Ao contrário de Star Wars, Star Trek tem uma base sólida ligada à televisão. Os filmes que vieram a reboque não são o cálice sagrado que sustentou Star Trek durante todos estes anos, foram suas séries de TV. Star Wars é e sempre foi muito mais ligado ao cinema do que Star Trek e se firmou aí como uma das grandes franquias atuais. O universo trekker ainda se baseia no que suas séries contaram ao longo de décadas.
Partindo da série clássica, Star Trek bombou na TV no final dos anos 80 e durante todos os anos 90, mantendo ao menos um enredo no ar. Temos desde guerras com raças superiores alienígenas até uma nave perdida do outro lado da galáxia. Temos a primeira Enterprise em missões pelo espaço nos primórdios da Frota Estelar e personagens absolutamente maravilhosos ao longo delas. Existe tanto assunto nas séries que quando olhamos para os filmes novos parece que nem estamos vendo Star Trek.
Os filmes de JJ Abrams têm, sim, seu lado positivo. Ele conseguiu encher salas de cinema com fãs e com novos fãs, coisa que não víamos desde Star Trek Nêmesis, em 2002, que foi muito mal recebido pela crítica. Ele conseguiu dar um novo fôlego para a franquia, com novos e estonteantes efeitos especiais, se utilizando da tripulação da série clássica quando jovens. Pude ver pessoalmente o que o filme de 2009 causou na Livraria Cultura com um rapaz alucinado para consumir tudo o que tivesse o nome Star Trek na capa.
Por outro lado, os filmes novos ignoraram tudo o que Star Trek nos ensinou. Deixou de lado a diplomacia, amizade, a ciência, a representatividade de mulheres, negros, cadeirantes, indígenas, gays, lésbicas, as jornadas rumo ao desconhecido. São dois filmes de ação baseados em Star Trek, e só. Vivemos numa época em que Star Trek é apenas uma franquia de filmes de um universo alternativo do cânone original. A longevidade da franquia só pode ser equiparada à Lei e Ordem, uma das mais longas a ter ficado em exibição e com Os Simpsons.
Ficção científica, ultimamente, anda aquecida. Seja com as distopias juvenis nas livrarias e nos cinemas, seja com o frisson que o anúncio da Disney de trazer uma nova trilogia de Star Wars, seja com Star Trek de Abrams, o mercado está propício para uma nova série de Star Trek na televisão. Carecemos de séries deste tipo e ela está fora da TV desde do cancelamento de Enterprise, que nunca chegou ao sucesso das anteriores. Orphan Black, Defiance, Dr. Who, Helix, Revolution, Extant, temos uma dúzia de séries bombando, porém nenhuma no segmento de ST, já que Battlestar Galactica também acabou.
Enquanto o espetáculo visual de Abrams diverte por um momento, as séries são capazes de lidar com os dilemas éticos, étnicos e pessoais. Se ela conseguiu fazer isso numa época em que a televisão era muito mais conservadora, imagine o que ela poderia fazer agora, num momento onde temos séries como Game of Thrones abalando a "moral e os bons costumes"? A televisão está muito mais ousada e atraente do que era na época em que as séries estavam no ar. Se já fizeram aquele barulho, imagine hoje? É o momento certo para ela voltar.
De fato, o diretor Brian Singer chegou a trabalhar em um projeto chamado Federation, uma série de TV que trataria de um período de declínio da Frota Estelar, séculos depois de A Nova Geração. No entanto, a ideia foi para a gaveta quando a Paramount, detentora dos direitos de Star Trek, contratou JJ Abrams para dirigir o novo longa, de 2009. E se a coisa anda ruim, a Paramount consegue piorar, já que ela pediu que o novo filme de Star Trek seja na pegada de Guardiões da Galáxia... Pois é.
Os trekkers pelo mundo conseguiram evitar o cancelamento da série clássica em 1968 e conseguiram dar o nome de Enterprise a um ônibus espacial. Estava na hora de uma nova união para pressionar estúdios e produtoras e resgatar essa que é uma das coisas mais incríveis já feitas.
Vida longa e próspera!
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