Fãs de quadrinhos precisam deste livro. Sim, precisam. Quem curte ler uma biografia também. Quem gosta de uma história cheia de reviravoltas, idem. Este é um daqueles livros que prestam uma homenagem tardia a um dos grandes quadrinistas do século XX e que por muito tempo não teve o reconhecimento que merecia por ter criado este que é um dos mais icônicos personagens da cultura pop de todos os tempos: o Superman.
O livro
Poucas pessoas, tipo eu assim, sabe?, conhecem os bastidores da criação do Superman, personagem dos quadrinhos que revolucionou a cultura pop e ainda hoje é um dos personagens dos quadrinhos mais lembrados e amados dos últimos tempos. Eu conhecia alguns detalhes do personagem nos seus primórdios, mas nada me preparou para a leitura deste livro aqui.O S estilizado no peito do personagem é facilmente reconhecível por praticamente qualquer pessoa. Este livro é uma homenagem e uma biografia, ainda que romanceada, dos principais momentos da vida de Joe Shuster, que junto de Jerry Siegel, criou o Superman. A história começa com um um policial encontrando um senhor dormindo em um banco de praça, em 1975. O policial o leva para uma lanchonete lhe pagar uma refeição, pois aquele senhor parecia não se alimentar havia dias.
Conversa vai, conversa vem, o policial descobre que aquele senhor que não enxerga muito bem fazia quadrinhos e que era um ilustrador original do Superman. Assim ele conta sua história para o policial curioso e fã do homem de aço. Com um traço nostálgico e belíssimo, acompanhamos a juventude de Joe, desde a chegada de seus pais aos Estados Unidos, imigrantes judeus vindos da Holanda, que se assentaram no Canadá em um primeiro momento.
Seu pai lia as tirinhas com Joe no colo quando o filho nem sabia ler. Adorava o cinema, mas as tirinhas de jornal lhe atraíam mais. Aos dez anos, ele se muda com a família para Cleveland, o pai arrumou um novo emprego. Foi na escola que Joe começou a mostrar seu trabalho e a paixão pelo desenho. O jornal escolar se chamava O Federalista e foi por intermédio de um colega de jornal que ele conheceu Jerry Siegel. Os dois se deram bem de imediato, fãs de ficção científica e cultura pop que eram.
Os ávidos leitores de revistas pulp liam as extraordinárias aventuras e depois as recontavam de sua maneira. Entre indas e vindas e fatos dolorosos da vida, depois de muito mandar suas histórias para revistas, Jerry começou a publicar por conta usando o mimeógrafo da escola. Indas e vindas também marcaram a entrada dos dois nas grandes revistas e editoras. Mas um dia, os dois começaram a rascunhar o que viria a ser o famoso homem de aço, reaproveitando um rascunho de Jerry. Ele usaria seus poderes para combater o crime, espalhar o bem e era também um imigrante, tal como Jerry e Joe vinham de famílias que fugiram da Europa.
Usando uma modelo para a Lois Lane, que foi introduzida porque Jerry achava que Clark Kent devia ter uma namorada, e fazendo poses para Joe desenhar, começava a surgir o kriptoniano. Quando o conceito finalmente agradou à indústria, uma enxurrada de injustiças começou. Primeiro, a venda dos direitos por um valor irrisório e a impossibilidade dos autores de receberem por ele. Depois as longas batalhas judiciais extremamente desgastantes contra gigantes da indústria que vinham fazendo aquilo há muito tempo. Joe era muito quieto, muito tímido, era o artista que só queria desenhar, deixando as decisões administrativas para Jerry. De repente, eles se viram desamparados e sem dinheiro, enquanto o personagem que criaram juntos bombava nas bancas.
Esta não é apenas uma homenagem justa a Joe Shuster como também nos dá um panorama da indústria de quadrinhos da época. São muita referências históricas, muita pesquisa da parte de Julian Voloj para compor o livro, com a belíssima arte de Thomas Campi, que completa o cenário melancólico que dá o tom da narrativa. Não tem como não sentir compaixão por Joe e por tudo o que ele passou para ter o merecido reconhecimento.
A edição da Aleph é lindíssima, em papel couché encorpado no miolo. O prefácio é de Chelle Mayer, neta de um dos editores que descobriu o Superman, com apresentação de Sidney Gusman, do portal Universo HQ. No final, há uma bibliografia e várias páginas com notas, de onde Julian tirou inspiração para as cenas. A tradução é de Marcia Men e está perfeita.
Os ideais que tornaram o Superman uma das maiores propriedades dos quadrinhos de todos os tempos e que causaram sua criação... nominalmente, a compaixão e um desejo de ajudar os oprimidos... foram transformados em uma máquina de fazer dinheiro pela organização que cruelmente arruinou as vidas de nós dois, minha e de Joe, e nos privou dos frutos de nossa criação, o Superman.
Página 162
Obra e realidade
O livro é uma versão romanceada da vida dura e sofrida de Joe, o que não quer dizer que seja menos triste e impactante. Há um aviso de que é uma obra de ficção minuciosamente pesquisada e embasada na vida real de Joe Nem sempre nos damos conta do trabalho duro de tantos artistas por trás de suas criações. Tendemos a achar que um artista está nadando na grana, quando na verdade ele pode estar juntando moeda para comprar pão porque não recebe das editoras ou teve sua obra apropriada de maneira indevida. Livros como este tentam desfazer um pouco da injustiça, ainda que Joe e Jerry não estejam mais presentes.Julian Voloj é alemão e é especialista em graphic novels e adaptações literárias. Thomas Campi é italiano, tendo trabalhado como designer e ilustrador para grandes agências e editoras da Europa.
PONTOS POSITIVOS
Ilustrações e arte
Baseado em fatos reais
Pesquisa
PONTOS NEGATIVOS
Lois Lane
Acaba logo!
Ilustrações e arte
Baseado em fatos reais
Pesquisa
PONTOS NEGATIVOS
Lois Lane
Acaba logo!
Avaliação do MS?
Não esperava muito do livro e fui agradavelmente surpreendida pela história e pelo desenrolar dos fatos. Não tinha a menor ideia de todo o sofrimento dos criadores do Superman, nem da sacanagem feita com eles que durou décadas. É um livro que resgata essa história pessoal, ainda que romanceada, que resgata os bastidores das histórias em quadrinhos em seus primórdios e que também faz uma reflexão profunda sobre o valor do artista para a sociedade, muitas vezes visto como alguém que deve apenas trabalhar por amor. Leitura super recomendada e obrigatória!Para o alto e avante!🤜
Todos os heróis da Marvel e DC foram criados da mesma maneira. Outro exemplo disso foi o Stan Lee, recentemente falecido, que ajudou a criar o universo Marvel praticamente inteiro e nunca viu a cor do dinheiro. Recentemente, quando começou a ganhar algum, aí começou os abusos da filha sobre ele. Triste...
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