O medo do futuro distópico

O medo do futuro distópico.

É uma noite calma, Léo está em casa sentado na seu sofá, comendo um lanche, zapeando os canais. Seu cachorro dorme tranquilamente na almofada ao seu lado, enquanto Léo procura algo para assistir entre os vários canais do pacote pago de TV à cabo. Mas a luz acaba. Tudo fica escuro. Pensando que é apenas uma oscilação normal da eletricidade, Léo não se move. Aperta alguns canais a esmo no controle remoto, mas a TV e toda a luz da sala estão apagadas. Preocupado que o apagão continua mesmo depois de um minuto, Léo imagina que seja um problema na rede do bairro. Do décimo andar, ele consegue ter uma visão ampla da cidade e para sua surpresa, ao olhar pela janela, tudo está na mais completa escuridão. Algumas luzes ocasionais são vistas nos céus de aviões e helicópteros e na rua abaixo de lanterna confusas de pessoas que foram pegas pelo blecaute.

Se passa uma hora. Léo decide ir para cama, já que a noite acabou. Mas de manhã, seu rádio-relógio está apagado. A luz ainda não voltou? Descer dez lances de escada não é algo que o deixe animado e ele decide ficar no apartamento. O dia passa lento. Ele pega um livro, senta no sofá, lê, mas fica o tempo todo de olho no celular. Nem sinal de vida, pois não há sinal da rede de celulares. Ele lembra então que os orelhões e as linhas de telefone tradicionais não precisam de energia para funcionar. O telefone da cozinha é desse tipo. Ao tirar do gancho e começar a discar, não há linha.

O dia passa, a noite chega, a manhã vem, e nenhum sinal de energia elétrica. O medo da população aumenta, a violência também. A abstinência de internet, celulares, computadores, videogames e televisão se instala. No final da semana, os postos de gasolina ficam vazios. Os mercados são saqueados, enquanto as cidades estão no escuro. Léo vê o mundo enlouquecer conforme a eletricidade não volta, com pessoas desesperadas por notícias, sem conseguir cozinhar, sem encontrar seu lugar no mundo. Os locais com geradores duram pouco mais, mas por fim também se apagam e as pessoas vagam pelas ruas, sem saber o que aconteceu, sem saber o que vai acontecer, perdidas.




O pequeno conto acima foi para ilustrar o que poderia acontecer a um indivíduo se um futuro distópico se aproximasse para a civilização logo nos primeiros momentos. Não estamos isentos do perigo. A queda das redes de eletricidade pode nos levar à Idade Média em questão de meses. Mesmo com geradores, o combustível também vai acabar. A distribuição de comida e remédios depende essencialmente do transporte por rodas. Como ficaríamos nesta situação?

Eu sempre fico com uma sensação muito ruim quando assisto a qualquer filme distópico. Acho que o filme A Estrada, baseado no livro de Cormac McCarthy, foi o pior deles, pois mostra a raça humana reduzida a canibais sem o menor julgamento ou piedade. Matam mulheres e crianças sem remorso e as usam para se alimentar depois que um colapso ambiental não bem explicado destrói a civilização. Sobram apenas as estradas e pessoas vagando procurando abrigo e comida. Poeira, destruição, morte e escombros por todo o lado.

O medo de um futuro desses é natural. De uma maneira boa ou má, depende da visão, a sociedade hoje consegue fornecer um nível de conforto para a maior parte de seus cidadãos que nunca antes a civilização teve. Temos remédios que curam doenças simples, mas que antes eram letais, temos telefonia, internet, entretenimento, mesmo que uma parcela significativa da população ainda não tenha acesso à muitas dessas amenidades.

Temer o futuro é algo que acompanha a humanidade há muito tempo. Desde o armagedon, até a vinda do anticristo, o holocausto nuclear, todos eles apontam para o medo talvez irracional de que o mundo acabe. Deixar os entes queridos, deixar de existir, ou deixar de lado suas riquezas materiais, estes cenários apocalípticos e pós-apocalípticos espreitam a cada esquina quando a mídia noticia mudanças climáticas, guerras e doenças. Mas que mundo é esse? É o planeta em si, ou nossa rede familiar, nossos amigos, nossa casa e nossos confortos?

Não cabe à ninguém dizer quando o mundo vai acabar. Pois um dia ele de fato vai, quando o nosso Sol virar uma gigante vermelha, o nosso planeta não será mais capaz de sustentar vida. Como este é um evento muito além das perspectivas da civilização, é bem provável que até lá a raça humana não exista mais ou tenha evoluído de forma e encontrado uma maneira de sobreviver longe daqui. A questão é que mesmo que um apocalipse, ou um fim do mundo sejam eventos previstos, não temos como prever com precisão o que vai acontecer amanhã, ano que vem, daqui cem anos. A raça humana é muito numerosa e nossa estrutura pode ser frágil, mas também muito diversa. Só o fato de haver muita gente já é um sinal de sobrevivência, ao menos a curto e médio prazo. Acreditar que ela vai acabar de uma hora para outra é também desacreditar na resistência do ser humano e na sua capacidade de resolver problemas.

E você, o que acha? Deixe seu comentário. Até mais!


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