Há muito tempo eu queria ler esse livro. Sabia que era um dos grandes clássicos da FC e que tinha ganhado uma nova edição recentemente. Um Cântico para Leibowitz é um retrato de uma era onde o maior medo da sociedade era o holocausto nuclear. Miller pegou esse medo, juntou com suas próprias vivências e medos e construiu um enredo que se passa ao longo de séculos, indo do obscurantismo de uma sociedade amedrontada até o ressurgimento da ciência. Este também é mais um livro do Desafio Literário 2016!
O livro
A humanidade foi quase aniquilada por um holocausto nuclear, o chamado Dilúvio de Fogo. Medo, miséria, doenças, morte se espalham pelo planeta. O que restou da sociedade abomina a ciência e a acusa de ter acabado com mundo. Dessa forma, a turba furiosa começa a perseguir cientistas, professores, técnicos, pessoas ilustres que guardassem qualquer tipo de conhecimento científico. É o período da Simplificação. Qualquer pessoa levemente instruída era acusada de ter causado o grande mal.Quem sobreviveu precisou se esconder. A Igreja Católica acolheu a maioria deles, escondendo-os em monastérios e ordenando-os monges, já que os religiosos eram desprezados pelas turbas ensandecidas. Mas o ódio em si não acabou. Ele continuou para cima daqueles que era minimamente alfabetizados.
Surge então a figura de Isaac Edward Leibowitz. Tendo se escondido em um monastério e depois ordenado, ele conseguiu uma autorização para fundar uma nova ordem religiosa cujo propósito oculto era o de preservar a história humana. Eles copiariam livros e os memorizariam, guardariam o que sobrou de livros e documentos para que, no futuro, a raça humana estivesse pronta para recebê-la. Era a Memorabilia.
O livro é dividido em três partes. Em Fiat Homo, temos Francis, que está no deserto, em penitência, até que encontra um misterioso peregrino. É através dele que Francis encontra um abrigo nuclear, ossos e alguns documentos. A descoberta é vista com um terror imenso pelo abade. Temos aqui uma visão bem medieval, o segredo dos mosteiros, os perigos das estradas, a vida repetitiva dos monges copistas.
Em Fiat Lux, já no ano 3174, podemos chamar de uma era de Iluminismo. Começa a haver um maior interesse pela Memorabilia e até invenções começam a surgir do esforço dos monges, com bastante resistência daqueles mais fundamentalistas. Mas a violência está sempre à espreita, sempre rondando os muros do monastério. E em Fiat Voluntas Tua, ano 3781, temos um mundo que avançou para ter colônias em outros sistemas estelares, que tem naves espaciais, mas que ainda luta, que ainda declara guerra e detona artefatos nucleares.
Assim... Miller foi extremamente detalhista e soube passar com bastante propriedade aquela sensação isolada e de rotina maçante de um monastério. Em determinados momentos tinha a impressão que lia um livro de catecismo e não uma distopia pós-apocalíptica. As partes em latim são chatas, mas há um glossário bem detalhado no final para consulta.
Se o senhor tentar salvar o saber até que o mundo se torne sábio, Padre, o mundo nunca o possuirá.
Pág. 259
No entanto, muito me desagrada livros que deixem muitas pontas soltas. Fico na dúvida se isso foi intencional ou se o autor achou que não era importante. Temos também a figura do Judeu Errante, que me pareceu bem desnecessária, mas que vai satisfazer aqueles que curtirem um mistério. Praticamente não aparecem mulheres no livro, exceto bem perto do final e ainda assim são personagens rasas e uma delas tem deformações causada por radiação que se perpetuou na população desde o Dilúvio de Fogo. Miller escreve com propriedade, mas é uma narrativa bem cansativa.
Obra e realidade
Um dos grandes medos de quem vivia em plena Guerra Fria era o holocausto nuclear. Se as bombas em Hiroshima e Nagasaki deixaram algum legado para a humanidade, certamente foi a lembrança da força destruidora que as pessoas tinham agora em mãos. Avisos eram veiculados nas TVs norte-americanas, mostrando como se proteger em caso de detonação nuclear, as pessoas construíam abrigos sob as casas, com comida, água e remédios para o caso da grande detonação.Publicado em 1959, Um Cântico para Leibowitz era um alerta sobre a estupidez humana e sobre o esforço de algumas pessoas para manter a chama acessa. Chama da razão, da ciência, da lógica, tudo o que foi perdido quando bombas nucleares foram detonadas. Felizmente para nós, a Guerra Fria nunca esquentou e podemos ler situações como essas na literatura. Certamente fica aí um alerta sobre nossa própria estupidez. Há também uma crítica muito pertinente sobre o medo que as pessoas têm a respeito da ciência. O medo nada mais é do que a incompreensão. O ser humano é uma criatura que sempre temeu aquilo que não compreende. Isso fica bem nítido quando lemos comentários feitos em notícias relacionadas à ciência. A ignorância rola solta.
Babylon 5 tem um episódio inspirado no livro. Na quarta temporada, o último episódio mostra um monge inquieto conversando com seu superior. Sua fé nas escrituras está abalada e o monge tenta acalmá-lo para que continue o trabalho. A Terra voltou para o período anterior ao avanço científico depois de uma longa guerra e todos os personagens da série aparecem como lendas que os monges preservam e copiam sem parar.
Walter Michael Miller, Jr. foi um escritor norte-americano de ficção científica.
Pontos positivos
Distopia
Contado ao longo dos séculos
Ignorância X Ciência
Pontos negativos
Maçante
Personagens rasos
Poucas personagens femininas
Distopia
Contado ao longo dos séculos
Ignorância X Ciência
Pontos negativos
Maçante
Personagens rasos
Poucas personagens femininas
Avaliação do MS?
Os leitores que adoram uma distopia e que queiram mais livros clássicos deste sub-gênero podem se jogar na leitura de Um Cântico para Leibowitz. Certifiquem-se de terem tempo para a leitura, pois ele pode ser bem cansativo. Eu demorei várias semanas para ler, pois ele ficou chato, parti para outras leituras, depois voltei. A obra tem lá seus problemas, mas ainda assim deixa uma importante crítica e análise da sociedade humana marcada pelo medo. Três aliens para o livro.Até mais!
Esse livro é muito bom. Bastante cansativo. O que dificultou minha leitura, mas valeu a pena.
ResponderExcluirÉ um dos meus livros preferidos de todos os tempos. Na minha primeira leitura eu também travei, mas quando terminei já queria ler de novo. Religião e política são temas que me atraem muito então até a parte mais "litúrgica" me agradou pra caramba. Acho fenomenal.
ResponderExcluirEu o li na década de 80, iniciava minha efetiva vivência na Igreja Católica, e a sua leitura se revestiu de grande significado para mim à época, como agora. Assim como ao Ramon, as relações entre religião, política e poder me atraem, porque considero como as linhas pelas quais se explica boa parte da situação humana. Talvez por esse motivo nunca o achei cansativo. Vou procurar relê-lo.
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