Ao longo da história é possível acompanhar o florescimento que locais de transpiram genialidade. Alguns dos nomes mais conhecidos do mundo vieram destes polos de criatividade, genialidade e inteligência. Mas como eles surgem? Quais são os ingredientes necessários para fazer surgir uma nova safra de pessoas geniais? É isso o que Eric Weiner tenta responder.
O livro
O desafio de Eric era imenso: tentar responder quais são as condições que levaram ao surgimento de polos de genialidade e as pessoas geniais neles. São circunstâncias e características tão difíceis de definir quanto é definir o que é um ser humano. Será que há coisas em comuns entre esses lugares? E essas pessoas geniais, elas são parecidas, têm um histórico semelhante? Tarefa difícil!(...) um gênio é alguém que dá um salto intelectual e artístico, mas quem é que decide o que se qualifica como um salto? (...) Em termos mais claros, alguém só é um gênio se nós dissermos que é.
Página 31
Partindo de Atenas, o autor percorre polos de genialidade, percorrendo a milhares de anos de história. Atenas, Hangzhou, Florença, Edimburgo (essa aqui me surpreendeu bastante), Calcutá (idem), Viena Afinada, Viena no Divã e Vale do Silício. A afirmação de que somos todos gregos me acertou como uma coluna do Partenon na cara e o autor tem razão em começar sua busca pela genialidade por lá. Se a gente já leu um livro, votou, participou de um juri ou apenas sentou com amigos para beber ou jogar conversa fora, são legados gregos. Não que isso não acontecesse em outras cidades, como no Antigo Egito, mas algumas coisas fizeram com que Atenas se destacasse.
Essa discussão sobre a genialidade é antiga. Se jogássemos Steve Jobs na Florença Renascentista, como ele teria se saído? Provável que ninguém conhecesse seu nome. Cada gênio da história teve seu momento específico propiciado pelas circunstâncias que o ambiente lhe oferecia. Um Aristóteles no nosso tempo teria dificuldades, assim como os filósofos gregos modernos, que às vezes sentem como se não tivessem mais sobre o que falar. Sempre há o que se falar. Os antigos filósofos gregos não enfrentam nosso tempo, mas nós sim.
Edimburgo foi uma grata surpresa. Existe influência escocesa em todos nós. A descarga do vaso sanitário, a higiene dos médicos, a geladeira, a anestesia em cirurgias, consultar a enciclopédia britânica, a empatia, o bom senso, a economia moderna, a sociologia e até os romances históricos. Você consegue ver os dias atuais sem nenhuma dessas coisas? Difícil, não é mesmo? Foram os escoceses que ensinaram os fundadores dos Estados Unidos a pensar em felicidade e liberdade, princípios que norteiam a constituição deles até hoje. E o principal, ensinaram a pensar sozinhos.
Os polos de genialidade dividem características entre si. Uma delas é a bagunça. A intensa atividade humana desordenada. Há também a questão da confluência de culturas. E é meio natural isso, pois se um lugar se torna atraente, logo as pessoas querem saber o que há de tão interessante lá. Há alguma desordem civil ou momento de intensa atividade política. Como diz o autor, o gênio não faz a onda, ele apenas surfa nela. Mas o autor ainda não está convencido. Ele investiga a fundo essas cidades, tendo viajado por todas elas e conversado com as pessoas que entendem do lugar.
O livro, infelizmente, aborda muito brevemente, uns três parágrafos, a "ausência" de mulheres geniais, tendo citado apenas Marie Curie e Virginia Woolf ao longo das mais de 300 páginas do livro. E comenta que se alguma mulher chegava ao status de gênio, é porque lhe deram uma concessão. Gostaria que o autor se aprofundasse no assunto. Tem muitos motivos para a história ter poucas mulheres geniais: elas foram esquecidas pela história, foram apagadas e muitas vezes seus trabalhos foram atribuídos a homens (Efeito Matilda). O autor não discorreu sobre isso e acho uma falha do raciocínio dele. Se ele mesmo diz que o gênio é aquele que a gente define que é, uma sociedade misógina dificilmente vai apontar para uma mulher e reconhecer a genialidade de seu trabalho. Posso listar de cabeça muitas mulheres geniais que ele poderia ter posto no livro e não pôs. Falhou rude, Eric.
Se o gênio criativo é caracterizado pela habilidade de fazer conexões inesperadas e importantes, então o que importa é claramente a amplitude de conhecimento, não a profundidade.
Página 185
A edição da DarkSide está suprema na questão arte e brochura. Capa dura, artes belíssimas na parte interna, muitas de Leonardo Da Vinci, que é abordado no capítulo sobre Florença. Há também uma extensa bibliografia e um glossário no final, o que ajuda muito na hora de consultar. Porém, a revisão falhou mais uma vez da parte da DarkSide. Não é o primeiro livro com problemas, é um entre vários.
Não foram apenas os erros de digitação, mas há momentos em que falta o domínio da norma culta, o que deixou vários trechos com um ar muito amador. Uma regra básica da Língua Portuguesa foi deixada para trás neste livro: quando ocorrem dois ou mais advérbios terminados em -mente em uma frase, em geral, sufixamos apenas o último. Exemplo: "... tanto fisiológica quanto psicologicamente". É para tornar a frase mais concisa, sem repetição de termos desnecessários e deixar a leitura fluir sem tropeços. Devo ter visto erros grotescos como esse umas dez ou quinze vezes no livro. Essa frase aliás está "tanto fisiologicamente quanto psicologicamente" no texto. Não sei como publicaram um livro desta forma.
Obra e realidade
Gênios, já dizia o Garfield (sim, o gato), são naturalmente inspirados. Mas esse naturalmente não é exatamente uma vocação. Como pude ler no livro de Eric, é uma conjunção de fatores materiais e imateriais, políticos, sociais e até naturais, que se interagem para produzir um momento, um instante no tempo, que gera aquela leva de gente genial. E não é um evento possível de prever. Existem vários locais pelo mundo com dezenas de características, mas que não se tornaram polos. Isso não quer dizer que não há pessoas criativas nestes locais. Até porque essa é uma definição que o outro tem que fornecer. Quem vivia em Florença na Renascença não achava nada demais viver por lá.A questão mais pertinente do livro para mim foi mostrar que o processo criativo depende de uma série de fatores que nem sempre podem ser nomeados. E que é absolutamente natural para a evolução de nossa civilização que a criatividade seja exercida. Os Gênios contribuíram para a vida humana de maneira determinante sem terem conhecimento ou noção do que estavam fazendo de tão importante. Nossas crianças precisam desse estímulo, dessa chama, mesmo que elas não mudem o mundo. Mas mudarão o seu próprio mundo.
Eric Weiner é um palestrante e escritor norte-americano. Seus livros já foram traduzidos para mais de 20 idiomas.
PONTOS POSITIVOS
Bem escrito
Extensa pesquisa
Interessantes considerações sobre criatividade
PONTOS NEGATIVOS
Falhas na revisão
Não fala de mulheres geniais
Bem escrito
Extensa pesquisa
Interessantes considerações sobre criatividade
PONTOS NEGATIVOS
Falhas na revisão
Não fala de mulheres geniais
Avaliação do MS?
Sabe aquele livro que você vai lendo e fala "nossa, verdade!" ou "caraca, como que eu nunca tinha parado pra pensar nisso?!"? Então, é esse. Eric foi muito certeiro em várias considerações feitas não apenas a respeito da genialidade, mas sobre os lugares geniais, a natureza da inteligência e da criatividade e sobre suas ações em nós. Gente criativa é inquieta, sempre incomodada com alguma coisa, ansiosa para pegar a crista da onda. Ele falhou com as mulheres e a editora falhou na revisão, mas ainda assim é aquele livro para ter na estante. Quatro aliens para o livro e uma recomendação para você ler também.Até mais! 💡
Eu sou muito preguiçosa para ler não ficção quando não se trata de pesquisa na área de História ou Educação Infantil, mas fiquei interessada por esse livro por isso decidi da uma olhada na resenha... Sei lá, não me cativou... A essa altura cabia uma explicação sobre o apagamento das mulheres da "História Oficial" e eu sou muito implicante quando um livro aborda história... desanimei da leitura.
ResponderExcluirUm livrinho muito interessante que fala especificamente do ocultamento da participação das mulheres na arte (mas que deixa claro que isso se estende à participação das mulheres em outras áreas) é "Porque não houve grandes mulheres artistas?", da Linda Nochlin.
ResponderExcluirO escritor me pareceu muito honesto. Vou ler esse livro.
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