Imagine um mundo em que todas as principais funções da sociedade sejam administradas com fins lucrativos por empresas privadas. As escolas são administradas por multinacionais. As empresas de segurança privada substituíram as forças policiais. E a maior parte da infraestrutura de grande porte está nas mãos de uma pequena elite plutocrática. A justiça é aplicada por tribunais corporativos obscuros, acessíveis apenas aos ricos, que podem facilmente escapar do alcance dos sistemas judiciais nacionais limitados. Os pobres, por outro lado, quase não têm recurso contra a poderosa vontade da remota elite corporativa enquanto são expulsos de suas terras e forçados a uma penúria ainda maior.
Isso soa como uma ficção científica distópica. Mas não. É muito próximo da realidade em que vivemos. O poder das corporações atingiu um nível nunca antes visto na história da humanidade, muitas vezes superando o poder dos estados. Hoje, das 100 entidades econômicas mais ricas do mundo, 69 agora são megacorporações e apenas 31 são países. Nesse ritmo, dentro de uma geração estaremos vivendo em um mundo totalmente dominado por corporações gigantes.
À medida que as multinacionais dominam cada vez mais áreas tradicionalmente consideradas como domínio primário do Estado, devemos ter medo. Devemos ficar apavorados. Enquanto eles privatizam tudo, desde educação e saúde até controles de fronteira e prisões, escondem seus lucros em contas offshore secretas. E embora tenham acesso inigualável aos tomadores de decisão, evitam processos democráticos ao estabelecer tribunais secretos que lhes permitem contornar todos os sistemas judiciais aplicáveis às pessoas. Enquanto isso, sua razão de ser - o crescimento perpétuo, a máxima capitalista - em um mundo finito, está causando destruição ambiental e impulsionando a mudança climática como nunca antes na história do planeta. Histórias de corporações que violam direitos humanos básicos são vistas com muita frequência em nossos jornais diários. Nem precisa ir para a ficção científica para ver isso.
O poder desta empresas é tanto que elas conseguiram colocar na cabeça do público que não existe outra maneira de administrar uma sociedade. Estamos todos familiarizados em ouvir sobre a ameaça de “perda de investimento corporativo” ou empresas “levando seus negócios para outro lugar”, como se a tarefa número um do governo fosse atrair investimento corporativo. É essa agenda corporativa que permeia as instituições governantes da economia global, como a Organização Mundial do Comércio e o Fundo Monetário Internacional, cujas políticas e operações têm dado mais importância aos 'direitos' das grandes empresas do que aos direitos e necessidades das pessoas e o ambiente.
A batalha contra o poder corporativo tem muitas frentes e é preciso que as pessoas tenham consciência de que seus direitos estão sendo vilipendiados em nome do lucro e da exploração. É preciso desenvolver formas alternativas de produzir e distribuir os bens e serviços de que tanto precisamos. Precisamos minar a noção de que apenas grandes corporações podem fazer a economia e a sociedade “funcionarem”. Soberania alimentar e democracia energética são apenas dois exemplos de como é possível construir uma economia sem corporações. Mas enquanto as corporações desempenharem um papel importante em nossa economia, precisamos encontrar maneiras de controlar suas atividades e prevenir abusos.
Não temos alternativa a não ser lutar contra esse sistema da maneira que nos cabe. A distopia sempre fará alguém lucrar e não podemos permitir que isso aconteça.
Até mais.
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