Robofobia

Conforme a tecnologia caminha a passos largos, muitas inovações chegam às nossas mãos todos os dias. Nem todos as usam, nem todos gostam, tem gente que até hoje não usa celular, por exemplo. Mas quando o assunto é robôs, acho que podemos prever um certo preconceito a respeito caso eles se tornem populares e de preço acessível, como alguns filmes e séries de TV andam mostrando. E com isso, teremos também uma robofobia.






Robofobia não é um termo formal, mas já dá para imaginar a que ele se refere. O medo, às vezes irracional, de robôs e também de seu significado e impacto numa sociedade. Já um robô, de acordo com o Wikipedia é:

(...) um dispositivo, ou grupo de dispositivos, eletromecânicos ou biomecânicos capazes de realizar trabalhos de maneira autônoma ou pré-programada.

O termo robô origina-se da palavra tcheca "robota", que significa "trabalho forçado". Uma das ideias mais antigas de robôs, ou autômatos, é de Arquitas de Tarento, um matemático grego, amigo de Platão, que criou um pássaro de madeira impulsionado por vapor e jatos de ar comprimido. Pode-se dizer que é a primeira máquina a vapor, séculos antes de James Watt.

O primeiro projeto documentado de um autômato é de Leonardo Da Vinci, em 1495. Mas conforme a tecnologia avançava, surgiam obras que retratavam o medo que tais criações humanas causam, sendo o melhor exemplo vindo de Mary Shelley, com sua obra-prima Frankenstein. Foi graças à Isaac Asimov, nos anos 40, e suas obras mostrando robôs servis e presos às três leis da robótica, que o medo pareceu diminuir.

Mas Blade Runner, Battlestar Galactica e O Exterminador do Futuro ressuscitaram o medo irracional para com nossas criações. Aqui temos autômatos com consciência e que se rebelaram contra a posição servil para com a humanidade e até se engajaram em nos exterminar, por nos considerarem imperfeitos e indignos. Os Borg, de Star Trek, apresentam uma contradição ainda maior: consideram o orgânico fraco, optando pelo sintético, mas quer nos assimilar em sua coletividade mesmo assim.

Kenji, um robô projetado pela Robotic Akimu, empresa ligada à Toshiba, mostrou em 2009 o que pode acontecer com robôs programados para simular emoções humanas. Ele teve um ataque obsessivo, agindo fora do normal após passar um dia com uma pesquisadora e chegou a bloquear a porta para impedi-la de ir embora, exigindo abraços. Isso me lembrou do androide Data tendo uma pane quando resolveu usar seu chip emocional em Star Trek Generations e também em AI, Inteligência Artificial, com o robô que fora programado para amar.

Asimov fez vários ensaios em contos e livros, mostrando que as três leis podem ser insuficientes e podem causar mais mal do que bem. E mesmo que o robô não tenha uma programação maliciosa, ele pode causar acidentes como o que aconteceu em janeiro de 1979, quando um robô da linha de montagem da Ford matou acidentalmente um operário esmagado. Eventos como esse podem muito bem desencadear um medo irracional de ter estas máquinas por perto.

Em Surrogates (Substitutos) vemos que o medo das máquinas chegou ao ponto de serem criadas reservas apenas para humanos, onde nenhum robô pudesse entrar ou seria destruído. Em Elysium, temos robôs fazendo a segurança de figurões corporativos, agindo como policiais, agentes de condicional e até paramédicos. Em Star Wars, A Ameaça Fantasma, temos batalhões de droids controlados por uma nave-mãe em órbita, lutando na superfície de Naboo. Na adaptação para o cinema de Eu, Robô, o detetive Spooner tem motivos para odiar os robôs, enquanto o restante da sociedade os idolatra. Temos interessantes reflexões no filme sobre a "alma" dos robôs. Por que, quando estão sozinhos, os robôs ficam em grupos?, e coisas do tipo.

O medo de um autômato é bastante simples de se investigar: é o medo da substituição. Medo que possamos não apenas transferir nossas emoções para uma máquina como também o medo de ser superado por ela. Medo de sermos subjugados e considerados fracos por nossa natureza orgânica e falha. Mas os robôs são nossas criações. Não poderíamos colocar um botão de segurança que possa desligá-los caso se tornem perigosos?

Uma coisa que estive pensando enquanto assistia ao novo Robocop, de José Padilha: se atribuirmos consciência aos robôs, tal como a nossa, será que as três leis continuam valendo? Lembro de ter visto um filme há muito tempo, Um Homem Mais Que Perfeito (1994), onde uma escritora solitária se retira para o campo e contrata um serviço de acompanhante, um robô. Ela tem na mão a capacidade de torná-lo mais "humano", caso deseje. E chega um momento em que ela lhe dá uma capacidade de ser independente e de fazer o que quiser. Ele então se torna psicótico e obcecado por ela.

Não podemos ser tão pessimistas quando apostamos no futuro, mas devemos ser cautelosos. Até que ponto imitar a humanidade é saudável? Será que todo robô almejará ser cada vez mais humano, como Data? Ou eles nos verão como uma praga e partirão para o ataque devido aos anos de escravidão, como fizeram os Cylons? Não dá para saber. Mas se algo assim acontecer, não poderão dizer que a ficção científica não avisou.

Até mais!


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Should robots be held to a human moral compass?


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