A Cidade e as Estrelas tem características que o fariam se encaixar perfeitamente bem no século XXI. Inicialmente, parece mesmo difícil de acreditar que ele foi escrito entre as décadas de 30 e 40 do século XX, pois mostra avanços e tendências que veríamos muitas décadas depois. Mas nem tudo mudou neste mundo imaginário localizado 1 bilhão de anos no futuro.
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O livro
Um bilhão de anos no futuro e a Terra tem apenas uma cidade, chamada Diaspar. Os oceanos não existem mais. O planeta seria totalmente estranho para as pessoas de hoje. A cidade é inteligente e fechada. Ninguém se lembra quando foi a última vez que uma pessoa saiu ou entrou em Diaspar. A história conta que uma raça de alienígenas invasores fez os seres humanos recuarem de suas posições e de suas colônias, até que a Terra fosse tudo o que restasse. Se os humanos não saíssem mais da Terra, ninguém mais morreria.Diaspar é controla por um computador central que não apenas cuida das construções como também é responsável pela reprodução. As pessoas nascem de acordo com os dados que ele interpola, já que guarda as memórias de todo mundo que já viveu e sabe o momento certo de trazê-las de volta. É ele que também coloca nos genes dessas pessoas a falta de vontade de deixar a cidade. Mas não é o que acontece com Alvin. Ele não apenas se sente diferente de todos como também sente uma grande necessidade de deixar Diaspar.
Neste mundo 1 bilhão de anos no futuro a humanidade perdeu boa parte dos preconceitos e normas hoje vigentes. O corpo humano sofreu modificações, como perda das unhas e dos dentes, além de adotar um visual andrógino, sem a necessidade de denotar gênero. Os computadores fazem tanto parte da vida e do cotidiano das pessoas que são praticamente invisíveis. Eles podem moldar móveis, portas e janelas da forma que quiserem. As pessoas se divertem em simulações chamadas "sagas" e se encontram na forma de hologramas, sem nem ao menos sair de casa. Alvin percebe, porém que o que está dentro dos muros da cidade em nada corresponde ao que ele acha fora deles.
Num primeiro momento, o romance me impressionou demais e em se tratando das tecnologias e da visão de futuro do autor, um dos que mais teve visão. Isso tudo sendo imaginado entre 1937 a 1946 e depois republicado de forma expandida em 1956. Tudo seria muito bonito se não fosse por um final um tanto confuso e pela fraca representatividade feminina. Quando Clarke quer uma personagem feminina forte, ele praticamente a descreve como um homem. Quando demonstra uma mulher dentro dos estereótipos femininos, nem 1 bilhão de anos no futuro muda nosso "caráter irracional e emotivo".
Essa é uma grande falha do livro. Isso faz o leitor lembrar que está lendo uma obra não do século XXI, mas algo escrito nos anos 50. São poucas as mulheres da obra, umas três. Só duas têm falas e só uma delas apenas tem alguma importância no livro todo. Essa é uma característica não só do Clarke, mas de outros autores do período, que nunca souberam ou se importaram em escrever boas personagens femininas. E quem não vê problema nisso precisa rever seus conceitos.
Ficção e realidade
Clarke trabalhou de maneira muito interessante com a dualidade capitalismo X socialismo neste livro. Diaspar seria o sonho máximo de consumo de uma sociedade capitalista, que precisa ser entretida o tempo todo. Do lado de fora, (spoiler bem pequenininho!) um paraíso verdejante que vivia em harmonia e que, de certa forma, conseguia ser mais avançado que Diaspar.A única coisa que me incomoda é que, em geral, os escritores clássicos de ficção científica não pensavam na raça humana como um todo quando pensavam e imaginavam seus futuros. Chamados de visionários e grandes inventores do futuro, a maioria tinha um pensamento absolutamente tacanho e conservador no que se referia às mulheres e praticamente nulo no que se tratava a outras minorias. Como podemos pensar um futuro que não seja para todos e somente para alguns?
Arthur C. Clarke foi um dos grandes nomes da ficção científica. Britânico britânico radicado no Sri Lanka, foi também inventor e futurista.
Pontos positivos
Diaspar e LysFuturo distante
Computador Central
Pontos negativos
Baixa representatividade femininaEsterótipos femininos irritantes
Avaliação do MS?
Eu ainda indico a leitura devido à incrível cidade de Diaspar que, realmente, superou qualquer cidade criada no mesmo período e até mesmo as atuais. Me fez lembrar da cidade que existe no conto Uma cidade sonhando seus metais, da Alliah, já que ambas se parecem bastante. Apesar de termos mulheres de pouco destaque na obra e de ser um universo reservado para as aventuras dos meninos brancos, é uma leitura interessante. Três aliens para A Cidade e As Estrelas.Até mais!
Li esse livro há muito tempo atrás. Vou reler para poder fazer meu comentário. Obrigado.
ResponderExcluirDe longe uma das obras de ficção científica que mais me deixaram assombrados ao terminar de ler. Não tinha passado pela minha cabeça a questão de representatividade feminina, o que passou foi a falta de desfecho para Alystra. Fiquei um tanto quanto desejoso de vê-la tendo vencido o próprio medo do exterior por conta de seu amor por Alvin. Longe de ser uma subserviência, seria, talvez, a demonstração de que dentro de Diaspar, ao contrário do que Alvin pensava, havia sim amor, aquele sentimento que ele apenas encontrara em Lys. Esse provavelmente seria um desfecho muito bacana para a história em termos de romance entre ele e ela.
ResponderExcluirDe resto, uma coisa que me fez pensar foi que a história era uma grande alegoria da caverna de Platão. Uma adaptação para os tempos modernos, é claro, mas com certeza me remeteu a essa ideia de que a mente que se expande jamais retorna ao seu tamanho original.
Em meu blog eu fiz uma análise sobre isso. Um pouco amadora, talvez, mas com certeza de coração. :P