Ficção científica e design

Ficção científica é tida como um gênero mundano na literatura, apesar de ter mais espaço no cinema e na televisão. Ainda assim, ele é visto às vezes como uma fantasia espacial, como um gênero de nerds e geeks, mas apesar de toda essa classificação, da visão arrojada da arquitetura, da ciência e do espaço, nenhuma outra área se aproxima tanto da ficção científica quanto o design.

carro conceito da Audi Eu Robô
Carro conceito da Audi do filme Eu, Robô.

Uma das coisas mais bacanas do universo scifi é a possibilidade de fazer releituras da sociedade contemporânea - ou do passado, no caso das novelas steampunk - e apontar tendências para o futuro. Ela apresenta uma visão distorcida ou uma caricatura do mundo presente. Assim como a FC, o design antecipa tendências, as mudanças ao redor do mundo, indo ao extremo com bastante facilidade, em uma agradável relação entre função, forma, apelo visual, psicologia, comportamento. Ambos possuem questões fundamentais a responder:

  • qual será a relação da humanidade com as mudanças tecnológicas?
  • qual será o impacto disso na sociedade?
  • como será seu comportamento e como serão as mudanças psicológicas em cima destas mudanças?


Os três momentos do design e da ficção científica
O grande primeiro encontro entre design e FC acontece com a antecipação e a inovação de ambos. Richard Buckminster Fuller (1895-1983) foi um dos pioneiros na questão da antecipação e inovação dos ambientes. Para ele, deveria haver uma nova ordem no modo como o ser humano se relacionava com os recursos e com os materiais.

Ficção científica é um termo criado em 1929 por Hugo Gernsback, um luxemburguês vivendo nos Estados Unidos, que em 1939 em Nova York na Feira Mundial, apresentou a Futurama, um modelo gigante de uma cidade futurista criada pelo designer Norman Bel Geddes. Futurama foi exibida no pavilhão da General Motors e foi um marco tanto para o design quanto para a ficção científica, por mostrar como que a tecnologia pode estar a serviço da humanidade de maneira funcional e agradável. Cidades futuristas são sempre marca registrada tanto nos clássicos como nas novas obras de scifi.

Espectadores admiram a Futurama, em 1939, Nova York.

A feira era o espaço ideal para designers mostrarem o que a indústria antecipava para a sociedade, fosse no espaço privado, público e especialmente no ambiente urbano, já que as cidades, especialmente Nova York, cresciam de maneira vertiginosa e começava a se acentuar a troca do campo pelas cidades como padrão de vida.

Detalhe da cidade futurista. Nova York, 1939
Detalhe da cidade futurista. Nova York, 1939.

O segundo momento para design e ficção científica ocorre no pós-Segunda Guerra. As inovações tecnológicas que aconteceram com as pesquisas para armas de guerra trouxe a conquista do espaço para a realidade. Havia de fato a possibilidade de encontrarmos novos lugares, alienígenas, de poder nos estabelecer na Lua e em Marte e a partir daí poder seguir para o espaço profundo. Essa mudança de visão, saindo do provinciano e partindo para o futuro inspirou designers pelo mundo. Uma das visões deste mundo otimista deu origem à casa do Futuro, também chamada de UFO home, originalmente criada pelo arquiteto finlandês Matti Suuronen. Feita de plástico, um símbolo da nova era, ela retoma a questão da inovação e do uso de novos materiais levantada por Richard Buckminster Fuller.

UFO home, de Matti Suuronen, 1968-1969. Plástico, vidro e metal.

O terceiro grande momento se inspirou na física quântica, na ciência experimental. Ele traz uma visão de mundo que faz possível a existência de novas dimensões, em especial com a adição do tempo e a possibilidade de viajar por ele. Universos paralelos podem parecer estranhos e implausíveis, mas as equações mostram que eles existem. Wormholes, teletransporte, buracos negros, todos eles estão alinhados com a visão de mundo atual. Desta maneira, o design aponta para novas superfícies, formas ousadas e refletivas, numa maneira de trazer para o comum e para o cotidiano esta visão arrojada.

Design do filme Tron, feita pela Du Pont. Superfícies polidas e refletivas.

É uma tendência deste novo universo trazido pela física e pelas imagens espetaculares trazidas do espaço pelas missões de telescópios, robôs e sondas de mexer com a mente dos espectadores. É o real sendo transportado, sendo modificado pela mente, como se fosse plástico, maleável, mutável às mais variadas vontades do ser humano. O design desta nova era quer mexer com a realidade e fazer com que fique uma dúvida sobre o que é ou não real.

Qual será o quarto momento de encontro entre design e ficção científica? O que podemos esperar para os próximos anos? Já que ambos são arrojados e visionários, não podemos fazer previsões e sim aguardar pelo novo momento.

O que você acha? É uma visão bem vinda? O que teremos pela frente? Deixe seu comentário.

Até mais!

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