Eu já tinha ouvido falar muito bem de Pílulas Azuis e comecei a ler ansiosa, mas foram poucas as vezes em que terminei de ler algo e fiquei transformada com a experiência. Quem nunca leu, por favor, adquira o quanto antes e deixe na estante, mas releia de vez em quando.
O quadrinho
Em uma narrativa pessoal, Frederik conta sua história de amor com Cati, da primeira vez em que a viu, aos encontros casuais pela rua, até se envolver com ela alguns anos depois, quando ela já tem um filho pequeno. Os dois acabam se reaproximando, trocando telefones, conversando. E é então que ela revela: era soropositiva. Tanto ela quanto seu filho tinham o vírus HIV.
A partir dessa revelação surge toda uma história complexa e amorosa, mas também por vezes paranoica sobre o risco de contaminação. Quando ele sabe sobre a doença, todo o tipo de sentimento passa por sua cabeça. Ele não tenta bancar o bom moço que vai tentar salvar a donzela, mas mesmo que erre, ele tenta acertar. O casal enfrenta preconceito de amigos e conta sobre como as pessoas reagem quando ela revela a doença. Temos também a relação de Frederik com seu enteado e em como o tratamento contra o HIV pode ser desgastante para crianças.
Como toda história de amor, mas sem ser melosa ou piegas, há seus momentos de dúvida e apreensão. Especialmente com camisinhas furadas e os dois correm no médico para saber dos riscos. Há todo um mito munido de desinformação e preconceito a respeito do HIV e admito que eu desconhecia algumas coisas apresentadas na HQ. Fiquei envergonhada por ter parado no tempo, sem saber de tantos fatos a respeito do comportamento do vírus e do tratamento em si. Tirando o coquetel e a qualidade de vida que ele proporciona, eu não sabia de várias coisas. E aqui a HQ já cumpre um primeiro objetivo, a de informar.
As dúvidas surgem quando eles pensam em como o HIV pode afetar a intimidade do casal. Boquete pode? E ter filhos, como faz? Se a camisinha estourar, estou condenado? A maneira como o autor colocou isso foi muito sincera e direta, carregada de uma delicadeza singela ao tratar de tantos tabus e preconceitos.
Os quadrinhos são ágeis, um traço único marcando personagens e diálogos em preto e branco. Além das passagens reais dele com Cati, há momentos em que o autor viaja, como quando conversa com um mamute sobre suas dúvidas e medos. Em alguns momentos surge a questão de como contar aos pais de Frederik sobre Cati e o HIV e é quando a ideia de contar tudo em uma HQ aparece. Não sabemos qual foi a reação deles depois, porém.

Além da edição bem acabada da Nemo, há um extra de 10 páginas com entrevistas com os envolvidos, 13 anos depois da publicação original e sobre como a vida seguia.
Obra e realidade
Sempre fico muito feliz quando pego algo para ler e aprendo coisas tão importantes, quebrando tabus. Quando virei a última página, fiquei com aquela sensação de ter lido uma obra-prima pela maneira como tratou de um assunto delicado com igual delicadeza e também sem rodeios. Falar de HIV e AIDS, de sexo e relacionamentos e ainda assim ensinar algo ao leitor é coisa para poucos.
Também devemos lembrar que cada caso é um caso, mas que é preciso ter informação. Informação salva vidas e aqui fica bem nítido isso. O casal vai ao médico, uma figura importante no enredo, que sem carregar em terminologias médicas, desmistifica coisas que o próprio Frederik acreditava, coisas que eu acreditava. E de quebra mostra a evolução do tratamento e a melhoria na qualidade de vida das pessoas.
PONTOS POSITIVOS
Tema importante e bem discutido
Fala de tabus e preconceitos
Caso real
PONTOS NEGATIVOS
Algumas informações somem
Tema importante e bem discutido
Fala de tabus e preconceitos
Caso real
PONTOS NEGATIVOS
Algumas informações somem
Avaliação do MS?

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