Não sei se você já reparou, mas existe muito preconceito com a tal "literatura teen". Ela é chamada de pobre, fútil, uma onda febril que passará rápido, enchendo a cabeça de nossos jovens de "bobagens", desconstruindo mitos como o do vampiro, mal escritas, obras oportunistas, etc. etc.. Independente de gosto e estilo de escrita, este é um nicho muito rico e que dá dinheiro. E não vai sumir só porque tem quem não goste.
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O fenômeno não é novo, mas foi potencializado pela internet e redes sociais. Com os N blogs literários que temos por aí, vemos jovens formando redes de leitores, trocando informações, formando parcerias com editoras e assim alimentando o mercado que é um dos mais lucrativos do país e também em franca expansão. São vários os títulos voltados para o público teen, ou muitas vezes denominado como young adult (jovens adultos). De qualquer forma, o filão é pegar a faixa que vai dos 10 aos 25 anos, em geral se fixando por volta dos 20, como a massa de leitores.
Estima-se que a literatura teen represente cerca de 45% do faturamento das editoras que apostam na área. Só a Editora Record arrecada 30% dos seus lucros com essas vendas. Metade dos lançamentos da Editora Rocco (a mesma de Harry Potter) é apenas de literatura infanto-juvenil. Para um país que não lê - ou supõe-se que não lê - ver a galera jovem sustentando o mercado é um tapa na cara de muita gente que afirma que quem quer viver de livros no Brasil não consegue. Thalita Rebouças taí para provar que dá sim para viver.
Se podemos escolher um momento em que o nicho ganhou destaque foi com as obras de JK Rowling. Harry Potter ganhou as prateleiras e os corações de uma legião de fãs mundo a fora e tornou-se talvez o maior fenômeno de vendas de todos os tempos. Foi graças ao destaque dado às obras do jovem bruxo que outros livros clássicos, mas até então deixados nas prateleiras, como As Crônicas de Nárnia e A Bússola de Ouro foram relançados. Harry Potter não apenas trouxe um destaque ao público leitor jovem como também atraiu a atenção para o gênero da fantasia. O Senhor dos Anéis para as telonas veio logo em seguida.
Muitos livros parecidos com Harry Potter surgiram, como Eragon. Thalita Rebouças e Meg Cabot devem suas carreiras ao trabalho de JK Rowling, pois ela abriu as portas para novos autores apostarem nos adolescentes que careciam de obras que os entendesse e que falasse com eles. Quem leu Harry Potter deve ter se identificado com vários dilemas morais que ele enfrenta, além das preocupações com notas, os problemas familiares, o surgimento da paixão e do amor, enfrentar o mal e perder familiares.
Mas para muitos, o encanto com as obras juvenis foi por água abaixo com o mito destruído do vampiro mal, leviano e sanguinário pelas mãos de Stephanie Meyer e sua obra mais conhecida, Crepúsculo. Eu sou sincera em admitir, não gosto de Crepúsculo e não falo da boca para fora, eu realmente li dois livros e meio da saga de Bella e Edward. Achei pobre, mal escrito e precisou criar um final onde tem disputas de poder para dar um sentido à toda a balela anterior. Cultura não é só o que eu gosto, portanto não posso descartar a importância que a saga teve para os milhões de fãs pelo mundo, que tornaram Meyer milionária.
O livro trata dos mesmos problemas que os jovens enfrentam em Harry Potter: o bem e o mal, problemas na escola, em casa, a dificuldade do jovem em se achar e ver seu lugar no mundo, os amores proibidos. Nada que você e eu, e todos os outros adultos neste mundo nunca tenham sofrido na adolescência. Independente de ser meu estilo ou o seu, a obra tem seu propósito. Quem mete o pau em literatura teen deveria conhecer o meio primeiro ao invés de ver a cena de Edward brilhando e descer a lenha.
As releituras de zumbis, lobisomens, feras e vampiros só são ruins para quem tem medo da mudança. Quem gosta de zumbis podres e em pedaços correndo atrás de sobreviventes continua tendo esse filão para ler e assistir muito bem assegurado. Quem curtiu Sangue Quente e sua versão cinematográfica pode muito bem participar do filão de cultura zumbi por um outro viés. É aí que está a jogada, atrair pessoas para o gênero que antes não o consumiriam. E os autores estão enriquecendo neste segmento.
É maravilhoso ver que autoras estão crescendo no segmento. Em muitos casos, o personagem principal também é feminino, como os casos dos livros recentes A 5ª Onda, Trono de Vidro, Jogos Vorazes e Caminhos de Sangue. No Brasil, editoras estão apostando mais em autores nacionais, pela disponibilidade deles em estar com o público, em interagir pelas redes sociais, o que atrai leitores e os estimula a acompanhar o autor.
A literatura infanto-juvenil é como uma escola preparatória para as leituras tidas "mais adultas". Muitos jovens que leram Jogos Vorazes foram buscar outras obras de cunho distópico como Admirável Mundo Novo ou 1984. Ninguém é adolescente para sempre, então não vejo porque a cultura de ódio que existe pelas obras juvenis, como se elas fossem acabar com a "literatura de verdade". É como se tivessem colocado Crepúsculo nas prateleiras e lá no fundo da livraria eles queimassem todas as cópias de Drácula.
É ótimo ver a garotada lendo. Eu quero mais é que leiam e muito e inspirem os adultos que, no Brasil, leem uma média de 3 livros ao ano, mas que abrem a boca para meter o pau no que desconhecem. O mercado está aí, os autores também. Parem de reclamar e peguem um livro para ler.
Até mais!
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