Resenha: Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson

Os fãs do filme com Will Smith vão se decepcionar com o livro se o que estão esperando é um enredo igual. Não gostei do filme, mas foi um enredo com mais sentido do que o livro de Richard Matheson. Entendo que tendo sido publicado em 1954 ele traz todos os problemas de uma época carregada de estereótipos, porém o livro demora a mostrar a que veio.





O livro
Robert Neville está sozinho. Sozinho de companhia humana, pois os vampiros são seus companheiros malditos já há um bom tempo. À noite pode ouvir a voz de seu ex-amigo, Ben Cortman, lhe chamando, pedindo que saia. Pode ver as vampiras, lascivamente, se oferecendo, arrancando as roupas, para provocá-lo. Neville vê os dias passando, sua rotina de consertar a casa e fazer colares de alho para pendurar ao redor da propriedade. Isso lhe intriga, o porquê do alho afastar as criaturas.


O enredo é basicamente sobre a solidão, pois acompanhamos todos os momentos de loucura e sanidade de Neville enquanto ele continua consertando sua casa e imaginando se é ainda o único ser humano na face da Terra. Em algum ponto, quase louco, ele avista um cachorro zanzando pelas casas da vizinhança e tenta fazer amizade com ele. Mas o cão é arredio, desconfiado e a ligação que Neville desenvolve com ele é bem tocante, algo bem semelhante ao o que acontece no filme.

Suas companhias são seus vinis, a bebida e as lembranças. Temos flashbacks de sua vida anterior, de sua esposa, de como o mundo começou a se tornar um lugar ainda mais perigoso e sobre as ordens para queimar corpos, que Neville desobedeceu quando aconteceu com sua esposa. Vemos momentos em que ele se transtorna por ver aquelas mulheres tirando a roupa na frente de sua casa, se oferecendo, enquanto ele, sem ter mulher há muito tempo, mal consegue conter o desejo.

Entendo que Eu Sou a Lenda seja um clássico e consigo ver o porque. Mas o livro me incomodou muito. Começando com a falta de explicação para o que aconteceu com a esposa de Neville e como o mundo chegou até aquele ponto. No filme existe uma explicação, de um vírus modificado para curar o câncer que dá errado, enquanto que no livro não há. Ok, no livro temos vampiros clássicos, semelhantes ao Drácula, que serviu de inspiração para Matheson escrever o livro. No filme... sei lá o que era aquilo.

Segunda coisa que me incomodou: a única mulher que prestava era a esposa dele, as outras são lascivas, mentirosas, falsas, ardilosas, que usam de todos os ardis possíveis para enganar outro ser humano. Temos um mundo onde a civilização ruiu, povoado por vampiros sedentos e assassinos e essa é a maneira com a qual o autor se refere às mulheres. E ele usa estes termos e sensações parecidas para descrever uma mulher que Neville avista e que leva para sua casa à força. Ou seja, me desagradou por completo, mesmo tendo vampiros, mesmo sendo um clássico universal. Não é porque é clássico que agrada a todo mundo ou até mesmo que seja bom.


Ficção e realidade
Mundos distópicos costumam trazer o pior do ser humano. Neville foi bastante corajoso por conseguir se manter mais ou menos são em meio a toda essa ruína. As distopias são maneiras excelentes de trazer reflexões como as que o livro trouxe sobre isolamento, sobre sanidade, sobre solidão. É interessante notar a ligação que Neville conseguiu fazer com o cachorro, mas quando chegou outro ser humano, ele se manteve desconfiado e arisco.

Acredito que isso foi algo que atrapalhou a trama, pois fiquei pensando: "se ele encontrasse outro cara e não uma mulher, ele teria sido tão hostil?". Em vista de tudo o que li no livro, acho que não. Mas como ele já trazia essa concepção de que mulher não presta, etc. e tal, a reação dele com a visitante não podia ser outra.


Pontos positivos
Distopia
Vampiros
Cachorro
Pontos negativos
Estereótipos negativos
Robert Neville



Título: Eu Sou a Lenda
Título original: I Am Legend
Autor: Richard Matheson
Editora: Devir (foi relançado pela Aleph)
Páginas: 295
Onde comprar: na Amazon (ed. Aleph)


Avaliação do MS?
É um livro para qualquer fã de vampiros ler. É um clássico, é de Richard Matheson, um dos grandes mestres do terror, foi adaptado três vezes para o cinema. Apenas não me encantou. Li, suei frio em várias cenas, mas o livro não me cativou diante dos problemas que relatei acima. Recentemente a editora Aleph relançou o livro em uma bonita edição, então vale à pena ter uma cópia. No mais, apenas três aliens para Eu Sou a Lenda.




Até mais!

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