Resenha: A Guerra que Salvou a Minha Vida, de Kimberly Brubaker Bradley

Quando li o primeiro capítulo do livro no site da DarkSide e depois entrevistei a autora, o enredo já tinha me cativado. Mas até começar a ler o livro, não sabia que eu seria arrebatada completamente pela jornada de Ada e seu irmão Jamie. É um livro curto, mas carregado de significado.



Parceria Momentum Saga e
editora DarkSide


O livro
Ada e Jamie são irmãos, ainda crianças e moram com a mãe em um pequeno apartamento em Londres. Mas apenas Jamie pode sair de casa, brincar com os coleguinhas, andar pela rua. Ada tem o pé torto e por isso nunca andou, nem tem permissão de descer as escadas. Sua mãe é abusiva, agressiva e a humilha constantemente, temendo que as pessoas vejam o pé de Ada, que ela constantemente chama de abominação. Ada ouve tantos impropérios e humilhações que passa a acreditar neles.


É com a evacuação das crianças de Londres, devido à ameaça da Alemanha e de Hitler, que Ada vê uma oportunidade de fugir. A Mãe disse que apenas Jamie seria enviado, já que ela considerava Ada uma vergonha e não queria que ninguém a visse. Ada então passou semanas aprendendo a andar sobre o pé torto, mesmo com a dor lancinante, mesmo com as pernas pagando o preço. Então, um dia pela manhã, ela se arrumou, arrumou o irmãozinho e os dois saíram pelas ruas de Londres até a escola.

Lá eles são embarcados em um trem lotado de crianças, adolescentes e professoras rumo ao interior. Ada mal conhece as palavras e não conhece nomear nem metade do que vê no caminho. Tudo é novo. Para quem nunca foi à escola, aprendeu a ler ou a escrever, limitada a um apartamento pequeno e sujo, o mundo ao seu redor é imenso e opressor. O medo a acompanha o tempo todo, mas o medo da mãe é ainda maior. Ada fica encantada quando vê uma garota cavalgando um pônei e jura a si mesma que fará isso um dia.

Quando chegam ao destino, estão tão maltrapilhos e sujos que ninguém os quer. Sobra apenas uma casa, a da Srta. Smith, que mora sozinha e diz não querer receber crianças, que nunca quis ter filhos e que nem sabe como cuidar delas. Não há o que se fazer, porém. As crianças ficam e aí começa uma longa relação, com altos e baixos, amor e desconfiança, dor e alegrias.

Ada é uma menina muito triste, que realmente acredita ser uma porcaria, uma humilhação, que fez algo errado para ter aquele pé torto. Qual não é sua surpresa quando o médico diz que na verdade o pé torto é um problema simples de resolver na primeira infância e que agora ela precisaria de uma cirurgia. Sua mãe é que nunca quis arrumar. Jamie se rebela com o novo lugar, chorando, querendo a mãe, mas ele tem apenas seis anos, o que entende do mundo? A Srta. Smith, que depois descobrem se chamar Susan, faz o seu melhor para ajudar as crianças e passa a brigar por elas quando percebe abuso da professora na escola de Jamie.

Mas sua principal batalha é com Ada. Ada é teimosa, turrona, tem vergonha de pedir ajuda e nunca soube o que era a bondade humana. Ela se recusa a confiar em Susan, mesmo com todos os atos bondosos dela. Susan perdeu a amiga com quem morava - e assumo que elas fossem um casal - e vinha vivendo sozinha e reclusa. Chega um determinado momento da leitura que você se pega pensando a vida de quem a guerra salvou, a de Ada e seu irmão Jamie, ou a de Susan.

É um livro pequeno, dá para ler em um dia. Capa dura, lindo trabalho gráfico da editora DarkSide que acertou em cheio na escolha do livro para o selo DarkLove. O livro tata de tantos temas profundos e importantes, só lendo mesmo para poder falar de todos eles.

Ficção e realidade
Milhões de crianças foram evacuadas de Londres com a ameaça de Hitler e da guerra se aproximando. As que puderam, foram para casa de parentes, mas muitas foram para lares provisórios, onde viviam completos estranhos, ou então para fazendas, onde sofreram abusos contínuos. Se uma guerra em si já é um trauma, ser evacuada por causa dela e ainda sofrer abusos nas mãos de desconhecidos é um ainda maior.

Kimberly Brubaker Bradley

O que a Mãe de Ada fez com a filha foi abominável. Era o caso de retirar as crianças dela, já que não vinha exercendo uma guarda responsável. Ela trancava Ada no armário embaixo da pia, úmido, cheio de baratas, quando achava que ela estava sendo mal-criada. E quando Ada começa a receber um pouco de amor, ela o recusa, rechaça e desconfia de toda a bondade das pessoas. Acha que todo mundo está olhando para seu pé, que a expulsarão dos lugares, mas na verdade ela é aceita pelas pessoas da vila e, principalmente, por Susan.

Pontos positivos
Protagonista feminina
A relação de Susan com as crianças
Personagens fortes e bem escritos
Pontos negativos
Acaba logo
Mãe abusiva
Violência contra crianças

Título: A Guerra que Salvou a Minha Vida
Título original: The War That Saved My Life
1. A Guerra que Salvou a Minha Vida
2. A Guerra que me Ensinou a Viver
Autora: Kimberly Brubaker Bradley
Tradutora: Mariana Serpa Vollmer
Editora: DarkSide
Páginas: 240
Ano de lançamento: 2017
Onde comprar: Amazon

Avaliação do MS?
Eu não conseguia parar de ler o livro e terminei de madrugada, emocionada, maravilhada, triste e feliz ao mesmo tempo pelo trabalho de Kimberly em colocar uma criança narrando um evento tão traumático quanto uma guerra e uma evacuação forçada e pela vida sofrida destes irmãos. Há momentos em que você quer abraçar Ada e Jamie, em outros você quer brigar com eles pela malcriação que estão fazendo, mas quem pode culpá-los? Cinco estrelas para a incrível jornada destes irmãos e uma forte recomendação para você ler também.


Até mais!

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