O que aconteceu com Arquivo X?

O que aconteceu com Arquivo X?

Eu acredito que Arquivo X seja uma das melhores coisas que já aconteceu na televisão nas últimas décadas. Uma série que soube encantar e assustar o público por quase dez anos, com personagens profundos e cativantes, um enredo misterioso, fantástico e científico ao mesmo tempo, tudo com uma conspiração governamental no fundo. Era para ter sido um final de tirar o fôlego, com fãs apaixonados pelo mundo inteiro. Não foi o que aconteceu.

O contexto televisivo da época
A TV estava saturada de Jornada nas Estrelas. O velho padrão de episódios sem conexão com um enredo de fundo, sempre com as bem sucedidas missões da Enterprise começavam a dar no saco da audiência mais exigente e mais nova, em busca de desafios e personagens menos clichês.

Chris Carter foi contratado pelo canal FOX para conceber uma nova série de televisão no início dos anos 90. Mulder e Scully são originalmente uma dicotomia, representando opostos que se completam, uma química que deu muito certo nas telas. O criador queria uma concepção mais sombria para sua nova série e inspirado pelas estatísticas que diziam que cerca de 4 milhões de norte-americanos acreditavam ter sido abduzidos por alienígenas e pelo caso do escândalo político de Watergate, surgia assim o episódio piloto em 1992.

Se em 1993, ano da estreia, ninguém sabia quem ou o que eram os Arquivos X, no ano seguinte a série já era um sucesso. A FOX não acreditava que um enredo misterioso, mexendo por vezes com o impossível, mas sendo tratada como ciência séria e investigativa, pudesse segurar os telespectadores por muito tempo e começou a cobrar mudanças no enredo. Cris Carter, felizmente, bateu o pé e disse que não mudaria em nada os rumos da série. A inteligência dos enredos, a atuação de David Duchovny (Fox Mulder) e Gillian Anderson (Dana Scully) e a conspiração governamental eram os temperos certos para fazer a FOX explodir de audiência.

A segunda temporada é considerada por muitos como a melhor de todas. Gillian Anderson permaneceu no elenco por insistência de Carter, mas sua gravidez no segundo ano da série causou uma mudança que seria uma marca e ditaria muitos rumos para Arquivo X nas temporadas seguintes: a abdução de Scully. Ninguém esperava que um dos protagonistas de uma série sofreria tal destino, o que certamente contribuiu para angariar mais fãs. Alguns dos episódios mais sombrios estão nela.

Na sexta temporada, porém o caldo entorna. Surgem problemas com David Duchovny, cansado de ter que viajar para Vancouver repetidas vezes para as gravações, querendo salário maior, maior versatilidade de seu personagem, Fox Mulder e nos bastidores e o principal, a mudança do centro nervoso para Los Angeles. A FOX tinha lucros quase obscenos com a série que não parava de crescer e impactar toda a cultura pop dos anos 90. Gillian Anderson aparentava cansaço também, mas não abandonou o barco em nenhum momento durante as temporadas. É a partir daqui que temos quase que todo o Arquivo X revelado, tirando que fim deu a irmã de Mulder e todos se preparavam para apenas mais uma temporada.

Não foi o que aconteceu. Com as exigências de Duchovny atendidas, a série continuou com uma alta audiência, bons episódios, mas nos bastidores, os desentendimentos com o ator continuaram, o que desgastou e desestruturou toda uma franquia de sucesso. Ele cobrou por mais tempo livre, então episódios apenas com Scully se tornaram comuns. Na oitava temporada, Mulder apareceria em apenas metade dela, já que o ator não tinha mais saco disposição, e na nona e última só uma vez. Foi então que entraram os agentes John Doggett (Robert Patrick) e Monica Reyes (Annabeth Gish), que se tivessem aparecido como coadjuvantes em qualquer outro momento da série, teriam arrasado. Especialmente Robert Patrick, que assumiu a posição cética e crítica que Scully tinha no começo da série, com Scully tentando caber no vácuo deixado por Mulder, abduzido na temporada anterior.

A partir daí, a série perdeu sua identidade. Produziu alguns bons episódios apenas pela competência de seus atores, mas no final tivemos um enredo completamente diferente do início, com uma mitologia desgastada e imponderável. Pessoalmente, culpo David Duchovny por tal perda em Arquivo X. Continuei assistindo para ver onde daria. Com o fim da nona temporada e o fechamento da série, eu realmente esperava que Arquivo X voltasse a ser manchete em 2012. O último episódio, me desculpem o spoiler, mas ele é necessário, marcava a data da invasão alienígena para 22 de dezembro de 2012, mais ou menos em concordância com calendário maia, que marcava o ~fim do mundo~ para o dia anterior. Foi uma perda de oportunidade como eu nunca vi na história de uma série de televisão.

O fiasco
Eu Quero Acreditar (2008), o segundo longa-metragem da franquia me decepcionou por não contar o que houve com o filho de Scully depois da adoção, em que pé ficou a invasão alienígena, o que aconteceu com Doggett e Reyes e por aí vai. Se fosse um episódio comum de Arquivo X ele até passaria, mas a aparente estagnação após 9 anos de sucesso e muitos prêmios parecem ter deixado de lado o potencial que ainda existia para que apenas o totalmente desnecessário fosse produzido. Imagine um filme de Arquivo X, marcado para estrear no dia 21 de dezembro, contando se a raça humana sobreviveria ou não à invasão ou se Scully e Mulder ainda teriam condições de salvar o mundo.

Eu realmente esperei por estas revelações, mas Cris Carter e a FOX simplesmente dormiram no ponto e perderam a chance de salvar do fiasco algo tão bom. Além de terem deixado o trabalho dos dois personagens, Mulder e Scully, incompleto, porque no final das contas, eles sofreram o cão por 9 anos para no fim não impedirem nada. Só para relembrar o rol de desgraças:

  • Mulder perde pai assassinado, tendo sido suspeito do caso, a mãe se mata e ele descobre que a sua irmã desapareceu sem deixar vestígios depois da abdução, desenvolve uma doença no cérebro intratável, é abduzido, morre, volta à vida, é demitido do FBI e é exilado;
  • Scully perde a irmã assassinada com um tiro na cabeça que devia ser sua, é abduzida, fica estéril, desenvolve um câncer horrível e incurável, descobre ter uma filha meio alien meio humana que ela nunca pariu, tem um filho por um milagre que depois é dado à adoção;

Esqueci de algo?

Neste ponto, também podemos questionar a indústria cinematográfica, que financia fiascos e filmes horríveis, mas desconsidera a mitologia cativante de Arquivo X, cuja marca alcançou milhões de telespectadores que ainda aguardam por um final e marcou toda uma década. Se vamos ter ou não um terceiro filme, não sei, mas sinto que ficamos órfãos e mal assistidos por não haver um fim. Assim como aconteceu com Stargate Atlantis, que terminou sem ter um fechamento, cujo filme foi engavetado quase que definitivamente. É um período negro para as séries de ficção científica na televisão. Vamos apenas aguardar.

Até mais!

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Concordo com você. Muita coisa ficou no ar e também acho que a 10ª temporada traz um Mulder imbecializado, patético. Vimos ele sarcástico, bem humorado e casual nas temporadas anteriores, mas o que nos apresentaram agora, é ridiculo. Perderam a chance de pegar a cancha do 22/12/2012 e fazer um roteiro astronomicamente criativo. Sumara Ramalho

    ResponderExcluir
  2. Eu acho que o que falta é os dois ficarem juntos de uma vez por todas com William, e o resto que se exploda. kkkkkkkk Excelente postagem.

    ResponderExcluir
  3. Eita!
    Até que fim alguém pensa igual a mim!!! Só mesmo sendo muito fã da série aguenta tanto pouco caso que o Chris Carter têm conosco.
    Ele (enrola) e não faz nada de novo no atual Arquivo X.
    GILLIAN ANDERSON ESTÁ CERTA EM DEIXAR ESSE BARCO FURADO.
    O DUCHOVNY ERA TÃO CHEIO DE EXIGÊNCIAS E AGORA É TODO CHEIO DE AMOR PELA SÉRIE?
    O jeito é rever o bom e velho arquivo X, porque esse atual é muito ruim!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

ANTES DE COMENTAR:

Comentários anônimos, com Desconhecido ou Unknown no lugar do nome, em caixa alta, incompreensíveis ou com ofensas serão excluídos.

O mesmo vale para comentários:

- ofensivos e com ameaças;
- preconceituosos;
- misóginos;
- homo/lesbo/bi/transfóbicos;
- com palavrões e palavras de baixo calão;
- reaças.

A área de comentários não é a casa da mãe Joana, então tenha respeito, especialmente se for discordar do coleguinha. A autora não se responsabiliza por opiniões emitidas nos comentários. Essas opiniões não refletem necessariamente as da autoria do blog.

Form for Contact Page (Do not remove)