Resenha: Metanfetaedro, de Alliah

Primeiro de Maio, além de feriado, foi o Dia da Literatura Nacional. E para comemorar a data, peguei quatro livros de autores nacionais para resenhar durantes estes próximos sábados de maio, começando por hoje! Acredito que muita gente ainda tenha preconceito com os autores brasileiros, assim como eu tive por um bom tempo, mas está na hora de conhecer melhor esse trabalho. A resenha de hoje é de um gênero novo e estranho para muita gente.



O livro

Olhei para o horizonte e as sombras que o bar projetava no solo estendiam-se até o infinito num marrom escuro. Quando voltei o olhar para o bar, esbarrei num amontoado de folhas espalhadas pelo tampo do balcão. Eram meus desenhos e estudos de anatomia humana, hipergeometria e engenharia cinestésica.

Metanfetaedro não é um romance, mas sim um livro com 8 contos de New Weird. Confesso que foi meu primeiro contato com o gênero e que, em um primeiro momento, ocorreu um grande estranhamento. Acho que é natural quando lemos algo que nos é inédito. Mas esse estranhamento inicial passa devido à qualidade dos contos em si. Acho que uma das grandes sacadas do New Weird é a experiência sensorial que a leitura nos dá por termos que navegar em mares assombrosamente estranhos.


Antes, uma definição:

New Weird é um gênero literário que começou nos anos 90 e se desenvolveu ao longo de várias novelas e estórias publicadas de 2001 a 2005, oscilando entre temas como horror, ficção especulativa, fantasia e ficção científica, geralmente cruzando os limites entre os gêneros e entrelaçando-os várias vezes. O nome adotado, New Weird, se deve à revista Weird Tales, uma das mais antigas do mercado, onde estórias de ficção científica, horror e fantasia eram publicadas num único volume.

Alliah tem um jeito intenso de descrição, muito vívido, colorido, intenso, algumas vezes sendo até repulsivo, tamanho o nível de detalhe em que sua narrativa chega. Você se sente, profundamente, integrado com as sensações dos personagens, com a atmosfera das cidades e com os odores dos corpos, das cidades, dos objetos. São poucos autores que conseguem inserir o leitor tão intensamente em suas narrativas. Se tem uma coisa que a narrativa de Metanfetaedro não é, essa coisa é asséptica, insípida. Você vai se sentir incomodado diversas vezes na narrativa. Mas não ache que isso é algo ruim, ao contrário. É ótimo sair da zona de conforto.

Os contos:
  • Moleque
  • Uma cidade sonhando seus metais (que final incrível!)
  • Morgana Memphis contra a Irmandade Gravibramânica (um dos meus favoritos)
  • Contemplafantasiação
  • Túpac Amaru III
  • O Jardim de Nenúfares Suspensos
  • Morgana Memphis Dividindo por Zero
  • Metanfetaedro (conto que dá nome ao livro)

Mas ao mesmo tempo em que temos universos muito ricos, em alguns contos eu fiquei perdidinha com o excesso de informações. Como eram palavras diferentes, novas, muitos contextos diferentes, tinha horas em que eu precisava voltar e reler. Contos são pequenos e às vezes, na ânsia de criar e contar coisas novas, podemos nos perder no excesso de informações. Sinto que alguns deles poderiam se tornar romances tranquilamente diante da variedade e diversidade de personagens e situações.

Ficção e realidade
O tom de crítica de vários contos é incrível. Alliah é do Rio de Janeiro e podemos sentir o tom de crítica já no primeiro conto, Moleque, que se passa nas margens da Lagoa Rodrigo de Freitas. Outros tons críticas a vários tipos de preconceito estão pelas páginas do livro, como críticas ao fundamentalismo religioso. Temos mulheres como protagonistas, transalienígenas, uma miríade de personagens complexos e fora do senso comum.

Querida, liberdade nunca é abusiva. Somente a opressão é.

Para quem nunca leu new weird, o livro espanta pelas características caírem em tantos gêneros diferentes. Há quem diga que este seria um gênero pequeno e que nada contribua para a literatura. Discordo. Poucas pessoas têm a capacidade de escrever em tantos mundos diferentes e ainda manter uma coerência, mesmo que fictícia.

Pontos positivos
New Weird
Eventos fantásticos na medida
Autora nacional
Pontos negativos

Muitos nomes complexos e detalhes


Título: Metanfetaedro
Autor: Alliah
Editora: Tarja
Páginas: 231
Onde comprar: em ebook na Amazon ou direto com a Alliah, através do email contato[arroba]alliahverso.com.br. Ele vem autografado e com dedicatória. ❤️

Avaliação do MS?
Se você nunca teve contato com o new weird e gostaria de começar por algum lugar, então prestigie uma autora nacional. O mercado já conta com livros como os de China Miéville dentro deste gênero, onde você também pode se aventurar. Metanfetaedro trouxe um novo fôlego à uma produção fantástica brasileira saturada de "mais do mesmo" e por isso merece ser lido e divulgado. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para que você também leia e se aventure por estas páginas estranhas.


Até mais!

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