Resenha: Piteco - Ingá, de Shiko

E fechando as graphic novels (ao menos deste primeiro pacote, porque vem mais por aí), foi lançado recentemente Piteco - Ingá, pelo talentoso Shiko, ilustrador, autor de histórias em quadrinhos, roteirista, grafiteiro e diretor de curtas-metragens brasileiro. Piteco fecha a sequência de quatro obras que repaginaram e reinventaram personagens clássicos do universo da Turma da Mônica.





A graphic novel
O povo de Lem, povo de Piteco precisa se mudar, já que seu rio secou. A viagem está simbolicamente retratada na Pedra do Ingá, que fica em Ingá, na Paraíba. A pedra exibe desenhos rupestres, sendo chamada em Tupi de "itacoatiara", que quer dizer "pedra" e kûatiara, que significa "riscada" ou "pintada". A Pedra do Ingá foi o primeiro monumento arqueológico de inscrições rupestres tombado pelo patrimônio histórico nacional, em 1944, com 24m de comprimento por 3,5m de altura e ninguém sabe o que os desenhos e inscrições intrincadas realmente querem dizer. Há quem diga que foram os fenícios e até alienígenas que as fizeram.

Capa.

Thuga, a xamã da tribo, faz o chamado ao povo, mas sabe que tem um destino a cumprir quando é sequestrada pelos Homens-Tigre, uma tribo hostil, na mesa noite em que anunciou a mudança. Utilizando os símbolos misteriosos da pedra, feitos pelos ancestrais, ela mostra que o evento já estava previsto e que, portanto, todos devem seguir o que foi escrito para eles. Ela também conta que três povos, de Lem, de Ur e os Homens-Tigre uma vez formavam um povo só.

No dia seguinte, quando a tribo já arrumou tudo para partir, Beleléu conta o que houve com Thuga a Piteco, que decide ir atrás dela. Começa então uma aventura pelo interior da Paraíba, com seres fantásticos da cultura indígena como Curupira e Boitatá, com paisagens fantásticas e um cenário de magia e encantamento de um povo espiritual. Shiko casou a cultura brasileira, seus seres imaginários mágicos, com um dos personagens mais cativantes do universo criado por Maurício de Souza em 82 páginas ricas e muito bem feitas.


Piteco foi criado em 1963 e seu nome é uma corruptela de Pithecantropus Erectus da Silva. Ele representa uma época da história humana onde os povos eram caçadores-coletores-pescadores, levando uma vida simples e cujas crenças estavam firmemente arraigadas aos fenômenos naturais. A agricultura surgiria em um próximo estágio, com o melhoramento do clima e o gradativo aquecimento que seguiu o fim da última glaciação.

Shiko pintou todas as páginas da obra em aquarela, realçando a riqueza dos traços dos personagens recriados. Vemos um Piteco como nunca imaginamos nos quadrinhos da turminha: adulto, viril, destemido, que não teme o perigo. Temos uma aventura digna de um RPG. As cenas de luta ficaram tão bem ilustradas que você se sente inserido na ação. As figuras míticas da nossa cultura surgem com alto grau de detalhes e vemos Thuga com outros olhos, como a xamã sábia de um povo e não a boba atrapalhada que não consegue laçar o Piteco.


Ficção e realidade
Para alguém como eu, que foi criada com base em Nescau e Turma da Mônica, ver os personagens mais queridos para mim em uma nova roupagem, em um novo traço, com novas aventuras, foi saborear os tempos de infância, mas com a mente adulta para digerir as informações contidas em cada uma das páginas. Shiko conseguiu trazer para Piteco - Ingá a brutalidade de um tempo pré-histórico, dominado pelos mitos, mas trouxe a suavidade e a sapiência dos povos primitivos.


Além de tudo isso, se fosse uma aventura do Piteco, já estaria muito bom, mas além disso ele colocou no interior da Paraíba, utilizando um patrimônio da nação que pouca gente conhece e valorizou a cultura nacional em uma graphic novel que vale cada página onde foi impressa. Shiko está de parabéns pelo trabalho, bem como todos os outros autores que deram uma cara nova aos personagens incríveis deste universo grandioso que é o da Turma da Mônica.


Pontos positivos
Leitura fácil, amigável
Arte fantástica
Aventura e mitos indígenas brasileiros
Pontos negativos

Closes de bunda desnecessários

Título: Piteco - Ingá
Autor: Shiko
N.º de páginas: 82
Editora: Panini
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Avaliação do MS?
As quatro graphic novels são obrigatórias na estante de qualquer fã tanto de quadrinhos como de Turma da Mônica. Shiko fez um trabalho incrível, incrível mesmo, com o Piteco e com sua turma, que parecem ser personagens diferentes mas com o mesmo nome. Não fosse tudo isso, casou estes personagens da turminha com a cultura indígena brasileira, com o nosso patrimônio, recriando um mundo primitivo, cujas características podemos apenas conjecturar. Imperdível, impecável e indispensável.


Até mais!

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