Ela (Her) foi uma grata surpresa. É um daqueles filmes que traz elementos para compor não apenas um ótimo filme, com grandes atores, mas também que traz uma crítica à modernidade e de como as relações humanas estão acontecendo no dia a dia. As pessoas se reúnem para ficar em seus universos virtuais, no smartphone, checando status e postando fotos no Instagram, mas deixam de interagir entre si numa mesa de bar. "Ela" traz uma evolução deste fenômeno social.
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O filme
Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) separou recentemente de sua esposa e vive uma existência solitária entre trabalho e jogos. Ele trabalha escrevendo cartas de amor para pessoas com dificuldades em expressar seus próprios sentimentos. Ele próprio é introvertido, bastante recluso, tendo apenas a tecnologia como aliada no dia a dia e na tentativa de fazer novos contatos. Infeliz por ver o divórcio com seu amor de infância, Theodore compra um novo sistema operacional (OS) com inteligência artificial cujo design permite que ele evolua e se adapte conforme interage com seres humanos.
Decidindo que o OS teria uma personalidade feminina, ele a apelida de Samantha (Scarlett Johansson) e começa aí um incrível relacionamento. Theodore fica fascinado com ela, pois sua capacidade de aprender e crescer, inclusive psicologicamente é muito grande. Samantha compõe poesias, recitais de piano, canta e cuida da agenda de Theodore. É bem humorada e divertida, conversa com ele sobre seus problemas amorosos e tenta ajudá-lo a superar o divórcio e o casamento mal sucedido.
Os dois se tornam mais e mais íntimos e acabam desenvolvendo um relacionamento. Samantha, no entanto, começa a experimentar sentimentos conflitantes, sentimentos para os quais não estava preparada. Começa a questionar se eles estavam embutidos em sua programação ou se ela aprendeu a sentir daquela forma, a amar tão profundamente Theodore. Ela sente ciúmes da melhor amiga dele, Amy (Amy Adams) e começam a surgir conflitos na vida de Theodore para os quais nenhum deles estava preparado.

O filme é muito sútil, muito profundo, pois trata de sentimentos humanos sendo processados por uma máquina que aprende e evolui com as atividades e interações humanas. Samantha é um sistema operacional, mas age de uma maneira que fez com que Theodore se apaixonasse por ela e ela por ele, o que começa a gerar conflitos em seus algoritmos. Amy o alerta com seu próprio exemplo ao se divorciar, dizendo que agora ela tem a chance de poder viver e ele deveria fazer o mesmo ao invés de investir em um relacionamento com um sistema operacional que, claramente, não vai dar em nada.
O longa pode ser meio paradão em alguns momentos, mas não creio que chegue a atrapalhar o andamento do enredo. Scarlett Johansson não aparece em nenhum momento, temos apenas sua voz interagindo com Joaquin Phoenix, mas sua atuação é brilhante. Sua voz exprime sentimentos de maneira mais eficiente que muito ator velho de guerra por aí.
Ficção e realidade
Pode até parecer que este tipo de interação esteja ainda um pouco longe de acontecer, com um OS tão avançado assim a ponto de bater aquele papo com a gente, mas nós vemos o modo como os gadgets atuais interferem nas relações humanas. Basta ver uma mesa de bar onde as pessoas prestam mais atenção ao tablet ou smartphone do que nas pessoas sentadas à sua volta."Ela" me fez questionar até mesmo a forma como uso meu smartphone, já que ele é meu faz tudo. Meu rádio-relógio, minha agenda, meu acesso a emails, chat, por onde eu digitalizo documentos, tiro fotos, chamo táxi, vejo vídeos, faço contas, leio, ouço música e rádio, vejo o estado do clima na cidade, faço anotações, faço transferências entre contas e pagamentos, gravo aulas e uso o Twitter. Ou seja, dele para o estágio de Samantha falta só uma interação por voz... espera, o Google tem busca por voz também.
Pontos positivos
Grandes atuações e belos cenáriosÓtima análise das relações humanas com a tecnologia
Pontos negativos
Meio paradão em alguns momentos
Avaliação do MS?
Um filme de grande delicadeza. Uma história de amor que parece impossível, mas exalta os sentimentos humanos e suas formas de se expressar com grande primor. O ponto alto de toda a trama é, sem dúvida, a atuação de Scarlett Johansson e toda a carga emocional que apenas sua voz foi capaz de dar. Super recomendo, portanto cinco aliens para "Ela".

Até mais!