Resenha: Templo, de Matthew Reilly

Achei que tinha sido um infortúnio pegar um livro de Matthew Reilly e ter criticado tanto sua obra anterior, Estação Polar. Resolvi dar uma nova chance a ele com um de seus livros mais recentes, pois vi que muita gente gostou do enredo e considera Matthew como um dos mais criativos escritores atuais. Templo é o livro resenhado de hoje.



O livro
William Race é um pacato professor universitário e linguista. Um dia, ele chega para o trabalho e encontra uma recepção um tanto inusitada. Os militares norte-americanos o convocam para fazer uma tradução que pode levar a um importante ídolo da civilização inca, há muito perdido, porém bastante cobiçado. Race não entende porque sua participação é tão importante, mas acredita que seu irmão, que é militar, possa estar por trás da sua convocação. Sem ter como fugir da tarefa, ele aceita e embarca rumo à América do Sul junto de uma equipe multidisciplinar, além de muitos militares bem armados e apressados.

Resenha: Templo, de Matthew Reilly

O professor então se vê traduzindo um obscuro documento de 400 anos, escrito por um missionário espanhol nas terras novas das Américas e suas impressões sobre o trato com os nativos e a violenta conquista exercida por seus compatriotas. Ele conta como ajudou Renco, um príncipe inca, a fugir de uma prisão e a correr contra o tempo e contra Hernando Pizarro, o sádico desbravador espanhol, que buscava o tal espírito do povo inca, o ídolo, a qualquer custo. Aliás, esta parte é bem bacana, pois vemos o período caótico que o povo inca enfrentou com a chegada espanhola e vemos a brutalidade deste tempo.

Percebe-se que os militares estão bem apressados. Eles contam a Race que outras equipes estão atrás do ídolo, já que ele é feito de um material raro e extremamente poderoso que veio de um meteorito caído na Amazônia Peruana muitos séculos atrás. As propriedades deste material, o trítio, o tornam a arma perfeita para destruir o mundo. E claro, gente gananciosa e racista pretende fazer o mundo de refém se conseguir colocar suas mãos neste artefato.

A primeira coisa que se percebe de Reilly é sua obcecada atenção aos detalhes das cenas de ação, o que chega a encher o saco. Suas cenas já eram estapafúrdias em Estação Polar e aqui não mudou muito. Temos muitos fatos envolvidos em busca do ídolo, desde animais míticos do folclore inca, à nazistas fugidos do Julgamento de Nuremberg que querem dar uma de Pink e Cérebro e conquistar o mundo. Temos uma profusão de personagens, mas felizmente aqui o autor ao menos dá um destino a eles, coisa que em Estação Polar ficou em aberto.

O autor é tido como um predecessor de Dan Brown, mas acho que a diferença principal é que, mesmo Brown criando cenas extraordinárias demais, como em Anjos e Demônios (meu livro preferido) ele consegue concatenar os fatos do enredo de uma maneira melhor e muitas vezes seus finais são imprevisíveis. Já Reilly não, a gente já saca desde o começo que fim aquilo tudo vai dar e você se arrepende da leitura. E também há um problema com seus personagens. Eles realizam feitos tão absurdos, onde nada acontece a eles e tudo parece incrível demais...

Ficção e realidade
É interessante apontar a presença de nazistas na América do Sul. Sabemos que alguns oficiais procurados de Hitler realmente conseguiram escapar dos julgamentos pós-Segunda Guerra e se refugiaram ao sul do equador. Em Templo, eles são bem armados - até demais - bem financiados e conseguiram criar um mega exército de nazis motivados a destruir o mundo sem que ninguém tentasse mexer um dedo para impedir. Alguns destes fugitivos já são idosos quando se passa a trama e continuam tão motivados como nos anos 40, o que achei um tanto difícil de engolir.

Além disso, o enredo nos mostra a crueldade dos tempos pós-descobrimento e como a cultura inca foi afetada pelas ações espanholas. Neste quesito, o autor acertou no tom e consegue mostrar de maneira bem fidedigna, através das palavras do missionário que, envergonhado de sua ingenuidade e de seus compatriotas, decide ajudar o príncipe Renco, de quem fica muito amigo. No entanto, os detalhes excessivos do autor estragam uma parte da aventura.


Matthew Reilly é um escritor australiano que começou a publicar seus livros por conta própria, em 1996, indo pessoalmente nas livrarias para negociar com os livreiros. Hoje é um autor best-seller, com quase 6 milhões de cópias vendidas em mais de uma dúzia de livros.

Pontos positivos
Aventura na Amazônia
Tesouros incas
Suspense e ação
Pontos negativos
Repetição excessiva
Final poderia ser melhor
Se alonga demais nas cenas de ação

Título: Templo
Título original: Temple
Autor: Matthew Reilly
Tradutor: Marcos Demoro
Editora: Record
Ano de lançamento: 2009
Páginas: 588
Onde comprar: Amazon


Avaliação do MS?
Um livro grande demais, detalhista demais, com ação demais. Para quem curte um estilo semelhante ao de Dan Brown, pode tentar se aventurar com Matthew Reilly. Porém, se você tiver leituras mais interessantes, pode deixar esse aqui meio de lado, pois não vai perder grande coisa. O livro teria sido bem melhor se o autor trabalhasse com menor e fizesse os excessivos detalhes e personagens soarem mais críveis. Três aliens para ele.




Até mais!

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