Resenha: O Homem Que Caiu na Terra, de Walter Tevis

Impossível dissociar a imagem de Bowie do protagonista do livro, já que ele estrelou o filme de mesmo nome. Um alienígena com propósitos ocultos vem para a Terra, observador e com um objetivo. O que pode acontecer com a humanidade ao entrar em contato com um ser alienígena?


O livro
Acompanhamos um homem chegando a uma cidade pequena. Ele precisa de suprimentos e acaba vendendo algumas pedras preciosas para isso. Seu nome é Thomas Jerome Newton e ele vem do planeta Anthea. Inicialmente, não temos bem certeza a respeito de sua missão ou o que ele quer com suas ações, mas ele logo trata de ficar milionário e rápido. Alguma coisa está acontecendo e Thomas precisa agir, assim ele entrega várias patentes de tecnologias muito avançadas para a época. E claro, o dinheiro começa a entrar logo depois.

Resenha: O Homem Que Caiu na Terra, de Walter Tevis

Junto do advogado Farnsworth e sua empregada Betty Jo, Thomas se torna um recluso milionário, que acaba atraindo a atenção de alguns curiosos, como o Dr. Bryce, intrigado pela tecnologia fotográfica que tinha em mãos e com a figura do milionário. Seu isolamento tem um propósito, que é seguir com os planos originais que o enviaram à Terra.

Thomas aprendeu a se relacionar com humanos e a falar o idioma por meio de programas de rádio e televisão que eram captados no planeta. Apesar de ser um ambiente bem rico de representações culturais, a ideia que filmes, novelas e jornais entregam a respeito da humanidade podem ser bem erradas. Pegue as novelas da Globo, por exemplo, que mostra um Brasil branco, de elite, com pobreza glamourizada e imagine o que um antheano poderia achar. E ele sente isso quando começa a conviver com humanos no dia a dia, vendo de perto alguns aspectos que nunca veria nas transmissões.

Então, olhando para as paredes cinzentas e discretas daquele quarto, para sua decoração vulgar, essa cultura berrante, vocal, sem raízes e sensual, esse agregado de macacos espertos, incomodados e egoístas - vulgares e indiferentes enquanto sua civilização, assim como a ponte de Londres e todas as outras, estava caindo, estava caindo.

Página 60

Amargurado pela saudade de casa e da família, Thomas se afunda na solidão e na bebida. As pessoas o acham um excêntrico, certamente um homem frágil, apesar da altura elevada, de quem se sabe muito pouco. Ele pensa com frequência em sua missão e na situação do seu povo em Anthea. Mas também pensa no impacto que seu povo teria na humanidade e em todas as transformações que eles poderiam suscitar na sociedade.

Thomas é, certamente, o mais intrigante personagem do livro. É bem interessante notar que um alienígena conseguiu ter características mais humanas do que muitos humanos por aí, apesar de sua anatomia ser diferente - gerando uma das melhores cenas descritas nele. Sobre suas costas recai o destino de todo um planeta. Isso é mais do que qualquer pessoa poderia aguentar. Anthea sucumbiu após o uso indiscriminado de recursos, de guerras sangrentas, caminhando para a extinção de seu povo. A angústia gerada por essa constante lembrança é que o motiva.

O livro é muito bem acabado, capa dura, bem diagramado e com o Bowie na capa e a brochura com um laranja berrante e neon. Tem alguns erros de digitação aqui e ali. É um livro pequeno, dá para ler em um dia apenas.


Ficção e realidade
O que é ser humano não é uma pergunta fácil de se fazer. Ainda mais quando comparado a um alienígena inteligente e consciente, o que nos define? Um dos méritos de obras que envolvem alienígenas é justamente o questionamento sobre a importância da humanidade. Transportamos para o alienígena a posição de "outro", que geralmente simboliza minorias e grupos marginalizados.

O que é mais curioso na figura de Thomas é que ele tem uma preocupação com a humanidade maior que a maioria dos seres humanos teria. Se achamos que ele pode ser meio egoísta no começo, ao longo da narrativa ele vai se preocupando com o impacto de sua revelação, se ela acontecer, o que a chegada de refugiados intergalácticos poderia causar no planeta. Alguém deveria assumir a humanidade para ela parar de fazer burrada? Ou deveríamos seguir nosso curso?

Walter Tevis

Walter Tevis foi um escritor norte-americano, que teve três de seus seis livros adaptados para o cinema. Serviu na Marinha durante a Segunda Guerra Mundial e se formou na Universidade do Kentycky em Literatura Inglesa.

Pontos positivos
Alienígena
Foi adaptado para o cinema
Análise sobre a humanidade
Pontos negativos
Final em aberto
Devagar em algumas partes

Título: O Homem Que Caiu na Terra
Título original: The Man Who Fell to Earth
Autor: Walter Tevis
Tradutora: Taissa Reis
Editora: DarkSide
Páginas: 224
Ano de lançamento: 2016
Onde comprar: Amazon

Avaliação do MS?
Algumas pessoas que esperam duplo twists carpados podem se decepcionar com o livro, mas o que importa mesmo aqui é acompanhar a jornada de Thomas. É sua vida que interessa, sua visão sobre si e sobre a humanidade e mesmo na sua amargura é possível ter grandes reflexões sobre nossa natureza e nosso futuro. Escrito durante a Guerra Fria, ele guarda um certo pessimismo presente da época e uma visão de futuro bastante peculiar. Quatro aliens para o livro e uma sugestão para você ler também!


Até mais!

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