Depois que li o primeiro livro, Partials, fiquei com vontade de ler o seguinte, Fragmentos. O livro fica ainda mais intenso que o primeiro, bem amarrado e com personagens instigantes, com múltiplas camadas, falhos e humanos, até mesmo aqueles geneticamente construídos.
Esta resenha contém elementos do enredo do primeiro livro. Se não quiser ler os spoilers, por favor, não continue. Se quiser ler a primeira resenha, leia aqui.
Esta resenha contém elementos do enredo do primeiro livro. Se não quiser ler os spoilers, por favor, não continue. Se quiser ler a primeira resenha, leia aqui.
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O livro
Fragmentos começa algumas semanas depois dos eventos finais de Partials. Então, retomando um pouco os eventos do primeiro livro, nós temos um mundo destruído. A humanidade foi reduzida a pouco mais de 40 mil indivíduos, sitiados em Long Island, de olho nos inimigos do outro lado do mar, os Partials. Estes eram soldados geneticamente construídos e modificados, utilizados em guerra. Foram encomendados pelo governo norte-americano quando as relações com a China azedaram. Quando voltaram para casa com o fim da guerra, começou um intenso debate sobre a humanidade dos Partials e o que fazer com eles. Não sendo considerados humanos pelo governo, os Partials declararam guerra. É então que o vírus RM foi deflagrado, dizimando mais de 99% da humanidade.Em Partials, vemos o início da jornada de Kira, a protagonista, aprendiz de médico, que tenta achar uma resposta para a infertilidade que atinge a todos. No entanto, ela descobre que também é uma Partial, apesar de ser um tipo diferente. Não era um soldado, nem cientista, e os próprios médicos Partials não sabem para que ela foi feita e nem como, já que ela foi encontrada quando criança vagando pelas ruas e cresceu e se desenvolveu sem chamar nenhuma atenção.
Ela sai de Long Island para tentar descobrir quem é. Temos aqui as dúvidas comuns da adolescência sobre identidade e personalidade, seu lugar no mundo, sendo bem trabalhadas e facilmente identificáveis pelo leitor. Kira chega em uma Nova York em ruínas e descobre um escritório da ParaGen, a empresa que criou os Partials e que mexia com engenharia genética como quem troca de roupa. Ao entrar no escritório ela percebe que alguém andou recolhendo computadores e documentos. Mas para que?
Kira fica, então, de tocaia para tentar descobrir se há mais alguém em Nova York. Lembrando de uma estranha fumaça que vira no primeiro livro, passam-se alguns dias e ela descobre ruínas com painéis solares e computadores. Partials? Depois de algum tempo ela descobre um sobrevivente. Ele se chama Afa, especialista em TI, que trabalhava para a ParaGen e que juntou por anos toda a documentação da empresa sobre os Partials e sobre o RM. Mas ele está totalmente desequilibrado pelo isolamento e é frequentemente incoerente. Kira faz um esforço para entendê-lo e começa a descobrir fatos interessantes.
Por exemplo, ela descobre que o RM foi criado pela ParaGen. No entanto, mais informações sobre o assunto estão no servidor central, que fica em Chicago. Samm, o partial que Kira capturou no primeiro livro e Heron, uma partial especialista em encontrar pessoas, acham Kira e Afa em Nova York e resolvem ajudá-los na viagem, apesar de Heron ser contra. Em Chicago, eles conseguem obter parte da informação que precisam, mas os mais preciosos arquivos estão na sede da empresa, em Denver. Porém, chegar lá não é fácil. O ar e o solo estão contaminados após anos de incêndios e descuido e uma viagem para lá é extramente perigosa.
Algumas coisas no livro são bem chatinhas. A teimosia de Kira, por exemplo, que arrasta Afa por metade dos Estados Unidos, sendo que em Chicago ele ficou gravemente ferido. A viagem é desconfortável e perigosa, mas ela o leva mesmo assim, sem nem esperar um período de melhora. Heron reluta em acompanhar os outros, mas é convencida por Samm o tempo todo. Kira é curiosa e inteligente, mas isso às vezes a coloca em situações de risco à toa. O enredo dá uma embolada do meio para o final pelo excesso de informações trazidas à tona. Mas o modo como o autor descreve os locais abandonados e como conduz a narrativa supera essas chatices. E mesmo tendo algum sentimento romântico rolando entre Kira e o partial Samm, isso não toma conta da narrativa inteira como vejo acontecendo em vários outros YA distópicos.
Ficção e realidade
Para um vírus destruir mais de 99% de toda a humanidade, hoje na casa dos 7 bilhões, ele teria que ser artificial, pois nada na natureza ainda foi capaz de reduzir a raça humana inteira a números tão ínfimos. Neste caso, o RM faz sentido, afinal ele é fruto de engenharia genética. E imaginar um mundo onde os feitos da humanidade estão abandonados dá uma certa sensação de vazio. Não sei quanto a você, mas quando leio distopias desse tipo sempre fica um gosto amargo deixado pela pergunta "e se?".A ParaGen não fez apenas Partials, ela criava animais mais inteligentes e até imitações de dragões e, com o fim da humanidade, essas criações estão soltas na natureza. É uma ótima crítica aos organismos geneticamente modificados e o estrago que eles podem causar se começarem a se disseminar livremente. Casos de canola e soja transgênicas que se espalharam sem controle já aconteceram em algumas partes do mundo. Aliás, uma coisa que gostei desde Partials são as diversas críticas do autor durante o enredo.
Dan Wells é um escritor norte-americano de ficção científica e horror.
Pontos positivos
Distopia bem desenvolvidaPersonagem feminina cativante
Cenários bem descritos
Pontos negativos
Teimosia da personagemLivro embola do meio para o final
Várias perguntas em aberto
Avaliação do MS?
Mesmo com tantos novos fatos trazidos por Wells neste livro, ele consegue manter a narrativa interessante. Muitas perguntas ficaram em aberto e, espero, serão respondidas na terceira parte. Muitas informações podem deixar o leitor um pouco perdido, então aqui você vai sentir falta do primeiro livro, Partials. É uma obra densa, portanto tem que ler com atenção para não deixar passar alguns dados. Ainda assim, é uma distopia que recomendo. Quatro aliens para Fragmentos.Até mais!
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