O livro de hoje não é bem uma ficção científica. Mas tem os elementos de uma e é um livro nacional, escrito por um dos autores mais importantes desta nova geração de escritores brazucas, puxando para o lado da ficção fantástica, que tem ganhado cada vez mais o público e mostrando todo o poder da nossa literatura. Ainda existe preconceito, admito que muitas obras nacionais não são boas de fato, mas não podemos colocar todos no mesmo balaio e baixar o padrão para todos.
O livro
O mundo inteiro foi dominado pelos vampiros. Até onde se sabe, afinal não existe meios de saber como andam os países quando a energia, as comunicações, tudo caiu. Mas no Brasil, a situação degringolou rápido e as pessoas se viram obrigadas a deixar as grandes cidades, como São Paulo, para viverem longe dos ninhos de vampiros, que vivem principalmente nos hospitais, para onde as pessoas foram levadas logo no início do fim.
Se os Vampiros são gatos, os Humanos são ratos e os Bentos são os Cães.
Com comida à vontade, os vampiros dominam o que restou das grandes cidades. Na assim chamada Noite Maldita, os seres humanos perceberam que não tinham mais o controle de suas vidas. Cães que antes tinham donos que os alimentavam, voltaram para seu estado selvagem e percorrem as ruas abandonadas em gangues. Enquanto isso, fora dos centros urbanos abandonados há trinta anos, as pessoas temem a noite e vivem com medo atrás de suas muralhas.
Depois da chamada Noite Maldita, a vida dos humanos mudou para sempre. Para escapar da ameaça dos vampiros, eles passaram a viver em fortificações isoladas, protegidas por altos muros e distantes das antigas cidades, que foram tomadas pelos monstros e transformadas em verdadeiros covis. A comunicação entre essas fortalezas só acontece por meio de mensageiros, já que as redes foram destruídas e, misteriosamente, até as ondas de rádio desapareceram da física após a catástrofe. Nesse novo mundo, as mulheres já não engravidam mais e as doenças simplesmente deixaram de existir.
Ao longo dos trinta anos que se seguiram, começaram a despertar os chamados adormecidos. Entre eles, surgem alguns diferentes, conhecidos como “bentos”. À primeira vista, um bento é apenas uma pessoa comum, alguém que tinha uma vida normal antes da tragédia. Mas, quando sente a presença de um vampiro prestes a atacar, algo dentro dele se acende: ele entra em fúria e luta até o fim, só parando quando destrói todos os inimigos ao redor ou quando cai morto.
Existe ainda uma antiga profecia: se 30 bentos fossem reunidos, quatro milagres seriam desencadeados, guiados pela liderança do trigésimo. E é justamente esse último escolhido que assume o papel de protagonista da história.
Depois de três décadas sem a presença humana constante, o Brasil foi completamente engolido pela Mata Atlântica. O país se transformou em uma imensa floresta, cortada apenas por algumas estradas por onde os humanos sobreviventes ousam passar exclusivamente durante o dia. Nesse cenário, as pessoas se mantêm unidas em fortalezas, trabalhando lado a lado na luta contra os vampiros.
O mais impressionante é a maneira como Vianco conduz a narrativa. Ele tem um talento incrível de nos fazer mergulhar de cabeça na trama e sentir na pele o que os personagens estão vivendo. O protagonista, Lucas, é o 30º bento da profecia e um herói fascinante: uma mistura de guerreiro com padre, ainda que não pertença à Igreja Católica, assume um papel parecido, chegando até a preparar água benta para enfrentar os vampiros.
Abusando dos coloquialismos e da geografia e mitologia brasileira, o livro é uma grande adição à biblioteca de qualquer fã de fantasia.
Obra e realidade
É um exercício interessante, embora um tanto melancólico, imaginar a civilização terminada, abandonando os centros urbanos, fugindo de uma ameaça que não pode combater. A primeira vez que li Bento, essa visão de uma São Paulo entregue aos vampiros e à decadência foi muito impactante. As obras de Vianco, para quem mora em São Paulo, são muito visuais, pois os eventos, as batalhas, ocorrem nos nossos locais familiares de passagem e nisso, o autor tem crédito. O ambiente urbano abandonado é perigoso, pois a decadência de nossas construções é uma armadilha para os incautos.
André Ferreira da Silva, conhecido pelo pseudônimo André Vianco, é um romancista, roteirista e diretor de cinema e de televisão brasileiro.
PONTOS POSITIVOS
Distopia com fantasia
Ótimas ambientações
Ritmo intenso
PONTOS NEGATIVOS
Começo devagar
Excesso de descrições
Distopia com fantasia
Ótimas ambientações
Ritmo intenso
PONTOS NEGATIVOS
Começo devagar
Excesso de descrições
Avaliação do MS?
O livro demora para empolgar. Vianco exagera nas palavras e nas frases curtas no início e pode chatear o leitor. Logo depois dessa parte, o livro empolga. Religiosidade, terror e sangue estão nas páginas seguintes, com uma distopia intensa cravada na cidade de São Paulo, o novo palco para as distopias nacionais. O livro merece quatro aliens pela ousadia do tema.
Até mais!
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