Resenha: Outlander, A Viajante do Tempo, de Diana Gabaldon

Demorei muito para digerir este livro imenso, com 800 páginas. Não foi nem pelo tamanho, pois adoro o enredo que ele apresenta, mas por vários eventos que acontecem nele que me deixaram bastante incomodada. É um livro com muita violência gratuita e explícita, o que pode incomodar algumas pessoas. Mas ele lida com viagem no tempo e com um período histórico bastante conturbado para a Escócia.



O livro
Claire Randall está com o marido para um período de férias na Escócia. Ele, como bom historiador, não se cansa de contar sobre as histórias sangrentas das guerras dos clãs, da invasão inglesa, enquanto busca as origens de sua própria família. Durante a Segunda Guerra Mundial eles ficaram separados, cada um trabalhando em um canto da Europa e agora podiam matar a saudade um do outro em uma lua de mel há muito adiada.

Resenha: Outlander, A Viajante do Tempo, de Diana Gabaldon

Em uma conversa informal, eles descobrem que ainda existem celebrações druídicas pela localidade e resolver assistir, bem cedo, escondidos nos amieiros atrás de um misterioso círculo de pedras, conhecido com Craig na Dun. E assim acontece, as pessoas vêm, com lençóis brancos amarrados ao corpo, realizando preces e danças em gaélico. Enquanto seu marido Frank fica encantado, Claire encara tudo com certo enfado.

No dia seguinte, devido a seu interesse em botânica, Claire retorna de manhã cedo ao local do círculo de pedras. A pedra mais alta do círculo tinha uma fenda vertical, que a dividiu em duas grandes partes. E havia um estranho zumbido vindo de algum lugar... Até que a pedra gritou, em seguida as outras também gritaram e tudo se tornou extremamente confuso. Quando Claire volta a si, enjoada e tonta, o mundo parece o mesmo. Até que ela desce a colina.

Claire se depara com homens de kilt, correndo pela clareira, com estampidos distantes que pareciam ser tiros. Pensando se tratar de um filme, ela volta para o bosque para não atrapalhar as gravações, até que sente uma forte mão tapar-lhe a boca e atirá-la ao chão. Num primeiro momento, ela pensou que fosse seu marido Frank, devido à semelhança física. Mas, na verdade, este é o personagem mais nojento, canalha, odioso e violento que já tive o desprazer de ler em um livro: o capitão Black Jack Randall, capitão da Oitava Companhia de Dragões de Sua Majestade, servindo na Escócia.

A partir deste evento, Claire é jogada na história da Escócia em 1743. Ela acaba sendo acolhida pelo clã dos MacKenzie, depois de ajudar Jamie, ferido à bala por ingleses e, sob suspeita de ser espiã, acaba tornando-se a médica do castelo do clã. É através dos olhos de Claire que vemos o mundo escocês às vésperas do massacre que dizimou os clãs escoceses.

Em determinado ponto do enredo, a vida de Claire corre perigo. Os escoceses acham que ela é uma espiã inglesa, os ingleses acham que ela é uma espiã francesa e por isso querem sua cabeça. Para evitar que isso aconteça, Jamie e ela se casam em uma cerimonia apressada, o que a assusta, afinal ela já é casada, só que em outra época. A personagem sofre todo o tipo de violência como tapas, beijos não autorizados, sofre várias tentativas de estupro e é surrada pelo marido escocês, Jamie, por tê-lo desobedecido. São vários episódios de violência gratuita contra Claire. Várias. E vieram me dizer que "era o costume da época". Não, não engulo essa. Mulheres ainda apanham e morrem pelos mesmos motivos nos dias de hoje. Aquilo, além de outras cenas estranhas, são violência gratuita mesmo, sem nenhuma reflexão da parte da autora, sem nenhuma serventia para a narrativa.

Sem contar que ficamos sabendo de tudo, TUDO, TU-DO, da vida de Jamie. Seus amores, suas tragédias, seu primeiro beijo, sua virgindade, sua família, suas dúvidas sexuais, as vezes em que aprontou quando criança e apanhou do pai. Mas de Claire temos pouquíssimas informações. A protagonista da história acaba virando uma espectadora silenciosa dos eventos, com pouca contribuição para o enredo, já que ele é todo conduzido por outras pessoas.

Cena da série de TV Outlander.

Senti falta de duas coisas no livro, que não sei se faltou na nova edição da editora Saída de Emergência, ou se é porque nunca constou do livro original. Uma delas é um mapa. Mapa é algo essencial em um enredo como este e sinto falta de mapas em vários outros livros. O mapa nos ajuda a colocar no espaço os eventos do enredo. E a segunda coisa foi um pequeno comentário sobre história da Escócia, os eventos narrados e as inspirações do livro, escrito pela autora, o que nesta edição não tem.


Ficção e realidade
Gosto muito da história da Escócia. Conheço bastante sobre ela, desde as invasões vikings, pois fui ghostwriter, justamente, sobre vários momentos da história deste país e achei incrível toda a pesquisa feita por Diana Gabaldon para o livro. Este é um período de grande perturbação para os escoceses. Os Levantes Jacobitas eram insurreições que tinham o objetivo de reconduzir Jaime II de Inglaterra, e mais tarde os descendentes da Casa de Stuart, para o trono após este ter sido deposto pelo Parlamento durante a Revolução Gloriosa. A origem do nome da série de conflitos está em Jacobus, a forma latina do nome inglês James.

O mundo feito de alianças entre clãs, o financiamento dos levantes, os problemas com os soldados ingleses e a insatisfação geral com a situação do país são muito bem retratados no livro. O medo da bruxaria, as superstições, cataplasmas e poções, o paganismo em meio à uma nação cristã, tudo isso faz com que nos sintamos em meio às clareiras, lutando junto dos escoceses.

Diana Gabaldon

Diana Gabaldon é uma escritora norte-americana, conhecida pela série de romance e ficção histórica Outlander ou A Viajante do Tempo. Seus livros mesclam diversos gêneros, com elementos de ficção histórica, romance, ficção de aventura e ficção científica/fantasia.


Pontos positivos
Viagem no tempo
Claire e Jamie
Pesquisa histórica
Pontos negativos
Cenas sem nenhum sentido
Muita violência gratuita e estupros


Título: Outlander, A Viajante do Tempo
Título original: Outlander
Série Outlander
1. Outlander
2. A Libélula no Âmbar
3. O Resgate no Mar
4. Os Tambores de Outono
5. A Cruz de Fogo
6. Um Sopro de Neve e Cinza
7. Ecos do Futuro
8. Written in My Own Heart’s Blood
Autora: Diana Gabaldon
Tradutora: Geni Hirata
Editora: Saída de Emergência
Ano de Lançamento: 2014
Páginas: 800
Onde comprar: Amazon


Avaliação do MS?
Apesar dos pesares, da violência gratuita contra Claire, das cenas odiosas de tortura e estupros que são descritas e de várias cenas sem noção alguma, o livro é bom. Sinto que Diana experimentou demais em várias partes, talvez resultando nas cenas sem noção alguma - como transar loucamente depois de matar alguém e sair rolando pela charneca dando risada. Mesmo assim, os fãs de viagens no tempo, história da Escócia, guerras e insurreições vão encontrar neste livro um prato cheio. Eu não garanto a leitura de mais nenhum livro da série, tampouco acompanhar a adaptação para a TV. Três aliens para ele.




Até mais!

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