Um dos grandes clássicos de nossa literatura ganhou uma imperdível edição em quadrinhos! O aclamado romance Incidente em Antares, de Érico Veríssimo, já figura entre os clássicos brasileiros e agora recebe uma inédita graphic novel feita com muito esmero e que preserva o tom de sátira política do livro original. Pegue sua passagem e prepare-se para embarcar para a cidade gaúcha de Antares!
O livro
Na fictícia cidade gaúcha de Antares, os ânimos andam exaltados. Tudo porque uma greve geral foi declarada na cidade. Indústria, comércio, transportes, tudo, até mesmo os coveiros cruzaram os braços, até que suas reivindicações sejam atendidas. A elite política e social de Antares pede ajuda até ao governador, mas não há o que se fazer. Enquanto discutem ações necessárias com os ricos locais, a vida segue seu ritmo e sete habitantes de Antares acabam morrendo, entre eles dona Quitéria, poderosa e rica mulher, conhecida de muitos por ali.
Que é o povo? Um monstro com muitas cabeças, mas sem miolos. E esse bicho tem memória curta.
Com a cidade inteira em greve, surge um grande problema: quem vai enterrar os sete falecidos? Os coveiros também pararam de trabalhar, ninguém quer trair o movimento grevista e, no fim, as pessoas não têm outra alternativa a não ser deixar os caixões em frente ao cemitério durante a noite. A convulsão social aumenta quando o caixão de Dona Quitéria é impedido de adentrar o cemitério e ela acaba se juntando aos caixões mais simples em frente ao portal principal. Mas corre à boca pequena que Dona Quitéria queria ser enterrada com suas joias... Ao abrirem o caixão da falecida, a surpresa: ela abre os olhos e desata a falar.
Se os trabalhadores de Antares entraram em greve, será que o céu também entrou? Porque os outros falecidos do dia também se levantam e saem de seus caixões! São eles: Barcelona, o sapateiro anarquista, vítima de um infarto; Cícero Branco, o influente advogado vitimado por um AVC; João Paz, comunista torturado até a morte pela polícia e teve a causa da morte forjada pelo médico local; Pudim de Cachaça, bêbado envenenado pela mulher; Menandro Olinda, o genial pianista, gravemente deprimido, que se suicidou, cortando os pulsos e; Erotildes, prostituta, vítima de tuberculose e que não foi atendida a tempo pelos médicos do hospital local.
Com uma narrativa repleta de humor ácido e chacota escancarada do período ditatorial brasileiro, Erico escreveu um romance que retrata fielmente a verve da época. Uma elite rica, corrupta, que vê o povo como inimigo, massa de manobra ou a carne mais barata do mercado. O que ninguém esperava é que os mortos levantassem de seus caixões e começassem a entregar os podres desta pacata cidadezinha, tão pequena que nem consta no mapa.
Pense a respeito: a pessoa já está morta, seu corpo está se desfazendo, o que ela tem a temer dos vivos? Diferente dos zumbis de George Romero, porém, estes mortos-vivos possuem suas faculdades mentais bem preservadas, enquanto seus corpos estão apodrecendo, fedendo e vertendo líquidos desagradáveis conforme andam pela cidade, visitando os vivos, consolando os parentes, atormentando aqueles que querem se aproveitar da situação. Eu na mesma posição também sairia falando o que ninguém gostaria que eu contasse.
Com uma arte vívida e com cores que saltam das páginas, o trabalho dos autores em adaptar quase 500 páginas de romance não deve ter sido fácil, mas mesmo condensado, o trabalho é perfeitamente compreensível para aqueles que, como eu, não conhecem o trabalho original a fundo. A relação corrupta entre prefeito, médico, coronéis e donos de empresa estão muito bem documentadas na graphic novel, mostrando um Brasil que a gente conhece bem demais. O choque entre a política tradicional e outras vertentes, como o comunismo e o anarquismo, rende deliciosos diálogos, salpicado de perdigotos irados de quem está se sentindo ameaçado pelos eventos estranhos.
Cada um dos mortos-vivos têm seu momento de contar sua história e desnudar os podres da política de Antares. Principalmente Erotildes, antes uma moça bela e disputada pelos coronéis locais, mas que se vê doente e desamparada quando a beleza e a juventude vão embora. Dona Quitéria se vê às voltas com sua egoísta família, que só pensa em suas joias, dinheiro e propriedades. Já o advogado Cícero Branco decide agir como o porta-voz dos mortos e muitos ali temem o que ele pode contar. Um dos personagens mais trágicos é João Paz, que sofreu torturas indizíveis ao morrer nas mãos da polícia e deixou uma esposa viúva e grávida. João e Erotildes são os personagens mais sofridos dessa cidade e a graphic novel conseguiu transportar esse sofrimento sem mostrar nenhuma cena de violência.
Com posfácio de Sérgio Rodrigues, que nos contextualiza quando ao romance original e esta adaptação, esta edição tem menos de 200 páginas, mas é rica em conteúdo, em personagens, em discussões e muita sátira política. Não encontrei problemas de revisão ou de diagramação. A edição vem em capa comum e papel branco encorpado no miolo.
Obra e realidade
Incidente em Antares foi o último livro de Erico Verissimo, que faleceu em 1975. Abusando da ironia e da crítica social, Veríssimo analisa a sociedade brasileira por meio da fictícia Antares, numa época em que a ditadura militar fazia vítimas diárias e censurava a arte. Adaptada para a televisão em 1994 em uma minissérie em 12 capítulos, a série contou com alguns dos maiores atores da nossa geração nos papéis dos defuntos, como Fernanda Montenegro, Marília Pêra, Elias Gleizer e Gianfrancesco Guarnieri.É interessante apontar que a população de Antares recebeu os mortos de maneira bem variada. Alguns ficaram obviamente assustados por verem mortos andando e falando, enquanto outros os recebem bem. A amiga de Erotildes, a prostituta Rosinha, o alcoólatra Alambique, parceiro de bebedeira do Pudim de Cachaça e o padre tachado de comunista, Pedro-Paulo, foram acolhedores e quiseram ouvir o que eles tinham a dizer. Foram os oligarcas da cidade que tentaram calar os mortos.

Erico Lopes Veríssimo foi um escritor gaúcho e um dos escritores mais populares da literatura brasileira.
Olavo Costa é um ilustrador e quadrinista brasileiro.
Rafael Scavone é historiador de formação e roteirista de quadrinhos gaúcho.
Mariane Gusmão é uma ilustradora e colorista brasileira.
PONTOS POSITIVOS
Clássico da literatura
Bem escrito
Cores e arte
PONTOS NEGATIVOS
Preço
Acaba logo!
Clássico da literatura
Bem escrito
Cores e arte
PONTOS NEGATIVOS
Preço
Acaba logo!
Avaliação do MS?
Que graphic novel incrível! Não tive contato com a obra original e conheço apenas a minissérie da TV, mas acho que o livro de Veríssimo pode ser uma leitura a se fazer em tempos vindouros. Amei a adaptação e o trabalho dos autores. Cinco aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!
Até mais! ⚰️
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