Resenha: Lois, a bruxa, de Elizabeth Gaskell

Este livro é breve mas poderoso. Escrito por Elizabeth Gaskell, mesma autora de Norte e Sul, voltamos ao tempo da caça às bruxas, onde qualquer rumor, fofoca e invencionice de alguém seria o suficiente para mandar uma mulher para a fogueira ou para a forca.

O livro
Lois Barclay perdeu os pais e se vê sozinha na Inglaterra. Seu prometido não pode se casar com ela e seu único parente vivo é um tio que há muito tempo se afastou da família e foi para a nova colônia britânica do outro lado do Atlântico. Tudo o que ela carrega consigo é uma carta e a esperança de uma vida nova em um lugar diferente, longe de tudo o que já conheceu e amou.

Resenha: Lois, a bruxa, de Elizabeth Gaskell

As Escrituras Sagradas falam de bruxas e feiticeiros, e do poder do Mal nos lugares desertos. E até mesmo no velho país, nós ouvimos falar daqueles que venderam a alma para sempre em troca de um pouco de poder que podem ter por alguns anos na terra.

Nesta terra estranha, estão os puritanos, que odeiam tudo o que vem da Inglaterra, que veem como símbolo de perseguição religiosa. Estabelecidos na Colônia da Baía de Massachusetts, a partir de 1629, os puritanos achavam que a igreja da Inglaterra ainda era católica demais e menos protestante, e a queriam reformada, o que não era permitido em solo inglês. O capitão do navio que levou Lois à colônia comenta que os puritanos rezam o dia inteiro, ajoelhando-se e orando a qualquer momento.

A chegada na casa do tio e sua família não foi das melhores. Seu tio está morrendo, a tia não recebeu a carta da cunhada e recebe a sobrinha muito mal. Gaskell nos mostra um ambiente austero, insensível, com uma densa nuvem de palavras não ditas em todos os ambientes. Lois se sentia sozinha e tentava se conectar com as primas, o que também não dava certo na maior parte das vezes.

O interessante de Lois é que ela também acredita na bruxaria, pois foi ensinada desta maneira, mas ela se pergunta se aquela histeria, aquele medo constante condiz com a realidade. Há momentos em que ela teme Nattee, a velha criada indígena da casa, por conta das histórias tradicionais que contava de seu povo e que os puritanos viam tudo como obra do diabo. Como lutar contra o contexto no qual se nasceu e se criou?

O medo e as perseguições se concentravam nas pregações e orações dos pastores. Era o suficiente para incutir o medo até no mais íntegro indivíduo e movidos pela superstição, surgiram os mais cruéis perseguidores do período, que agiram sem piedade contra qualquer um que eles acreditassem estar associado ao diabo. Inocente e sem entender direito os costumes puritanos, Lois comenta sobre as inocentes adivinhações que as moças faziam na Inglaterra na esperança de descobrir quem seriam seus futuros maridos. Imagina o escândalo da família puritana?

Ah, por que os pais tiveram que morre, deixando-a sozinha para encontrar um lar naquela costa cruel da Nova Inglaterra, onde ninguém jamais a quisera, ninguém jamais se importara com ela e onde agora a haviam condenado a uma morte vergonhosa como bruxa?

Lois, a bruxa, é uma história triste sobre o fanatismo e a histeria e de como pessoas podiam ser acusadas por qualquer motivo, até mesmo por ter um gato, e eram enviadas para a morte. Uma história sobre sonhos desfeitos, sobre mentira e dissimulação. É sobre ouvir o que se quer ouvir e sobre acreditar em qualquer sinal como sendo um símbolo do mal.

A tradução de Natalie Gerhardt, Gabriela Araujo, Dandara Morena e Karoline Melo está perfeita. O livro não tem problemas de revisão ou de diagramação e o projeto gráfico está lindíssimo. Capa dura e papel pólen amarelo com fitilho marca-página.

Obra e realidade
A história sobre perseguição às bruxas de Salem é bastante conhecida. Os julgamentos das bruxas de Salém foram um período de grande histeria e perseguição na colônia de Massachusetts, entre 1692 e 1693, onde mais de 200 pessoas foram acusadas de bruxaria. Mulheres, homens e até mesmo animais, foram julgados e condenados, com alguns sendo executados por enforcamento. O caso é relembrado e se tornou emblemático de como a fé e a desinformação podem levar a perseguições injustas e a um clima de medo e paranoia.

Infelizmente é esse o ambiente que Lois encontra e que Gaskell utiliza para criticar as perseguições, principalmente às mulheres. Publicado pela primeira vez em 1861, Lois, a Bruxa já foi escolhida como uma das melhores histórias sobre caça às bruxas e se ergue na literatura como uma crítica brutal à histeria em Salem. Gaskell, muito à frente de seu tempo, consegue tecer uma trama que leva o leitor aos locais mais obscuros desse triste episódio da história.

Elizabeth Gaskell

Elizabeth Gaskell foi uma escritora e contista britânica durante a Era vitoriana, autora de vários livros de sucesso.


PONTOS POSITIVOS
Lois
Discussão sobre as bruxas de Salém
Suspense
PONTOS NEGATIVOS

Fanatismo

Título: Lois, a bruxa
Título original: Lois, the witch
Autora: Elizabeth Gaskell
Tradutoras: Natalie Gerhardt, Gabriela Araujo, Dandara Morena, Karoline Melo
Editora: Wish
Ano de lançamento: 2024
Páginas: 160
Onde comprar: na Amazon ou na loja da DarkSide com um brinde exclusivo!

Avaliação do MS?
Comecei a ler sem saber exatamente o que esperar, achando que por ser um livro clássico, a linguagem talvez me repelisse. Mas estava enganada! Devorei em menos de um dia, lamentando não ter lido esse livro antes. Se você curte livros de suspense, com personagens fortes e críticas sociais, então se joga nesse aqui. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!

Muito bom!

Até mais! 🥀


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