O Teste Lovelace

Ada Lovelace, ou Ada Augusta Byron King, Condessa de Lovelace, é considerada a primeira programadora da história. Foi matemática e escritora inglesa e é principalmente reconhecida por ter escrito o primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina, a máquina analítica de Charles Babbage. Seu nome foi emprestado para um teste cuja função é substituir ou ao menos aperfeiçoar o famoso Teste Turing.


Alan Turing foi um matemático, lógico, criptoanalista e cientista da computação britânico. Em 1950, ele fez uma previsão: de que um computador, um dia, conseguiria provar ser uma máquina pensante, uma máquina dotada de consciência e que seria capaz de se passar por um ser humano. Para isso, ele teria que passar por um teste respondendo perguntas como se fosse humano. Desta forma nascia o famoso Teste de Turing, ou Teste Turing, utilizado até hoje.

Turing foi bastante influente na ciência da computação e na formalização do conceito de algoritmo e computação com a máquina de Turing. Seu papel no desenvolvimento do computador moderno é extremamente importante, bem como na inteligência artificial e na ciência da computação. Em Neuromancer, de William Gibson, temos a chamada Turing, uma polícia cuja função era policiar computadores e inteligências artificias, para impedi-las de se desenvolver. Seu teste vem sendo usado há décadas na tentativa de identificar alguma consciência em computadores.

No entanto, o teste de Turing tem vários problemas. Para que um computador passe ele precisa apenas estar programado para imitar a linguagem humana e assim estabelecer uma conversa com uma pessoa de verdade que seja lógica. E isso não é sinal de inteligência da máquina, apenas demonstra que sua programação foi bem feita. Inteligência é um conceito bastante complicado de se definir porque ela não se baseia apenas num raciocínio lógico-matemático. Uma máquina programada com zeros e uns teria condições de compreender a arte ou a criatividade?

Foi com base nessa falha do Teste Turing que surgiu o Teste Lovelace. Ele foi concebido para ser mais rigoroso, testando a cognição da máquina. O teste não é recente, foi desenvolvido por volta do ano 2000 por Bringsjord, Bello e Ferrucci e vem sendo aperfeiçoado desde então. O novo teste elimina o potencial de manipulação do programa ou dos programadores e busca ações inteligentes e puramente autônomas da parte das máquinas. Desta forma, ela só passa no teste se produzir algo para o qual não foi programada com antecedência.

Até que uma máquina possa originar uma ideia para a qual não foi projetada, ela não pode ser considerada inteligente da mesma forma que os seres humanos são.

Ada Lovelace

E o que poderia ser? Bem, qualquer coisa produzida de maneira criativa, por exemplo, um conto, uma canção, um conceito, desde que seja algo original, criado pela máquina. Tem que ser algo para o qual os programadores não possam ser capazes de explicar como o seu código original levou a esta criação. Ada Lovelace, em 1843, escreveu que computadores nunca poderiam ser mais inteligentes que os humanos porque eles não poderiam fazer algo além do que já lhes fora programado. A menos que uma máquina, um programa, um computador, possa desenvolver algo inédito, algo que possa surpreender seus programadores, o restante é totalmente mecânico.

Mas que computador poderia passar por um teste desses? Algo próximo, mas muito atrás de uma máquina dessas, é um experimento do Google capaz de reconhecer um gato. É uma rede neural com 16 mil processadores e um bilhão de conexões, que ao acessar o Youtube começou a procurar por vídeos de gatinhos. Mas antes, ele foi exposto a 10 milhões de vídeos escolhidos aleatoriamente no Youtube por três dias e depois foi apresentado à uma lista de 20 mil itens diferentes. Então, ele começou a reconhecer imagens de gatinhos sem ter recebido informações com características físicas que o ajudassem a identificar um.

gatinho de óculos

Apesar de achar que gatinhos melhoram e muito minha consideração por uma máquina e que deixam a vida com muito mais amor, isso está anos-luz de distância da Skynet ou do computador da Enterprise. A Universidade Stanford expandiu o experimento do Google com uma rede seis vezes maior, com 11 bilhões de conexões. Mas apenas para comparar, o cérebro humano tem 100 trilhões de conexões. Para os idealizadores do teste Lovelace, não tem problema se uma máquina não passar no teste.

Empatia, criatividade, auto-determinação, pensamento autônomo, são programáveis? O androide Data, de Star Trek, tinha um chamado "chip de emoções", mas como se programa sentimentos e emoções se são coisas que independem de lógica matemática? Muita gente acredita que as máquinas nunca poderão se igualar em inteligência aos seres humanos. Talvez devamos pensar em mais aplicações práticas para a inteligência artificial, como a exploração do espaço, ao invés de uma busca por uma máquina que possa pensar, sentir e criar. Se uma máquina puder amar, ela também poderá odiar. E quem sabe para quem ela direcionará esse ódio?

Até mais!

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Comentários

  1. Me peguei pensando se a Máquina, de Person of Interest, passaria no teste. É interessante pensar como, quase sempre quando se fala de inteligências artificiais, procuramos aspectos de humanização que distanciam do raciocínio lógico-matemático e se aproximam da subjetividade. Talvez por isso que a FicCient fascine tanto :)

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  2. Que louco. E muito black mirror. Sou meio novata em ficção científica, mas fiquei pensando em Matrix.

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  3. Oi, Capitã! Excelente texto!
    Robô é um dos temas que mais gosto na ficção científica, mas às vezes a realidade assusta. Como no caso dessa notícia sobre duas IAs que criaram uma linguagem própria:
    https://revistagalileu.globo.com/Tecnologia/noticia/2017/07/inteligencia-artificial-de-projeto-do-facebook-cria-linguagem-propria.html

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