Um dos livros que eu queria ler de qualquer jeito este ano foi lido. Ele não está ainda disponível em português, mas pode esperar que assim que ele virar filme, alguma editora por aqui vai publicar o bendito. O tema é pertinente e se passa em um futuro bastante próximo de nós, onde algumas escolhas deverão ser feitas.
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O livro
Daqui pouco menos de 30 anos, a humanidade vai se encontrar em um dilema. O fundo histórico aponta que os diretos civis daqueles que não são mais considerados humanos foram suspensos. Transumanos e pós-humanos são violentamente combatidos pelo governo e por leis que temem as implicações destas novas habilidades providas pela tecnologia.A nanodroga Nexus é a maior implicada, pois ela permite que mentes se conectem umas com as outras e até permitam o controle da mente de outra pessoa. O Departamento de Segurança Interna e ERD são duas agências que policiam e caçam pessoas que estejam de qualquer maneira envolvidas com a produção e com a distribuição de Nexus.
Kaden Lane é doutor nesta área. Ele sonha com uma época em que as pessoas possam usar a Nexus para aprender, ensinar, evoluir, e por isso consegue fazer um upgrade na nanodroga, reprogramando sua versão original para o Nexus 5, muito mais potente. O problema é que o governo está de olho nele e manda a agente Samantha Cataranes para se infiltrar em seu círculo e apreender todo mundo. O governo teme as implicações que uma droga dessas faria e na arma em potencial que ela é para o terrorismo.
Para impedir que seus amigos parem na cadeia por conta dos estudos em cima do Nexus 5, Kade concorda em trabalhar para o ERD, pois ele não é o único a mexer com este tipo de tecnologia e na Ásia ela bomba e tem um amplo mercado e aplicações comerciais. Em uma conferência em Bangkok, na Tailândia, a agente Cataranes (ela própria melhorada por uso da tecnologia, combatendo o uso da mesma) tentam se aproximar de algumas pessoas-chave na produção e disseminação desta perigosa tecnologia usando Kade como isca.
Existe aqui um dilema filosófico muito grande, e o autor se usa do budismo para tentar ajudar Kade a se decidir. Liberar os arquivos de Nexus 5 ao mundo, mesmo sabendo que tem gente com más e segundas intenções por aí ou mantê-la guardada e restrita a pequenos círculos?
O livro tem alguns problemas. Ele é excessivamente detalhado do ponto de vista da tecnologia e alguns jargões e termos são enfadonhos para gente com pouco conhecimento a respeito. O autor também descreve as cenas de luta com muitos detalhes, tornando a leitura chata em alguns pontos. Mas o fundo político dado àquele momento específico da humanidade daqui trinta anos é muito interessante e é um debate que pode acontecer muito em breve.
Ficção e realidade
Nexus, além de ser uma nanodroga, é um sistema operacional que atua diretamente no cérebro. Se vamos um dia chegar a este ponto não é uma questão relevante e sim o que acontecerá à humanidade quando chegarmos lá, pois acredito que para algo assim acontecer é mera questão de tempo. Já temos seres humanos que tiveram um aumento na qualidade de vida por meio da tecnologia, como o uso de próteses e aparelhos de audição, por exemplo. Nexus é o passo seguinte, por tratar-se de nanotecnologia.O que o livro aborda bem é o debate sobre o uso dela. Sim, o ser humano é cretino ao ponto de usar uma droga capaz de se conectar com mentes para controlar outras pessoas para ataques terroristas, por exemplo. Mas também poderia usar Nexus para se comunicar com a mente de um autista ou de alguém com paralisia para compreender como ela pensa e age. Assim como o avião é usado para o bem, conectando pessoas e nações, aviões foram usados para bombardear cidades e países e foram jogados contra prédios em ataques terroristas.
Ou seja, o embate sobre o uso das tecnologias, ainda mais se tratando de algo que mexe diretamente na mente, será acalorado e acredito que um cenário parecido com o do livro, com perseguições e prisões de fato aconteça, enquanto do outro lado terá gente defendendo a liberdade.
Ramez Naam é um tecnólogo e escritor de ficção científica norte-americano.
Pontos positivos
Ótima análise da sociedade e da tecnologiaDebate sobre uso indevido de tecnologias
Bem escrito
Pontos negativos
Não tem em portuguêsMal uso de clichês
Alguns personagens ficam esquecidos na narrativa
Avaliação do MS?
O autor demonstra que realmente ama o assunto, mas tem momentos em que ele chega a ser chato e excessivamente detalhista. Momentos como os traumas da agente Cataranes são clichês, mas de certa forma explicam a raiva dela com relação ao uso indevido de tecnologias que criaram "zumbis", pessoas suscetíveis ao controle por oportunistas. O debate é interessante e é bem provável que esteja nas mesas dos governos daqui uns anos. Quatro aliens para Nexus.Até mais!
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