Resenha: Toda Luz que não Podemos Ver, de Anthony Doerr

Este livro me surpreendeu pela forma como a história se passa em plena Segunda Guerra Mundial. A forma como o autor trabalhou o tema da guerra e inseriu uma curiosa jornada a respeito de dois órfãos, uma moça que perdeu a visão ainda criança, filha do chaveiro do Museu de História Natural de Paris e um valioso diamante amaldiçoado fazem deste um dos melhores livros que li.

O livro
Marie vive com o pai em um apartamento modesto perto do museu. Seu pai é o chaveiro responsável e muito bom em construir maquetes. Assim que uma catarata tira a visão de sua filha, ele começa a construir uma maquete para que ela possa ser independente. Compra-lhe livros em braile, especialmente de ficção científica, como Júlio Verne, e está sempre por perto dela, levando-a ao trabalho, onde todos os funcionários a conhecem e a deixam transitar em seus laboratórios.

Resenha: Toda Luz que não Podemos Ver, de Anthony Doerr

Enquanto isso, Werner e sua irmã mais nova tentam sobreviver na casa das crianças, um orfanato para as crianças cujos pais morreram nas minas de carvão, na Alemanha. Werner é alucinado por ciência e tecnologia, como a irmã, e ambos escutam uma misteriosa transmissão sobre ciências do rádio que encontraram no lixo e que Werner conseguiu consertar. Ele viaja nas palavras e nas lições de ciências que saem dali. Mas é possível perceber a mudança no ambiente conforme acompanhamos Werner. Uma estranha bandeira vermelha está agora pendurada pela cidade. Frau Elena, responsável pela casa, está tensa e a comida começa a rarear.

Em Paris, a iminente invasão nazista põe em risco um dos maiores tesouros do museu: um diamante que dizem ser amaldiçoado, devido à trilha de tragédias que deixou pelo caminho. É um tesouro que os nazistas adorariam pôr a mão. Por isso o diretor do museu pede ajuda para seus funcionários de confiança e com quatro pedras idênticas os manda para longe de Paris. Somente ele sabe com quem está o verdadeiro diamante e quem carrega as réplicas.

Werner fica tão bom com equipamentos, especialmente rádio, que depois de consertar o aparelho de um oficial nazista, ele é cooptado para uma escola de formação. Sua irmão não gosta disso, acha que ele está cedendo para um lado mau, do qual pode nunca voltar e do qual ela não concorda. Werner se sai muito bem com rádios e acaba numa equipe que caça transmissões ilegais ou do inimigo.

A história de Marie e de Werner se liga quando surge o vilarejo de Saint-Malo, hoje uma região turística na região da Bretanha, na França, uma bela vila medieval que foi ocupada pelos nazistas e quase destruída pelos bombardeios. Os dois acabam se encontrando nessa cidade após uma noite intensa de bombas e baterias anti-aéreas, mas suas histórias correm paralelas e ficamos imaginando como eles, finalmente, se conhecerão. Mas esteja preparado. Muita coisa dá errado neste livro, muitas partes tristes.

Quando meus cabelos se tornarem grisalhos
Você vai me beijar e dizer que me ama em dezembro assim como me ama em maio?

Este é um livro muito sensível, muito singelo, ainda mais se tratando do cenário tão cruel e desumano como o da Segunda Guerra. Não temos campos de concentração sendo descritos, nem a visão clara de prisioneiros seguindo para campos de extermínio, mas saber de tudo isso só torna o livro ainda mais tenso e singelo. Me fez lembrar de A Vida É Bela, que também se passa na Segunda Guerra, mas que tenta contar uma história de amor e alegria num cenário tão terrível.

Marie pode ser chata e impertinente, mas é uma criança curiosa e inteligente, que enxerga muito melhor do que muitas pessoas ali. Ela tem um amor intenso pelo pai, pelo tio-avô e pela empregada da casa em Saint-Malo. Já a história de Werner é bem amarga, já que ele sabe que, pôr fazer parte da juventude Hitlerista, há coisas que os outros não perdoam.

O livro está muito bem escrito, com uma leitura fluída muito agradável, mesmo passando por momentos dolorosos e sensíveis. A traduçãõ de Maria Carmelita Dias está perfeita e não há erros ou problemas de revisão. O livro vem em capa comum e páginas amarelas.

Sabe a maior lição da história? A história é aquilo que os vitoriosos determinam.

Obra e realidade
Escrever o tipo de enredo que Doerr escreveu, com um cenário de Segunda Guerra Mundial, não é fácil. É muito fácil cair em clichês batidos, muito fácil desumanizar personagens ou utilizar estereótipos. Sabemos de todos os horrores, das mortes, da violência. Então é arriscado escrever mais do mesmo utilizando-se do tema. Mas Doerr conseguiu escrever um livro sensível, mesmo diante de todos os horrores, com personagens cativantes, que nos prendem até o final. Não é uma maneira de ocultar todos os horrores, mas de mostrar que mesmo em meio ao horror ainda há histórias a se contar.

Anthony Doerr

Anthony Doerr é um escritor e contista norte-americano, ganhador do Prêmio Pulitzer na categoria ficção.

Pontos positivos
Personagens cativantes
Universo bem construído
Marie e Werner
Pontos negativos

Dá uma estendida perto do final


Título: Toda Luz que não Podemos Ver
Título original em inglês: All the Light We Cannot See
Autor: Anthony Doerr
Tradutora: Maria Carmelita Dias
Editora: Intrínseca
Ano: 2014
Páginas: 629
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
O autor talvez tenha estendido demais o final, mas provavelmente ele também tenha sentido saudade dos personagens, da história, e quis atar a maioria das pontas prolongando as frases e parágrafos. Indico muito esta leitura, que ganhou o Pulitzer de Ficção, que mostrou ser possível contar uma história em um cenário tão utilizado sendo original e sensível. Cinco aliens e uma forte recomendação para você ler também!



Até mais!

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