Você deve imaginar, "será que é mais um livro de uma trilogia?". E eu respondo, SIM, é mais um! Estou avisando, mais cedo ou mais tarde vou me jogar nesse lance de trilogia, já que virou febre esse bagulho. Nada contra livros em sequência, a questão é que ultimamente parece que eu tenho faro para isso, já que li muitos livros que abrem trilogia recentemente. Este é uma distopia bem construída e melhor, com personagem feminina.
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O livro
Saba, seu irmão gêmeo Lugh, a caçula Emmi e seu pai vivem em um lugar isolado chamado Lagoa da Prata, em algum lugar indefinido do futuro. A vida é difícil, ainda mais depois da morte da mãe no parto de Emmi e com o pai se desligando cada vez mais da realidade. Saba e Lugh são carne e unha, mas Saba não suporta a presença da caçula, pois a culpa pela morte da mãe. Um dia, logo após uma tempestade, cavaleiros negros levam Lugh embora, matam o pai e deixam Saba e Emmi sozinhas no meio do nada.Saba não sabe viver sem o irmão e jurou que o encontraria. Mas ela tem a mala da Emmi para carregar. Depois de cuidarem da cremação do pai, ela resolve partir em busca do irmão, mas primeiro precisa deixar a irmã na casa de uma velha amiga do pai para seguir viagem. Sua relação com a irmãzinha é das piores. As discussões são constantes, ela chega a esbofetear a cara da menina por desobedecê-la. Emmi é teimosa, turrona, mandona... exatamente igual a Saba.
Assim que chegam a Dois Riachos, Saba não perde tempo. Parte logo em seguida. Um imenso deserto a espera. Ela e seu corvo de estimação, Nero. Podemos ver pedaços do mundo em que todos eles vivem. Um mundo destruído, pedaços da civilização aqui e ali, pessoas vivendo dos espólios destruídos da industrialização. Quando Saba para em um cemitério de aviões para descansar, percebe que está sendo seguida. Espreita e ataca o agressor. Qual não é sua surpresa quando vê Emmi? A convivência entre ambas parece impossível, mas elas terão que se aguentar até acharem Lugh.
Eu relutei em começar a leitura porque percebi que os personagens falavam de uma maneira bem coloquial. "Correno, falano, veno" e achei que não conseguiria me acostumar. Mas isso mudou rápido. Percebi que o mundo de Saba é cru, informal. Ela mesma não sabe ler, nem escrever, portanto foi uma sacada genial fazer isso transparecer na leitura. Você acaba lendo com um sotaque a lá Chico Bento e deixa o livro ainda mais interessante. Saba consegue ser chata e insuportável em algumas passagens, tão obcecada pelo resgate do irmão que quase atropela as pessoas que querem ser suas amigas.
Ilustração de Renee Nault para o livro de Moira Young |
Emmi também é outra personagem bem construída, chata e adorável ao mesmo tempo. Os cenários ficaram muito interessantes, pois vemos traços da civilização perdida e uma tentativa de reorganizar a sociedade, mesmo que não seja a ideal. Uma pena que o livro segue uma linha meio previsível e a presença de um rei almofadinha e psicótico meio que quebra uma ótima sequência de eventos em um ambiente distópico. Nós temos grandes e intensos momentos que ficaram mal aproveitados por acabarem de maneira previsível. Acho que um elemento surpresa teria sido muito bem vindo.
Ficção e realidade
O livro tem tudo o que imagino que vá acontecer num mundo distópico que esqueceu seus tempos de ápice de civilização. Cidades abandonadas, caindo aos pedaços, restos da civilização sendo utilizados como moeda de troca, a sociedade voltando a um momento de escambo. Não pude deixar de notar a semelhança com Mad Max, Além da Cúpula do Trovão em uma parte do enredo onde temos uma arena de lutas bem sanguinárias. Aquilo, aliado ao chaal, uma droga muito consumida pela população, mastigável como tabaco e que é o verdadeiro poder, tornam a população fácil de controlar. E Saba cai bem no meio disso tudo.Moira Young é uma escritora canadense de ficção juvenil, conhecida pela trilogia Dust Lands.
Pontos positivos
Ficção científicaDistopia
Personagem feminina
Pontos negativos
Final previsívelLivro se arrasta em algumas partes
Avaliação do MS?
Apesar de alguns problemas pontuais da obra, Moira Young conseguiu criar um mundo distópico diferente de Jogos Vorazes, com o qual a obra foi rapidamente comparada. Temos uma distopia com todas as características básicas de uma, mas com personagens intensos e bem construídos. O mundo de Saba e Lugh é violento, hostil, tendo que viver entre ruínas e entre pessoas más e interesseiras, querendo tirar vantagem de todos e de qualquer situação. Distopias sempre são uma boa maneira de fazer críticas ao presente e Caminhos de Sangue possuem tais críticas. Quatro aliens para a chatice teimosa de Saba.Até mais!
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