Deuses Caídos foi uma das apostas da Editora Suma no terror nacional. Passando-se numa Rio de Janeiro suja e decadente, uma série de bizarros assassinatos coloca um padre e uma inspetora da policial civil no caso que vai mexer com as estruturas sobrenaturais da cidade. Mas algo aqui não deu muito certo...
O livro
Judas Cipriano é um padre nem um pouco convencional e que possui dons celestiais. Quando um terrível assassinato de um pastor é transmitido pela internet, seguido de outras mortes grotescas, a Sociedade de São Tomé, temendo a revelação do mundo sobrenatural às pessoas comuns, apela para os serviços de Judas que, trabalhando com Júlia Abdemi, da Polícia Civil do Rio, vão tentar decifrar as misteriosas mortes.O autor usou uma linguagem carregada de palavrões, palavras de baixo calão e um linguajar bem suburbano nos diálogos de seus personagens, o que traz para quem lê uma experiência visceral em meio às cenas. Com palavras mais próximas da nossa, sem rebuscamento, é possível se sentir mais inserido nos eventos que lemos. O escracho do autor é proposital nesse sentido. Os sotaques, as expressões da polícia, os maneirismos, está tudo aqui.
Além disso, há uma grande diversidade de personagens e críticas que os acompanham. O próprio Judas, por exemplo, se define como "100% veado", apreciador da zona do baixo meretrício do Rio e das travestis. Júlia é uma mãe solo, que batalha todos os dias pelo bem-estar da filha e que também é dotada de um poder especial. O mistério dos assassinatos envolve um componente sobrenatural que apenas entidades igualmente sobrenaturais podem ler e assim ajudar Judas e Júlia.
Tendo crescido na elite da Zona Sul, sendo a única aluna negra em uma das escolas mais caras da cidade, Júlia sabia que as pessoas odiavam o diferente, ainda mais se esse diferente se destacasse. No ginásio, a pele de ébano e as íris mercuriais lhe renderam a inveja das patricinhas, que a apelidaram de 'gata preta da macumba'. As notas altas só pioraram a situação.
Página 24
Existem várias discussões religiosas, o que era de se esperar pela própria ocupação de Judas. Discussões sobre a própria cidade do Rio de Janeiro e suas injustiças, sua contínua exclusão de negros, pobres e mulheres e a perpetuação do mal pelas mãos de quem nada faz para impedi-lo. No entanto, me pergunto se o povo carioca e a própria cidade gostariam de ser expostos dessa maneira, pois nada de benigno parece existir pelas ruas e provavelmente para muitos grupos marginalizados não deve mesmo existir, mas não há nada para acalentar o mal aqui.
Para os fãs de gore e terror explícito, o livro é um prato cheio. Infelizmente, o excesso é o que marca o livro, como se o autor quisesse legitimar a obra pelo excesso. E é o excesso de tudo: de gore, de sexo, de palavrões, de escrotice, de mortes, de cultura pop, de entidades, de mau gosto. Isso foi algo que me incomodou muito durante a leitura. Não precisa de todo o panteão de criaturas sobrenaturais deste universo conhecido para compor o enredo. Com menos da metade dava pra ter criado uma equipe sólida e competente de personagens que convenceria quem está lendo de continuar na história.
Por mais bem escritos que os personagens principais fossem, não consegui simpatizar com eles, especialmente Judas, que cai no estereótipo do protagonista com passado problemático e que não consegue se reerguer, e cheguei ao final sem me importar com quem vivia ou quem morria, sem saber ao menos o que tinha lido ali. Os excessos acabam te distraindo do que é importante, que é a investigação dos crimes brutais e os excessos lotam nossas mentes e chega uma hora que você não se importa mais com o que está acontecendo.
A edição da Suma tem uma bela capa, está bem diagramada e revisada e praticamente não encontrei problemas de revisão ou digitação.
Obra e realidade
Cada vez mais a ficção especulativa brasileira vem ganhando espaço entre as prateleiras brasileiras. São romances, contos e novelas que, mesmo que não se passem no Brasil, carregam aquele brasileirismo bem-vindo, com nossas experiências, nosso jeito de falar, nossa sociedade multicultural e problemática. Cada vez mais, as grandes casas editoriais estão percebendo o público que carece de tais obras e vem prestando atenção no que nossos escritores estão produzindo. Espero ver mais e mais produções nossas sendo lidas em todos os gêneros.Gabriel Tennyson é carioca, fã de games, séries e RPG. Deuses caídos é seu livro de estreia.
PONTOS POSITIVOS
Júlia
Rio de Janeiro
PONTOS NEGATIVOS
Gore
Excesso de tudo
Final em aberto e abrupto
Júlia
Rio de Janeiro
PONTOS NEGATIVOS
Gore
Excesso de tudo
Final em aberto e abrupto
Avaliação do MS?
Queria ter curtido mais a leitura. Queria ter me sentido inserida na história, de ter acompanhado a jornada dos personagens com mais prazer do que tive. É uma boa ideia, mas que carecia de uma execução melhor. No fim, a impressão é de que virá uma continuação, mas não sei se tenho disposição para ler. Três aliens para o livro.Até mais!
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