Resenha: Star Maker, de Olaf Stapledon

Olaf Stapledon é considerado um dos patriarcas da ficção científica. Ainda assim ele é bem desconhecido no Brasil. Filósofo de formação, ele encontrou na ficção científica uma maneira de trabalhar com conceitos filosósficos para o público em geral sem precisar recorrer a tratados e compêndios. Aqui temos uma longa jornada pelo espaço, pelas estrelas e por civilizações alienígenas em busca do criador, o Criador de Estrelas.

O livro
O narrador deste livro é um homem não identificado em nenhum momento, mas que começa a perambular pelas colinas perto de casa enquanto pensa em seu casamento. Olhando para o céu noturno, ele começa a pensar sobre o universo quando é transportado para fora de seu corpo por meios inexplicáveis. Sua consciência separada do corpo é capaz de viajar pelo espaço, para explorar outros planetas, ver o nascimento de estrelas e nebulosas.

Resenha: Star Maker, de Olaf Stapledon

Esta consciência encontra civilizações extraterrestres e ela se permite investigar esses povos, conhecer e comparar suas diferenças com a civilização humana. Como Stapledon era um filósofo, ele disserta várias vezes sobre temas ainda muito atuais, como a ascensão do fascismo, faz críticas ao consumismo, e observa como aqueles indivíduos agiam uns com os outros e com sua natureza.

O livro vai aumentando de escopo conforme a mente daquele homem sem nome do começo se funde com um habitante de um dos planetas que ele visita. Anos se passam e ele se revela para esse habitante, que aceita ter sua mente fundida para que pudessem viajar juntos pelo universo. Assim, essa mente dupla viaja para outros planetas, fundindo-se a mais mentes no caminho conforme encontram outras civilizações.

Conforme fazem isso, essa mente coletiva acaba ganhando um conhecimento cada vez maior sobre o universo, seu nascimento e seu possível fim. E surge então a dúvida sobre quem fez o universo, qual o motivo de sua existência e por que existimos. Talvez algumas das perguntas mais antigas e espinhosas do ser humano, Stapledon as usa como uma forma de levar seus leitores a se questionar sobre tais dúvidas tão primordiais. Mas será que devemos saber a resposta?

Nenhum anjo visitante, ou explorador de outro planeta poderia ter adivinhado que este orbe insípido fervilhava de vermes, com bestas incipientemente angelicais que dominavam o mundo e se autotorturavam.

(Tradução livre)

Olaf era um filósofo e não um escritor, então ele não se atém a muitos detalhes, nem desenvolve personagens. Isso pode acabar desanimando aqueles que esperam uma história mais dinâmica, com heróis e vilões. Conforme a escala do livro aumenta, as descrições e os detalhes sobre os alienígenas que a mente coletiva encontram diminuem. É preciso um grande exercício de abstração para conseguir imaginar certas coisas que Stapledon descreve aqui.

Para um livro de 1937, ele é surpreendentemente moderno em algumas coisas. É possível ver certas tecnologias como energia gerada por marés e tablets em alguns dos povos descobertos pela mente coletiva. Em outras, a ciência dele está datada, o que é natural, afinal ela avançou muito nas décadas seguintes à publicação. É uma pena que não tenha esse livro em português, pois acredito que Olaf é o tipo de autor que nada fica para trás de outros contemporâneos como Arthur C. Clarke, autor que se inspirou em suas obras.

Obra e realidade
Jorge Luis Borges descreveu Star Maker como um "romance prodigioso". Não é um livro longo, nem tem uma linguagem arcaica ou indecifrável, mas é sem dúvida um livro trabalhoso. Com pouca caracterização e pouco enredo, Star Maker é mais um tratado filosófico na tradição de Utopia, de Thomas More, onde o foco do autor está em expôr e debater ideias, não em entreter ou desenvolver um enredo.

Professor de psicologia e filosofia na Universidade de Liverpool e autor de várias obras filosóficas ficcionais e não ficcionais, Stapledon teria ficado surpreso ao ver seu trabalho rotulado como ficção científica, talvez porque na época o gênero era sinônimo de pulp fictions e aventuras de homens sarados no espaço. Na verdade, ele parece ter arrumado briga com ninguém menos que C.S. Lewis, um cristão devoto, pela forma como descreveu o Criador.

Mais uma vez eu mergulhei no oceano do espaço, indo para a próxima estrela. Mais uma vez decepcionado.

(Tradução livre)

Olaf Stapledon

Olaf Stapledon foi um escritor, filósofo e professor universitário britânico. Veterano da Primeira Guerra Mundial, onde foi objetor de consciência, era um grande crítico da Segunda Guerra e da ascensão do nazi-fascismo na Europa.

PONTOS POSITIVOS
Viagem interestelar
Bem escrito
Aliens
PONTOS NEGATIVOS

Leitura flui devagar


Título: Star Maker
Autor: Olaf Stapledon
Editora: Gateway
Páginas: 352
Ano de lançamento: 2018
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Comecei sem saber bem o que esperar e terminei feliz e inspirada. Não vou dizer que a leitura será fácil, pois este é um livro que não segue o estilo de livros de aventuras ou com enredos mais tradicionais. Mais um tratado do que uma obra de ficção, Star Maker vai deixar você pensativo por dias. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais! ✰

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