Resenha: Descobertas Perdidas, de Dick Teresi

Eu tenho esse livro faz algum tempo e nunca tinha terminado de ler. Tomei vergonha nessa cara e consegui terminá-lo. O autor explora o universo científico e tecnológico das antigas civilizações humanas e mostra que algumas descobertas tidas como recentes, na verdade, já eram bem conhecidas no passado. E sem a influência alienígena.

O livro
Dick Teresi sai da perspectiva ocidental e navega entre grandes civilizações mundiais para explicar conceitos e tecnologias que temos como modernas. É interessante notar como muitas pessoas se espantam ao saber que civilizações antigas tinham conhecimentos avançados em várias áreas da ciência ocidental, acreditando que foi a Europa a responsável por todas as nossas inovações modernas.

Resenha: Descobertas Perdidas, de Dick Teresi

Logo no começo, ele diz:
A realização científica mais importante na história ocidental é comumente atribuída a Nicolau Copérnico, que no seu leito de morte publicou De revolutionibus orbium coelestium (Sobre as revoluções dos orbes celestes). O historiador da ciência Thomas Khun deu à realização do astrônomo polonês o nome de Revolução Copernicana. Ela representou uma ruptura final com a Idade Média, um movimento da religião para a ciência, do dogma para o secularismo esclarecido. (...)

Copérnico fez mais do que mudar o centro do sistema solar da Terra para o Sol. A própria mudança é importante, mas matematicamente trivial. Outras culturas a haviam sugerido. Duzentos anos antes de Pitágoras, alguns filósofos do norte da Índia tinham compreendido que a gravitação mantinha o sistema solar unido e que, portanto, o Sol, o objeto mais volumoso, tinha de estar no seu centro.

Isso não é ensinado em nenhuma escola, já que somos todos filhos de uma colonização e de uma ciência ocidental. Se ela estabeleceu os parâmetros científicos hoje, não podemos desmerecer tudo o que foi feito antes por outros povos e que apenas em tempos mais recentes têm despertado a atenção dos estudiosos.

O autor dividiu o livro nos seguintes temas:

  • Matemática;
  • Astronomia;
  • Cosmologia;
  • Física;
  • Geologia;
  • Química;
  • Tecnologia.

As civilizações analisadas vão desde os indígenas norte-americanos aos egípcios, incas e civilizações do Pacífico. O autor analisou diversas fontes antigas, livros de estudiosos e arqueólogos e ressalva para o olhar cético e acurado cientificamente que norteou a obra que deve ser adotada também pelo leitor. Quanto mais longe no passado, mas dúbia se torna o registro, mas achei bastante coerente as observações que ele faz. O capítulo sobre a Matemática é delicioso, assim como o da Geologia. Os numerais egípcios e até maias são reproduzidos nas páginas e o autor mostra operações básicas e avançadas que estes povos faziam, mesmo desconhecendo o zero, cuja história ela também reconta.

À civilização indiana é reconhecido o uso do zero e de números negativos quase mil anos antes do uso destes na Europa. Aristóteles dava aos egípcios todo o crédito sobre o desenvolvimento da matemática antes dos gregos:

As ciências matemáticas originaram-se nos arredores do Egito, porque ali a classe sacerdotal tinha direito ao ócio.

Aristóteles

E é dos Vedas (Índia), que vem este dístico sânscrito, onde os antigos astrônomos indianos perceberam que as estrelas visíveis eram semelhantes entre si:

Há sóis em todas as direções, estando o céu noturno cheio deles.

A edição da Companhia das Letras está bem acabada e editada. Praticamente não encontrei problemas de tradução ou de digitação.

Obra e realidade
O que eu mais gosto deste livro é que ele coloca na mão do ser humano a responsabilidade por suas descobertas e pelo surgimento e uso do conhecimento do qual dispunham. O autor mostra que as antigas civilizações eram muito mais avançadas do que querem nos fazer crer os livros escolares e que não tinham contato com alienígenas, como os entusiastas do alien do passado querem nos fazer crer também.

Mesmo que boa parte desta ciência estivesse envolvida de misticismo e de religião, as descobertas destes povos não pode ser relegada a um segundo plano apenas por isso. Muita gente leva a sério o criacionismo que é completamente ridículo e não tem qualquer embasamento. Enquanto a astronomia antiga estava envolvida com o misticismo e com a astrologia, ela tinha sua fundamentação na observação do céu, no movimento de estrelas e planetas séculos antes de termos observações mais acuradas disso. Tais descobertas e inovações dos antigos povos não devem ser desconsideradas e sim creditadas a eles, cujos passos nos trouxeram até onde estamos hoje.

Dick Teresi

Dick Teresi é um escritor e editor norte-americano.

PONTOS POSITIVOS
Ciência antiga
Explicações científicas compreensíveis
Conhecimento de outros povos
PONTOS NEGATIVOS
Falta ritmo em várias partes
Um pouco chato do meio para o final

Título: Descobertas Perdidas
Título original: Lost Discoveries: The Ancient Roots of Modern Science - from the Babylonians to the Maya
Autor: Dick Teresi
Tradutora: Rosaura Eichenberg
Páginas: 440
Editora: Companhia das Letras
Onde comprar? Amazon

Avaliação do MS?
Mesmo sendo um pouco chato e técnico demais em algumas partes, ele não trata em geral de termos desconhecidos do público que curte ciência. Ao contrário, a linguagem é clara e acessível, pecando em algumas páginas por conta do ritmo adotado pelo autor. Pode ser uma característica dele mesmo. Por isso, quatro aliens para este livro.

MUITO BOM!

Até mais!

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