Resenha: Invocação da Bruxa, de Fritz Leiber

A premissa desse livro me atraiu de imediato. Publicado originalmente em 1953 e preso aos ditames de sua época, o livro discute religião e ciência, em uma tentativa racional de compreender a magia invocada por desejos mesquinhos e picuinhas. Escrito por um dos grandes autores do gênero, o livro acompanha um pacato professor universitário que se descobre preso a uma trama de feitiçaria e inveja.

O livro
Norman Saylor é um cético professor universitário de classe média. Inebriado por seu sucesso acadêmico e meio à toa em casa, ele decide olhar os pertences pessoais da esposa, Tansy. Para sua surpresa, ele descobre patuás e itens de feitiçaria, como terra de cemitério. Especializado em cultura e folclore, ele reconhece o material como sendo parte de uma cultura de bruxaria e magia. Apenas não entende como Tansy pode se envolver com tudo aquilo.

Resenha: Invocação da Bruxa, de Fritz Leiber

Estou avisando, Norm, não serei responsável por nada que possa vir a acontecer se me obrigar a tirar essas proteções.

Ao confrontar a esposa, ela admite que vinha fazendo os patuás e colocando proteções em sua vida, o que explica o bom sucesso que ele vinha tendo na carreira. Mas ela reluta em se desfazer daquilo tudo que cultivou por tanto tempo. As coisas não eram assim tão simples e Norman via tudo aquilo como pura superstição besta. E assim pediu que Tansy queimasse tudo na lareira. Ela reluta, é claro. Tenta fazê-lo entender que se não fossem suas proteções, ele poderia muito bem estar morto. Tudo em vão e ela desiste. Queima tudo o que encontram. E é a partir daí que as coisas se desenrolam com rapidez.

É difícil convencer Norman de que algo está acontecendo nos bastidores e que ele nunca percebeu. Para um sujeito que sempre se orgulhou de ser a voz da razão e da objetividade, ele fica perplexo com a bruxaria de Tansy e o que ele considera como sendo algo primitivo. Aí aqui já começam alguns dos problemas do livro que eu até entendo como sendo fruto de sua época. Norman acha as mulheres mais emocionais, enquanto defende que os homens são mais racionais e que é típico ver mulheres exagerando como Tansy fez.

Mesmo quando ele percebe que a magia de fato existe, ele não deixa de lado essa bravata machista. Mesmo quando as coisas dão muito errado para eles, é Norman o astro e protagonista. Isso vindo de um livro que se chama Invocação da Bruxa e que deveria ter uma bruxa como protagonista, me pareceu meio esquisito. Assim, é fácil notar como o livro é fruto de seu tempo. Publicado originalmente em 1943, ele foi revisado e depois republicado como livro em 1953. E a mim parece ter envelhecido mal.

A maneira como foi escrito é mais erudita e árida do que eu gostaria. Como Norman é o protagonista, vivemos em sua cabeça o tempo todo e sempre ouvimos o seu lado da história. O ponto de vista de Tansy não aparece aqui, exceto quando ela se descabela e chora. Por ter sido escrito assim, nós temos longos monólogos internos de Norm, tentando racionalizar a situação toda. E nessas horas o livro pareceu se arrastar. Quando passa da metade, então, foi difícil continuar e ele pareceu ter 900 páginas e não menos de 200.

A ideia em si é bem legal. Mas toda vez em que alguma ameaça surge, quando sinistro está acontecendo, Leiber para tudo e começa um monólogo do professor de sua época de estudante ou de quando estava pesquisando algo em algum lugar... Olha, não pensei que levaria uma semana para terminar um livro tão pequeno. Uma pena mesmo, porque a edição é muito bonita e a premissa é bacana também.

A tradução foi de Eduardo Castro e está muito boa. A revisão deixa um pouquinho a desejar em alguns momentos, mas não atrapalha o bom andamento da leitura.

Obra e realidade
É interessante pensar o que as donas de casa faziam enquanto seus maridos estavam trabalhando. Será que trocavam receitas, jogavam cartas ou passeavam pela cidade? Será que não estariam confeccionando patuás e jogando feitiços para garantir o sucesso de seus maridos e, por consequência, o delas também? Por isso que digo que o livro é um fruto de seu tempo. Se estivesse lendo isso na época em que foi publicado, ele justificaria seu sucesso.

Acredita-se que ele tenha inspirado três filmes: Weird Woman (1944), Burn Witch Burn (1962), and Witches' Brew (1980).

Fritz Leiber

Fritz Leiber foi um escritor de ficção especulativa norte-americano. Ele faleceu em 1992.

PONTOS POSITIVOS
Bruxaria
Tansy

PONTOS NEGATIVOS
Personagens rasos
Norman
Narrativa monótona

Título: Invocação da Bruxa
Título original: Conjure Wife
Autor: Fritz Leiber
Tradutor: Eduardo Castro
Editora: DarkSide
Ano: 2025
Páginas: 192
Onde comprar: na Amazon

Avaliação do MS?
Fiquei com um gosto ruim quando terminei essa leitura. O livro deixa aquela sensação de que algo interessante demais ficou de fora da narrativa e que alguns pontos poderiam ter sido melhor trabalhados, o que levaria a um grande livro. Gostaria que o livro tivesse me agradado mais. Três aliens para Invocação da Bruxa.


Até mais! 🧙‍♀️

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