Resenha: O Feiticeiro de Terramar, de Ursula K. Le Guin

O Feiticeiro de Terramar é uma unanimidade entre vários autores de ficção, pela influência de seu enredo em seus escritos. Patrick Rothfuss, Joe Abercrombie e Neil Gaiman já reiteraram a importância da obra de fantasia de Ursula em suas vidas e juventudes. Publicado em 1968, o livro foi um desafio para a própria autora, que nunca tinha escrito um livro juvenil antes.

Parceria Momentum Saga e editora Arqueiro

O livro
Este é o primeiro volume da série Ciclo Terramar. O livro nos conta a história do maior feiticeiro que Terramar já viu, nascido na ilha de Gont. São muitos nomes de ilhas e territórios neste livro, mas há um mapa bem detalhado no começo para podermos acompanhar o caminho que nosso feiticeiro, Ged, faz. Criado à margem dos outros irmãos e tendo perdido muito cedo a mãe, Ged era um garoto que ninguém prestava muita atenção, em especial pelo pai.

Resenha: O Feiticeiro de Terramar, de Ursula K. Le Guin

Genioso, orgulhoso, uma vez ouviu a irmã de sua mãe proferir algumas palavras e ao repeti-las, sem saber exatamente o que queriam dizer, sua tia percebeu que havia algo de especial nele. A magia era muito forte na criança e assim tentou lhe ensinar o que podia e o que sabia. Um dia, sua ilha sofre um ataque de um povo branco e bárbaro e para proteger a aldeia e seu povo, Ged conjura uma terrível neblina, tão forte que os invasores não conseguiam ver um palmo na frente do nariz. Isso porém lhe custou: o garoto ficou cego, preso na própria mente, praticamente em coma e sua tia nada podia fazer para ajudar.

A história do pequeno menino que salvou uma aldeia inteira se espalha rápido e algum tempo depois chega um importante e respeitado mago, Ogion, que o toma por aprendiz, restaurando sua saúde primeiro. Mas Geg é impaciente, egoísta, não gosta de ser desafiado e logo perde a paciência com o mestre que tão pacientemente tenta lhe ensinar as nuanças da magia. Ao cometer um erro na cabana do mestre, ele lhe dá a opção de ficar ou de partir para a ilha de Roke, onde fica uma das duas escolas de magia.

A jornada de Ged e sua busca desenfreada pelo poder absoluto da magia o leva a ter que enfrentar o mal que ele mesmo foi o responsável por soltar na terra. Seu orgulho lhe rende mais inimigos do que amigos na escola, enquanto ele busca ser o melhor de todos ali, mesmo tendo menos experiência. Ao liberar esse mal, Ged sente o peso da responsabilidade sobre os ombros, o força a adotar a humildade que tanto lhe faltou antes e o leva à uma jornada por Terramar, tentando descobrir uma maneira de reverter o que fez.

Não se engane pelas poucas páginas, pois é um livro rico em conteúdo. Construção de mundo, em especial, foi muito bem detalhada, com uma diversidade de povos e culturas espalhadas pelas ilhas. A primeira coisa a se notar é que Ged, seu povo e muitos outros são negros, com o tom variando desde muito escuro a claro e há inclusive uma reclamação da autora no posfácio de como muitas capas branquearam seu protagonista. Há também uma explicação de porque a construção das personagens femininas foi tão pobre e estereotipada. Há um óbvio preconceito contra elas em vários diálogos, como esse:

- Ela é apenas uma mulher - retrucou Ged.
- A princesa Elfarran era apenas uma mulher - falou Vetch - e, por causa dela, toda a Enlad foi destruída, o mago-herói de Havnor morreu e a ilha Solea afundou no mar.
- Histórias antigas - disse Ged.

Página 54

Ursula nos conta que, para a época em que foi lançado, O Feiticeiro de Terramar era uma novidade, não havia algo como ele e o livro era convencional o suficiente para não desagradar público e editores. Já era progressista demais ter um livro escrito por uma mulher, com um protagonista negro, algo que é pouco ressaltado nos diálogos e pode passar despercebido para muita gente - como passou para alguns capistas da obra. Felizmente, no livro seguinte, As Tumbas de Atuan, Ursula teve mais liberdade para trabalhar.

A edição da Arqueiro tem uma lindíssima capa, feita pela Ursula Dorada, retratando uma cena de Ged enfrentando um dragão, cena aliás maravilhosa.

Obra e realidade
Quando o livro chegou em casa, temi que não conseguiria ler, já que estou por meses batendo cabeça com A Mão Esquerda da Escuridão, que parece que estou lendo, pelo menos, a um século. Não sei se é a tradução ou o enredo, o estilo, mas O Feiticeiro de Terramar foi uma leitura gostosa e muito rápida. De início, a gente meio que antipatiza com Ged, entretanto isso muda de figura conforme as páginas passam.

Ursula K. Le Guin

Mas Ged é jovem, que descobre que possui um grande poder e anseia por ter mais dele, se possível todo o seu controle. É praticamente uma descrição dos adolescentes que fomos, achando que sabe a resposta para tudo no mundo, que o mundo logo nos pertencerá. É aí que entra a importância de livros como esse, que dialoguem com os jovens e com os jovens que nós já fomos.

Somente no silêncio a palavra,
somente nas trevas a luz,
somente na morte a vida:
o voo do falcão brilha no céu vazio.

- A criação de Éa

PONTOS POSITIVOS
Universo rico e detalhado
Ged e a Sombra
Tem mapa!
PONTOS NEGATIVOS
Acaba logo
Poucas mulheres e estereotipadas

Título: O Feiticeiro de Terramar
Título original: A Wizard of Earthsea
Ciclo Terramar
1. O Feiticeiro de Terramar
2. As Tumbas de Atuan
3. A Praia mais Longínqua
4. Tehanu, o Nome da Estrela
5. Num Vento Diferente
Autora: Ursula K. Le Guin
Tradutor: Ana Resende
Editora: Arqueiro
Ano: 2016
Páginas: 176
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
É fácil entender o efeito que esse livro teve na mente de leitores jovens durante os anos que se seguiram após seu lançamento e como foi fundamental na formação de diversos escritores. Ursula, em tão poucas páginas, criou um universo muito rico e vivo, com um personagem que não é perfeito, mas que aprende e cresce com seus erros. Uma jornada de aprendizado, com magia, perseguições e lições para todos nós. Quatro aliens e uma forte recomendação para você ler também.



Até mais!

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Comentários

  1. Acabei de ler o livro e estou caçando reviews! Adorei como não existe um vilão nessa obra, nem binariedades como bom ou ruim! Também vim da leitura da Mão esquerda da solidão que achei a jornada "final" muito tediosa, porém o mundo apresentado lá também como terramar era simples e rico. Já comprei o 2º livro e irei ver a animação da ghibli quando tiver terminado a série

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