O que eu sabia sobre o Cangaço antes de ler este livro era muito básico. Conhecia uns dois ou três nomes e só. Eu não tinha ideia do que realmente se tratava e nem que era tão violento. Houve momentos em que tive que parar a leitura, pois eram cenas de torturas, estupros e assassinatos brutais que você precisa parar e pegar outra coisa para ler. O livro serve de pontapé inicial para quem quer estudar o Cangaço e também para conhecer melhor a figura de Maria Bonita.
Siga a @Sybylla_
Editora Objetiva
O livro
Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista.
Adriana Negreiros
Criou-se no imaginário de muita gente que Maria Bonita seria um ícone feminista e que Lampião era um tipo de Robin Hood do sertão. Existem algumas passagem que mostra a "justeza" com que Lampião tratava os comerciantes locais, e coisas do tipo, mas isso não pode servir para relevar a intensa violência e brutalidade do grupo e a forma horrenda com que tratava as mulheres, com sequestros, estupros, mutilações e torturas. O livro nesse sentido é bem gráfico nas descrições que faz da situação da mulher na época e deixo um aviso de gatilho para estupro, pois eles são descritos, não como maneira de chocar a audiência, mas apenas para mostrar a verdadeira natureza dos homens do bando.

Maria de Déa era sim transgressora para seu tempo. Saía sozinha e ia para os bailes, ignorava os mandos e desmandos do marido que a traía com meio mundo, ria alto e tinha personalidade forte, tudo o que contradizia a visão da mulher bela e recatada que devia ser submissa. Maria era o exato oposto disso e talvez esse sentimento transgressor tenha sido a origem da atração que ela possuía por Lampião. Ela inclusive foi a primeira mulher a acompanhar o bando, abrindo caminho para outras, o que não quer dizer que isso seja bom. Não havia nada de feminino no bando, ele foi comandando pela misoginia e pela violência.
Os estupros e sequestros perpetrados pelo bando eram frequentes. Eles eram violentos, especialmente um tal de Corisco, que sequestrou uma menina, de 12 de idade, estuprou e depois a assumiu como companheira. Quando estavam acompanhados das esposas, os estupros ocorriam menos, mas na visão do bando, a mulher era estuprada "porque queria". E filhas e esposas daqueles que os escondiam e apoiavam eram preservadas, já as outras sofriam destinos terríveis. E nada mais terrível do que ser violentada e ainda por cima contar com a descrença da sociedade, das autoridades e poder morrer por causa disso.
Mulheres de cabelos curtos e com saias acima do joelho também eram alvo do bando, onde elas eram marcadas a ferro, como gado, nas pernas, nádegas, braços, busto e no rosto. Mulheres adúlteras também sofriam destinos semelhantes e cruéis, mesmo que Maria Bonita fosse uma, tendo largado o marido para se juntar ao bando de Lampião. O bando é notadamente marcado pela violência e pela contradição.
A mulé de Lampião
É faceira e é bonita
Cada cacho do cabelo
Tem cinco laços de fita
Lampião e seu bando faziam e aconteciam devido ao acobertamento dado por políticos, fazendeiros e policiais das cidades por onde passavam. É isso o que garantiu sua longevidade e toda a criação de um mito sobre eles, o que fez até que marcas e empresas os quisessem como material de marketing. O fato de os dados sobre as mulheres ser escaço prejudicou a profundidade das biografias, porém o que a autora conseguiu levantar foi bem pesquisado e registrado no livro, que também conta com a reprodução de algumas raras fotos do bando e de seus membros.
É um livro pequeno, com narrativa direta e sem tropeços, mas muito densa e muito difícil de acompanhar tamanha a violência do bando. O livro está bem diagramado e sem erros de revisão. O fato de ser pequeno, pode deformar a brochura conforme você avança na leitura, então cuidado quando tentar abrir melhor as páginas para ler.
Obra e realidade
A autora comenta que o que mais a chocou na pesquisa sobre o Cangaço e Maria Bonita foi como os relatos das mulheres foram desacreditados e tidos como exagerados, mesmo que todo mundo soubesse da extrema violência de todos os membros do bando. O caso que mais me chocou, o de Dadá, raptada aos 12 anos e violentamente estuprada por Corisco, era tida como exagerada quando relatava com detalhes os estupros que sofreu por ele. O jornalismo exige ceticismo, mas não para ler estes relatos e achar que elas estavam lá porque queriam ou que gostavam da violência. É só uma vez a mídia machista falando o que quer de mulheres brutalizadas.
Adriana Negreiros, além de escritora, é jornalista graduada pela Universidade Federal do Ceará e filósofa pela Universidade de São Paulo. Mora em São Paulo há alguns anos e já foi editora responsável das revistas Playboy e Claudia.
Pontos positivos
FotosPesquisa
Baseado em fatos reais
Pontos negativos
Violência
Estupro

Avaliação do MS?

Até mais!
Adorei o livro!
ResponderExcluirGostei muito do livro, mas como vc disse é difícil de ler tanta violência e estupro. A história da Dada é de cortar o coração. Tem um documentário chamado "os últimos cangaceiros" q tb é muito bom!
ResponderExcluir