáquia e é aqui que ela começa a forjar alianças para o futuro. Como os janízaros eram basicamente escravos assalariados, muitos deles tinham ressentimento dos otomanos e não foi difícil conseguir aliados ali.
Radu é, sem dúvida, outro personagem fascinante, pois ele também nutre sentimentos por Mehmed e fica confuso demais com isso. Se nos dias de hoje um rapaz gay acaba sofrendo pelas mãos da família, de amigos, da sociedade em geral, no século XV não seria diferente e ainda mais perigoso. Radu se converte rápido aos Islã, que foi tratado com muito respeito pela autora, e seu coração segue em dúvida sobre sua atração por Mehmed. É só pelo amigo? Ele sentiria isso por outro homem? Foi uma discussão fascinante feita aqui por Kiersten.
A construção dos cenários, dos personagens, até mesmo daqueles que não têm tanta expressão, está excelente. Como eu li a versão em ebook, não posso falar da edição física, mas a tradução de Alexandre Boide está ótima e não tem grandes problemas de revisão ou tradução no volume.
Obra e realidade
O Império Turco Otomano foi fundado no fim do século XIII no noroeste da Anatólia, na atual Turquia. Depois de 1354, os otomanos foram para a Europa, e com a conquista dos Bálcãs, o Beilhique Otomano foi transformado em um império transcontinental. Os otomanos acabaram com o Império Bizantino com a conquista de Constantinopla em 1453 por Mehmed II, o Conquistador, o mesmo Mehmed que conhecemos ainda criança neste livro. Se você quer acompanhar essa jornada de conquistas, o segundo livro traz mais informações sobre o período!Kiersten White é uma escritora norte-americana de livros infantis e para jovens adultos. Nascida em Utah, é formada em língua inglesa e mora em San Diego, Califórnia com a família.
PONTOS POSITIVOS
Lada e Radu
Império Otomano
Construção de mundo
PONTOS NEGATIVOS
Se alonga demais em algumas partes
Lada e Radu
Império Otomano
Construção de mundo
PONTOS NEGATIVOS
Se alonga demais em algumas partes
Avaliação do MS?
Você já deve ter notado que eu sou apaixonada por essa saga e que eu vou indicar a leitura certo? Então é isso aí. Leia a Saga da Conquistadora. Se você tem preconceito com livro para jovens adultos, invista nesta trilogia, que eu tenho certeza que vai tirar o seu ranço para obras juvenis. Foi um a grande aventura acompanhar Lada e Radu. Cinco aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!Até mais!
Um dragão não rastejava diante dos inimigos, implorando ajuda. Um dragão não receberia os infiéis em sua própria casa depois de jurar exterminá-los. Um dragão não fugiria de seus domínios no meio da noite como um criminosos qualquer. Um dragão queimaria tudo ao seu redor até não restasse nada além de cinzas qualquer.
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