Resenha: Graça e Fúria, de Tracy Banghart

Sabe quando você lê um livro e se sente contemplada por ele? Que te deixa com aquele gostinho de derrubar o patriarcado e de coração aquecido? Tracy Banghart conseguiu criar um enredo assim, onde o empoderamento e a união feminina são as chaves que podem abrir as portas do mundo para todas nós. Este é mais um daqueles livros que eu queria ter lido quando era adolescente



Parceria Momentum Saga e
Editora Seguinte


O livro
Serina Tessaro e sua irmã mais nova Nomi moram em Viridia, um lugar onde mulheres não têm direitos. Se uma mulher for pega lendo um livro, isso é punível com prisão. A situação de algumas mulheres pode melhorar se elas forem escolhidas como Graças (leia-se concubinas, pois é basicamente isso o que elas serão). O superior, ou rei, e seu herdeiro, podem escolher suas graças de tempos em tempos, sempre em três. Serina, a mais velha e tida como a mais bonita da família, treinou uma vida inteira para ser bonita, submissa e disponível. Aqui já temos a primeira alfinetada da autora: não é assim que somos criadas? Não ria alto, não emita opinião própria, se desculpe o tempo inteiro, não seja ambiciosa demais, nem inteligente demais. Taí, todas fomos criadas para sermos graças.


A lei proibia que as mulheres lessem. Na verdade, a lei proibia que fizessem praticamente qualquer coisa além de parir, trabalhar em fábricas e limpar a casa de um homens ricos.

Página 20

Naquele ano, o herdeiro, Malachi, escolheria suas graças e Serina é enviada para a capital com Nomi, que se tornou sua aia, para a sessão de escolha. Ser uma graça livrava a moça de uma vida na pobreza. Como mulheres não têm direitos, elas possuem poucas opções, podendo ser tornar operárias, criadas, mães e esposas. A graça representava o ideal máximo de beleza, obediência e elegância. Assim, Serina aprendeu com a mãe a duras penas a como ser uma moça perfeita para ser graça.

Enquanto Serina é obediente, Nomi é obstinada, fala o que pensa, é autodidata e não se conforma com a maneira da irmã de encarar o mundo. Mas como mudar o sistema sozinha? A esperança de Serina em se tornar graça é justamente a de colocar a irmã na linha. Mas qual não é a surpresa de todo mundo quando o herdeiro Malachi escolhe Nomi ao invés de Serina? A vida das irmãs acaba de cabeça para baixo. Nomi nunca treinou para ser uma graça e está apavorada. Serina está ressentida, sem saber como que o herdeiro escolheu sua rebelde irmã e não a ela.

Este evento é o momento crucial da vida das irmãs, pois vai mudar tudo dali em diante. As duas estarão em situações inéditas, tendo que patinar para se adaptarem ao meio em que estão. Conforme a leitura avançava, meu medo era que Serina acabasse querendo descontar na irmã todo o infortúnio que recai sobre ela - e acredite, a situação de Serina vai se tornar muito pior do que simplesmente se tornar uma aia. Felizmente a autora não vai por esse caminho.

Como eu recebi a prova do livro e não a versão definitiva, alguns erros que encontrei de revisão e tradução devem ser arrumados para a versão final. Espero muito também que tenhamos um mapa para podermos nos localizar espacialmente já que os capítulos se alternam entre Nomi e Serina e elas estão em locais diferentes. No começo, achei que Nomi confia rápido demais em um personagem, porém a confiança se justifica pelo desespero dela em tentar resolver a situação difícil em que ela está.

Inicialmente, aquele mundo me irritou bastante, mas eis que a revelação chega e te joga na cara o porque de Viridia ser daquele jeito. Vale à pena resistir os primeiros capítulos, você vai entender o que estou dizendo. Adorei a capa e a contra capa, que mostram as irmãs em roupas e locais distintos, mas temo que muita gente vai pensar que se trata de um "romance água com açúcar" e acabe se afastando dele. Senti também que a autora poderia ter expandido muito mais o universo para que o víssemos plenamente. Não sei como ela pretende tratar disso no segundo volume, mas espero que consiga delineá-lo melhor.


Ficção e realidade
Recentemente li um texto que falava do por que as distopias vinham massacrando e torturando mulheres para poderem contar histórias de opressão e misoginia. Graça e Fúria fala de um mundo misógino, que manter mulheres em constante separação para que não se unam, pois sabe que mulheres unidas, que trabalham juntas, são muito fortes. Tracy conseguiu tocar em todos esses pontos, mas não se baseando na violência e tortura. Sim, um mundo que impede mulheres de ler e as obrigam a treinar para serem graças é em si violento, mas é possível construir a narrativa em cima disso sem chocar quem está lendo.

Tracy Banghart
Tracy Banghart

Tracy Banghart é uma escritora de livros juvenis e para jovens adultos norte-americana. Ela mora no Havaí com o marido, o filho e animais de estimação.


Não era culpa de Serina se Viridia dava tão poucas escolhas às mulheres. Ela tinha aprendido havia muito tempo que não adiantava lutar, então procurava fazer o máximo com o que tinha.

Página 10

Pontos positivos
Protagonistas femininas
Emponderamento
Críticas ao patriarcado
Pontos negativos


Meio devagar até a primeira metade

Título: Graça e Fúria
Título original em inglês: Grace and Fury
Série: Graça e Fúria
1. Graça e Fúria
2. Glória e ruína
Autora: Tracy Banghart
Tradutora: Isadora Próspero
Editora: Seguinte
Páginas: 300
Ano de lançamento: 1º de agosto de 2018
Onde comprar: na Amazon


Avaliação do MS?
Gostaria de ter tido livros assim quando eu era adolescente. Já comentei várias vezes o quanto queria ter lido jovens moças e mulheres que se ergueram para mudar seus mundos, que não se dobraram ao poder vigente. Me sentiria muito mais contemplada e representada ao ler sobre esses grandes feitos. Felizmente hoje temos esses livros que certamente estão inspirando moças e mulheres a sempre quererem mais do que o mundo lhes oferece. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também.


Até mais! 🌸

Tudo naquele mundo, até as prisões, colocavam as mulheres umas contra as outras enquanto os homens só observavam.

Página 187

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